EVELYN DE MORGAN

EVELYN DE MORGAN

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

PHILIP ROTH

Combatemos nossa superficialidade, nossa falta de profundidade, de modo a tentarmos nos aproximar dos outros livres de expectativas irreais, sem uma sobrecarga de preconceitos, esperanças, arrogâncias, da fora menos parecida com o avanço de um tanque, sem canhão, sem metralhadoras e sem chapas de aço de quinze centímetros de espessura; a gente se aproxima das pessoas da forma menos ameaçadora, de pés descalços, em vez de vir rasgando o capim com as esteiras do trator, recebe o que elas dizem com a mente aberta, como iguais, de homem para homem, dizíamos antigamente, e mesmo assim a gente sempre acaba entendendo mal as pessoas. A gente também pode possuir o cérebro de um tanque. Já estamos entendendo errado as pessoas antes mesmo de encontrá-las, enquanto ainda estamos prevendo o que vai acontecer; entendemos errado enquanto estamos diante delas; e depois vamos para casa e contamos a alguém sobre o encontro, e de novo entendemos tudo errado.
Uma vez que a mesma coisa acontece com os outros em relação a nós, tudo vira uma ilusão desnorteante, destituída de qualquer percepção, uma espantosa farsa de incompreensões. E com tudo isso, o que é que vamos fazer a respeito dessa questão profundamente significativa que são as outras pessoas, que se vêem drenadas de toda a significação que julgamos ser a delase adquirem, em vez disso, um significado burlesco, o que vamos fazer se estamos tão mal equipados para distinguir os movimentos interiores e os propósitos invisíveis uns dos outros ? Será que todo mundo devia trancar a porta de casa e ficar quieto, isolado, como fazem os escritores solitários, em uma cela a prova de som. Invocando as pessoas por meio de palavras e depois sugerindo que essas pessoas feitas de palavras estão mais próximas das coisas reais do que as pessoas reais que deturpamos todos os dias com a nossa ignorância ? Persiste o fato de que entender direito as pessoas não é uma coisa própria da vida, nem um pouco, viver é entender as pessoas.
Viver é entender as pessoas errado, entendê-las errado, errado e errado, para depois reconsiderando tudo cuidadosamente, entender mais uma vez as pessoas errado. É assim que sabemos que estamos vivos: estando errados. Talvez a melhor coisa fosse esquecer se estamos certos ou errados a respeito das pessoas e simplesmente ir vivendo do jeito que der. Mas se você é capaz de fazer isso... bem, boa sorte.


( Philiph Roth - do livro Pastoral Americana )

RAINER MARIA RILKE

Procure entrar em si mesmo. Investigue o motivo que o manda escrever;

examine se estende suas raízes pelos recantos mais profundos

de sua alma;

confesse a si mesmo: morreria, se lhe fosse vedado escrever?

Isto acima de tudo: pergunte a si mesmo na hora mais tranqüila de sua noite:

"Sou mesmo forçado a escrever?" Escave dentro de si uma resposta profunda.

Se for afirmativa, se puder contestar àquela pergunta

severa por um forte e simples "sou",

então construa a sua vida de acordo com esta necessidade.

Sua vida, até em sua hora mais

indiferente e anódina, deverá tornar-se o sinal e o testemunho

de tal pressão.

Aproxime-se então da natureza. Depois procure, como se fosse

o primeiro homem,

a dizer o que vê, vive, ama e perde. (...)



RAINER MARIA RILKE

OSCAR WILDE

Encontro, algures na minha natureza, alguma coisa que me diz

que não há nada no mundo que seja desprovido de sentido,

e muito menos o sofrimento. Essa qualquer coisa, escondida no

mais fundo de mim, como um tesouro num campo, é a humildade.

É a última coisa que me resta, e a melhor (...).

Ela veio-me de dentro de mim mesmo e sei que veio no bom momento.

Não teria podido vir mais cedo nem mais tarde.

Se alguém me tivesse falado dela, tê-la-ia rejeitado.

Se ma tivessem oferecido, tê-la-ia rejeitado (...).

É a única coisa que contém os elementos da vida, de uma vida nova (...).

Entre todas as coisas ela é a mais estranha (...).

É somente quando perdemos todas as coisas

que sabemos que a possuímos.


(Oscar Wilde)

J. D. SALINGER

Descobrirás que não és a primeira pessoa a quem
o comportamento humano alguma vez perturbou,

assustou ou mesmo enojou. Não estás de modo

nenhum sózinho nesse ponto, e isto deve servir-te

de estímulo e consolo. Muitos homens se sentiram

tão perturbados como tu estás agora. Felizmente,

alguns deles, serviram-se de seu talento para

deixarem memórias dessa decepção.

Hás-de aprender

com eles... se quiseres aprender. Tal como um dia, se

tiveres alguma coisa para dar, alguém há-de aprender

contigo. É um belo tratado de reciprocidade.



(J.D.SALINGER)

terça-feira, 27 de novembro de 2007

SOMOS HUMANOS

Não somos seres com essências idealizadas e etéreas,

mas seres autenticamente biológicos, moldados pela

evolução, distorcidos e torcidos pela própria vida.

Trazemos dentro de nós toda a humanidade, isso

significa que, interiormente, somos santos e criminosos,

embora em graus variáveis. Somos capazes de ter

compaixão, de criar empatia e de manifestarmos nossa

indignação perante as injustiças. Nossa generosidade

abre pausas para o egoísmo e nosso sofrimento afetivo

às vezes provoca em nós o desejo de vingança.

Somos humanos, enfim - um "caldeirão efervescente"

de muitos sentimentos contraditórios. Talvez seja por

isso que os personagens literários de maior impacto e

autenticidade, sejam aqueles que apresentam qualidades

e falhas humanas, capazes de promover uma identificação

sólida com o leitor. Se o personagem dor correto demais

e sem contradições, ele os parecerá artificial.

YEDRA

MARIO BENEDETTI

... cada um é de um só lugar na terra e ali deve pagar

sua cota. Eu sou daqui. Esse que passa, esse é meu

semelhante. Ainda ignora que eu existo, mas um dia

me verá de frente, de perfil ou de costas, e terá a

sensação de que entre nós existe algo secreto, um

recôndito laço que nos une, que nos dá forças para

nos entendermos. Ou talvez esse dia nunca chegue...

talvez ele não atente nunca para este ar que nos faz

próximos, que nos emparelha, que nos comunica.

Mas não importa; seja como for, é meu semelhante.


(MARIO BENEDETTI)

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

VIVER O PRESENTE

Viver preso ao passado pode ser uma forma

dolorosa de povoar o presente de rancores e

mágoas. Assim como instalar-se idilicamente no

futuro, é viver sobre hipóteses provavelmente

irrealizáveis. Então por quê não aprendemos a

viver no presente? Talvez porque viver no presente

exija concentração e somos dispersivos. Ou talvez

porque para viver o presente teríamos que ser

racionais e práticos, e somos afetivos e nostálgicos.

O presente nos intimida porque temos que ser

rápidos, temos que efetuar escolhas, apostar,

correr riscos... O que se viveu pode nos ajudar,

como também pode nos confundir nas decisões

presentes. O futuro não existe como tempo: não

passa de um ponto de interrogação contemplando

as reticências do passado. Quem sabe não seja por

causa de tudo isso que não saibamos viver com

alegria o tempo presente... O presente é o tempo

definitivo, onde se realizam as escolhas, que serão

ao mesmo tempo passado e futuro. O presente é

a nossa tragédia.


(YEDRA)

AMIGOS - OSCAR WILDE

Escolho meus amigos não pela pele ou outro
arquétipo qualquer, mas pela pupila.
Tem que ter brilho questionador e tonalidade
inquietante. A mim não interessam os bons de
espírito nem os maus de hábitos.

Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo.
Deles não quero resposta, quero meu avesso.
Que me tragam dúvidas e angústias e

aguentem o que há de pior em mim. Para isso,
só sendo louco. Quero-os santos, para que não
duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela cara lavada e pela
alma exposta. Não quero só o ombro ou o colo,
quero também sua maior alegria. Amigo que não ri
junto não sabe sofrer junto.

Meus amigos são todos assim:metade bobeira ,
metade seriedade. Não queor risos previsíveis
nem choros piedosos. Quero amigos sérios, daqueles
que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem,
mas lutam para que a fantasia não desapareça.
Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os
metade infância e outra metade velhice. Crianças,
para que não esqueçam o valor do vento no rosto e
velhos, para que nunca tenham pressa.

Tenho amigos para saber quem eu sou.
Pois os vendo loucos e santos, bobos e sérios,
crianças e velhos, nunca me esquecerei de que
normalidade é uma ilusão imbecil e estéril.


(OSCAR WILDE)

O TEMPO E O VENTO

Toda a gente tinha achado estranho a maneira como

o capitão Rodrigo Cambará entrara na vida de Santa

Fé. Um dia chegou a cavalo, vindo ninguém sabia de

onde, com o chapéu de barbicacho puxado para a

nuca, a bela cabeça de macho altivamente erguida,

e aquele seu olhar de gavião que irritava e ao

mesmo tempo fascinava as pessoas... Montava um

alazão, trazia bombachas claras, botas com chilenas

de prata e o busto musculoso apertado num dolmã

militar azul, com gola vermelha e botões de metal...


(O Tempo e o Vento - Érico Veríssimo)

OS BONS E OS MAUS

A humanidade não deve ser separada entre bons e maus.

Esse dualismo conduz à discriminação, porque os bons

olharão os maus com superioridade, e os maus olharão

os bons com náusea. O que existe em cada ser humano é

uma mistura de bem e de mal; o mal prevalecendo quando

o bem é negligenciado. O que se altera e se intercala são

os atos dentro dessas duas condições. Ocorre dialética,

e não dualismo. O ser humano é dialético: vive a contradição

entre o bem e o mal durante toda a sua existência, através

de suas escolhas. Ele desafia a si mesmo. Tem potencial

para a grandeza e para o trágico. Sartre dizia que o homem

"está condenado a ser livre" - porque ele está condenado

a superar-se. Através da qualidade oposta, ele supera um

defeito. Pura dialética. Assim, ele consegue extrair liberdade

da dependência, audácia da timidez, entusiasmo do silêncio,

criatividade da inércia e extrair vida superando o tédio.

(YEDRA)

INSATISFAÇÕES PESSOAIS

Quando Thoreau afirmou qua a maior parte de

nós vive em silencioso desespero, não poderia ter

adivinhado como se tornaria mais intenso este

desespero. As pessoas dizem que querem ser

felizes; mas a verdadeira felicidade parece ser

o sonho impossível. O que estamos fazendo de

errado? Por que tantas pessoas estão insatisfeitas

de tantas maneiras? Será que esperamos coisas

demais? Ou não conseguimos nem ter as que

merecemos? Existe um jeito de ser feliz sózinho,

sem precisar dos outros? Talvez ninguém possa

nos dar felicidade se primeiro não a criarmos

dentro de nós mesmos. Precisamos aprender

a ser nós mesmos nosso melhor amigo. Se

conseguirmos aprender isso, teremos um

amigo para toda a vida.


(YEDRA)

SALMAN RUSHDIE

Durante muito tempo acreditei que em toda geração

há algumas pessoas felizardas ou malditas, que

simplesmente nascem sem vínculos. Que vivem semi

soltas no mundo. No entanto, há os convencionais que

temem a mudança, a incerteza, os que valorizam a

estabilidade, defendem as raízes e fingem se motivar

por lealdades, escondendo suas identidades secretas

no fundo da fachada satisfeita. Mas a verdade vaza em nossos

sonhos, neles flutuamos, voamos, fugimos.

A arte revela o vagabundo, o assassino, o ladrão, o

mutante, o renegado, o delinquente, o pecador, o fugitivo,

o viajante. Se não reconhecêssemos neles nossas necessidades

menos atendidas, não os teríamos inventado insistentemente,

em todas as línguas, em todos os tempos.

E esta espécie de gente que brinca de gostar de ficar em casa, que

se prende com vínculos, na realidade são sonhadores frustrados, que

chamam o oposto deles de loucos e anti-sociais.


(SALMAN RUSHDIE)

ESTILO PESSOAL

Todos nós com nossas experiências e nossas idéias,

criamos uma reputação, uma imagem, que se configura

num estilo pessoal. Nossa maneira de ser é uma forma

de auto-imagem que vendemos ao mundo. Através dela

criamos nossas relações e conexões sociais. O estilo é

a marca da individualidade, impressa em nosso

comportamento. Por isso se nota claramente, que as

pessoas sem estilo pessoal se perdem no todo, são

aquelas pessoas que falam o que todos falam, possuem

as mesmas idéias, alimentam os mesmos preconceitos,

realizam as mesmas coisas e sonham os mesmos sonhos.

Enfim, se contentam em andar pelos caminhos convencionais

e limitados pelo medo de ousar, não desenvolvem um

estilo pessoal.

(YEDRA)

VIRGINIA WOOLF

... num dia de verão, as ondas se juntam, balançam

e tombam; e o mundo inteiro parece dizer: "Isso é tudo",

cada vez mais forte, até que o coração, no corpo

estendido sob o sol da praia, também diz: "Isso é tudo".

"Não mais temas", diz o coração, confiando a sua carga

a algum mar que suspira coletivamente por todas as

dores, e recomeça, ergue-se, tomba. E o corpo sozinho

ouve a abelha que passa; a onda que se quebra; o cão,

lá longe, ladrando, ladrando...



(VIRGINIA WOOLF)

RUBEM ALVES

... há uma filosofia alegre, que nos faz levitar. Para

fazer levitar a filosofia não deve nascer da cabeça,

e sim das entranhas: o corpo estremece, ri, espanta-se,

tranquliza-se, assombra-se. O filosofiar amansa as

palavras. Também serve par pôr luz no escuro: quando

a luz se acende e o medo vai embora. Filosofia é

contafeitiço ... e há tantos feiticeiros e feiticeiras soltos

por aí, tão bonitos : é só acreditar para ficar enfeitiçado.

A filosofia nos torna desconfiados e quem desconfia

não fica enfeitiçado.


(RUBEM ALVES)

O MITO DA CAVERNA

Na alegoria do Mito da Caverna, Platão, numa linguagem

figurada, nos mostra uma imagem perfeita da atitude

filosófica. A caverna simboliza o estado do homem o

significado real das coisas, por falta de reflexão. Os

prisioneiros da caverna estavam cegos para a verdadeira

realidade. Acontece o mesmo conosco às vezes. Há

quem acredite que o mar é verde e o céu é azul. Ou

quando nos iludimso com as imagens de um filme se

movendo na tela. Até quando nos preocupamos porque

o tempo passa, sem nos darmos conta que somos nós

que passamos por ele. Vivenciamos a mesma sensação

de ofuscamento dos prisioneiros da Caverna de Platão,

quando a inteligência não consegue perceber a verdade

e admitimos a aparência como sendo a verdade. A atitude

filosófica contudo, é sempre despertada por uma necessidade.

Sem precisar de respostas dificilmente seremos compelidos

à reflexão.


(YEDRA)

terça-feira, 11 de setembro de 2007

DIZER VERDADES

Dizer o que pensamos é uma forma de liberdade; mas

para exercer essa liberdade certas regras se impõem.

Apesar de Camus ter afirmado que " liberdade é o

direito de não mentir", não somos livres a ponto de

sairmos por aí declarando "nossas verdades"

destemida e impunimente. Temos que levar em

consideração certas noções de hora e lugar, de

finalidade, além da vulnerabilidade dos ouvidos que

irão receber nossas "livres palavras". Gosto de uma

afirmação sobre a liberdade de expressão que diz:

" os que defendem a liberdade de expressão são

geralmente aqueles que querem abusar dele." E

"despejar" verdades ostensivamente é um grande

abuso.

(YEDRA)

A VIDA

É interessante perceber que espécie de conotação

cega a maioria das pessoas dá à vida. Muitas não

conseguem enxergar a verdade de que a vida é

mesmo difícil. A queixa persistente - ruidosa ou

silenciosa - em relação aos problemas existenciais,

obrigações intrínsecas e dificuldades de percurso,

demonstra a crença de que o "normal" seria a vida

ser mais fácil. Como disse Benjamin Franklin: " aquilo

que fere, também instrui". É por isso que as pessoas

mais sábias, aprendem a não temer e sim acolher os

contratempos, e, acima de tudo, conviver com a dor

dos problemas. A dor pode ser vivenciada de forma

produtiva, partindo da premissa de que " uma vez

conhecido o pior, estamos livres para ver o que há

de bom mais além."

(YEDRA)

JORGE LUÍS BORGES

Já somos o esquecimento que seremos,

A poeira elementar que nos ignora,

Que não foi Adão e que é agora

Todos os homens.

Somos apenas duas metades:

A do princípio e a do término.

Não sou o insensato que se aferra

Ao mágico som de seu próprio nome.

Penso com esperança naquele homem que

Não saberá o que fui sobre a terra.

Abaixo do indiferente azul do céu,

Esta meditação é um consolo.



(JORGE LUÍS BORGES)

FORÇA CRIADORA

PESSOAS - V. WOOLF

... quantas pessoas diferentes não haverá,

todas morando dentro da mesma pessoa?

Daí as mudanças assombrosas que vemos em

nossos amigos... esses eus de que somos constituídos,

sobrepostos uns aos outros como pratos empilhados

têm suas predileções, simpatias, pequenos códigos e

direitos próprios ... e cada pessoa pode multiplicar com

a sua experiência as diferentes condições que impõem

os seus diferentes eus - e algumas, de tão ridículas,

nem podem ser impressas em letra de forma.


(VIRGÍNIA WOOLF)

ENVELHECER - V.WOOLF

A compensação de a gente envelhecer era simplesmente

essa: que as paixões permanecem tão fortes como

antes, mas adquire-se - afinal! - o poder que dá o

supremo sabor à existência: oo poder de nos

apoderarmos da experiência e volteá-la, lentamente,

em plena luz... O passado nos enriquece e a

experiência, e o ter amado uma ou duas vezes,

pois se adquire o poder, que falta à juventude, de

ir direto ao fim, de fazer o que bem se entende, sem

dar importância aos outros, e de mover-se pelo

mundo sem grandes expectativas.


(VIRGÍNIA WOOLF)

SENSIBILIDADE

Existe em todos nós um potencial para a sensibilidade,

e mesmo que não possamos ser todos poetas, nos

tornamos poetas quando lemos um poema bem, porque

o sentimento já está dentro de nós e só é despertado

pelas palavras, que pairam flutuantes sobre a nossa

sensibilidade. " A poesia é uma espécie de música

insondável que nos leva à borda do infinito"; ela nos

deixa por momentos em estado de encantamento.

Os gregos, nas sua fábulas, falavam das harmonias

das esferas; era o sentido dado por eles à perfeita

estrutura de todas as coisas: tudo tendo a alma de

uma perfeita música. O poeta talvez seja aquele ser

especial que consegue pensar profundamente e "ver

musicalmente" as coisas que pensa.

(YEDRA)

SENSIBILIDADE

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

TESE AMOROSA

Uma das teses amorosas mais fantasiosas que

existem é a dos opostos que dão certo. Não

existe uma maneira mais eficaz de conseguir

uma relação frustrante do que dar seu braço

a uma pessoa diferente, na essência de você.

Os dois devem amar básicamente as mesmas

coisas. Ter afinados seus sentimentos e

pensamentos. Pensar que quando duas pessoas

diferentes se juntam, uma vai acabar mudando

a outra, é de uma ingenuidade comovente. Isto

está muito longe de vir a acontecer. E toda a

expectativa criada neste sentido só gera

infelicidade para ambos.

(YEDRA)

AS 4 CONDIÇÕES

De todas as condições que vivemos, quatro delas

são as mais essenciais: amor, aventura, segurança

e reconhecimento. Sendo assim, no ato de viver

temos que acumular experiências que preencham

convenientemente nosso lado mental, pessoal e

social. O amor aplaca a nossa solidão, as buscas

ou a aventura satisfaz a nossa curiosidade e nós

dá objetivos e sonhos. A segurança nos situa na

realidade, nos proporcionando bem-estar. E o

reconhecimento alimenta a nossa auto-estima e

identifica o nosso valor. Por isso, sempre que nos

sentimos incompletos, deve estar havendo

deficiência ou insatisfação em uma destas quatro

condições.

(YEDRA)

A ASA DO OUTRO

Todos parecem considerar sua vida afetiva

como inteiramente pessoal. Mas a sociologia

afirma que não é bem assim. O meio em que

se vive exerce grande influência em nossas

emoções. Bergson observou que não teríamos

o sentido do cômico, se nos sentíssemos

isolados. Porque o riso tem necessidade de um

eco. E isso se aplica às outras emoções: estados

afetivos fortes raramente são encontrados em

pessoas que se isolam. A solidão empobrece a

expressão dos nossos sentimentos. E essa

participação dos outros em nossas emoções é

uma necessidade nossa: nossos sentimentos

precisam ser compartilhados e aprovados.

Mesmo os sentimentos de aversão e hostilidade

seguem a mesma regra. Nossos rancores e ódios

têm necessidade de serem confirmados pelo

julgamento alheio. Expomos nossos ódios e

mágoas a ouvintes próximos e criamos um

elo ideal com eles, onde reina o consenso

de afetividades. Precisamos de aliados até

para odiar.


(YEDRA)

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

NIETZSCHE

Não quero ver em minhas montanhas

acres verdades impacientes.

Dourada de sorrisos, de mim se acerca

hoje a vedade, adoçada de sol,

bronzeada de amor.

Hoje estendo as mãos

às seduções do acaso,

bastante esperto para guiar, tapear

o acaso.

Minha alma insaciável com sua língua,

já lambeu em todas as coisas,

boas e ruins, em cada profundeza

já mergulhou.

(NIETZSCHE)

VIRGÍNIA WOOLF

"Descobri que precisava travar uma batalha com um

determinado fantasma. E o fantasma era uma mulher...




Ela era intensamente simpática. Maravilhosamente encantadora.

Totalmente abnegada. Ela se distinguia nas difíceis tarefas

da vida em família.

sua constituição era tal, que ela nunca tinha um pensamento

ou desejos próprios, preferindo antes apoiar os pensamentos

e desejos dos outros. Acima de tudo, ela era, é desnecessário

dizer, pura...

E agia como se estivesse guiando a minha caneta.

Relato agora a única ação que me levou ter um apreço por mim mesma ...

Voltei-me para ela e a agarrei pela garganta. Apertei com toda minha força,

até matá-la. Minha defesa, caso fosse levada a um tribunal, seria a de que

agi em defesa própria. Se eu não a matasse, ela me mataria.”



(VIRGINIA WOOLF)

AMIZADE

A amizade
é o mais belo afluente do amor,
ela ajuda a resolver,
com paciência,
as complicadas equações
da convivência humana.

A amizade
é tão forte quanto o amor,
ela educa o amor,
sinalizando o caminho da coerência,
apontando as veredas da justiça,
controlando os excessos da paixão.
A amizade
é um forte elo que une pessoas
na corrente do querer.
Amizade
é cola divina,
cola demais,
pode doer.

A amizade
tem muito mais juízo que o amor,
quando ele se esgota
e cisma de ir embora,
ela se propõe a ficar,
vigiando o sentimento que sobrou.

IVONE BOECHAT

OTÁVIO PAZ

A vida é um contínuo risco, viver é se expor.

A abstinência do ermitão se resolve no delírio

solitário; a fuga dos amantes, em morte cruel.

Outras paixões podem nos seduzir e arrebatar.

Umas superiores, como o amor a Deus, ao saber

e a uma causa; outras inferiores, como o amor ao

dinheiro ou ao poder. Em nenhum desses casos

desaparece o risco inerente à vida: o místico pode

descobrir que corria atrás de uma quimera, o saber

não nos defende contra a decepção do conhecimento,

o poder não salva da traição. A glória é um emblema

equivocado e o esquecimento é mais forte do que

todas as reputações. E as desgraças do amor são as

desgraças da vida. Mas apesar de todos os males e

desgraças, sempre buscamos querer e ser queridos.

Porque o amor é o mais próximo, nesta terra, à

beatitude dos bem-aventurados.



(OTAVIO PAZ)

CORA CORALINA

A vida tem duas faces:

Positiva e nagativa

O passado foi duro

Mas deixou o seu legado

Saber viver é a grande sabedoria

Que eu possa dignificar

Minha condição de mulher,

Aceitar sua limitações

E me fazer pedra de segurança

Dos valores que vão desmoronando.

Nasci em tempos rudes

Aceitei contradições

Lutas e perdas como condição de vida

E delas me sirvo

Aprendi a viver.



(CORA CORALINA)

CECÍLIA MEIRELES

Gatos que abrem e fecham os olhos, sonhando com pardais.

Borboletas brancas, duas a duas, como refletidas no espelho do ar.

Marimbondos que sempre me parecem personagens de Lope de Vega.

Ás vezes, um galo canta. Às vezes, um avião passa.

Tudo está certo, no seu lugar, cumprindo o seu destino.

E eu me sinto completamente feliz.

Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas,

que estão diante de cada janela, uns dizem

que essas coisas não existem,

outros que só existem diante das minhas janelas,

e outros, finalmente, que é preciso aprender a olhar,

para poder vê-las assim.



(CECILIA MEIRELES)

A VIDA - FERNANDO PESSOA

A vida que se vive é um desentendimento fluido, uma média alegre

entre a grandeza que não há e a felicidade que não pode haver.

No baile de máscaras, basta-nos o agrado do traje, que no baile é tudo.

Assim, vestidos de corpo e alma, com os nossos múltiplos trajes tão

pegados a nós como as penas de aves, vivemos felizes ou infelizes,

ou nem até sabendo o que somos, o breve espaço que nos dão os

deuses para os divertirmos, como crianças que brincam com jogos

sérios.

Um ou outro de nós, liberto ou maldito, vê de repente, que tudo quanto

somos é o que não somos, que nos enganamos no que está certo

ou não temos razão no que concluímos justo.

E sempre, desconhecendo-nos a nós mesmos e aos outros, e por isso

entendendo-nos alegremente, passamos nas volutas da dança ou nas

conversas do descanso, humanos, fúteis, a sério, ao som da grande

orquestra dos astros, sob os olhares desdenhosos e alheios dos

organizadores do espetáculo.

Só eles sabem que nós somos presas da ilusão que nos criaram....


(FERNANDO PESSOA)

O BURGUÊS RIDÍCULO

Quanto mais aulas ele tem para falar bonito menos se

entende o que ele fala. Quando quer um copo d'água, ele pede

" um banho interior", chama as orelhas de "portas do

entendimento", as lágrimas são " o sumo das tristezas", as

bochechas são " o trono do pudor", uma simples cadeira

é o " receptáculo para um entretenimento íntimo". Em vez

de dizer " há um criado lá fora perguntando se o senhor

está em casa " , é preciso que se diga " há um serviçal

na antecâmara inquirindo se V.Exc. está em condições

de ser visível ", e por aí vai...


(O Burguês Ridículo - Molière)

VIVENDO

À certa altura da vida, temos a confortável sensação

de que aprendemos todas as respostas e que

escoltados pela nossa experiência, nada mais

poderá nos surpreender; mas não é bem assim.

O ser humano, mutável e imperfeito, sempre nos

proporcionará eventuais surpresas de decepções.

Nosso olhar ingênuo e crente é às vezes obscurecido

pela boa vontade que impera nos idealistas, e não

é capaz de perceber que nem todos atingiram o

mesmo patamar de crescimento, alguns permaneceram

estáticos em alguns degraus da evolução.



(YEDRA ARDEY)

CARPINEJAR

As mulheres não são uma única mulher.

As mulheres amadurecem conforme a intensidade

da descoberta. Cada infância será uma velhice

diferente; cada adolescência, uma revolta diferente.

Cada paixão consuzirá a boca a abrir de um lado.

Cada cheiro mudará a palavra. O homem que fala

para todas as mulheres não fala para nenhuma...

É um erro repetir amores como se não existisse

diferença...

A mulher não suporta a idéia de ser igual a todas.

As mulheres não são unânimes; são discordantes

entre si. Quanto idiomas morreram pela crença de

que as mulheres são uma única mulher?



(FABRÍCIO CARPINEJAR)

FERNANDO PESSOA

... sou como um viajante que de repente se encontre

numa vila estranha sem saber como alçi chegou...

Fui outro durante muito tempo - desde a nascença e

a consciência -, e acordo agora no meio da ponte,

debruçado sobre o rio, e sabendo que existo mais

firmemente do que fui até aqui.

Espero, pois, debruçado sobre a ponte, que me passe

a verdade, e eu me restabeleça nulo e fictício,

inteligente e natural.



(FERNANDO PESSOA)

SOLIDÃO

Agora já sei que minha solidão era um horrível

fantasma... que foi espantado,

mas que não morreu... que deve estar

juntando forças em algum porão imundo,

em algum arrabalde da minha rotina.

Por isso, só por isso, abro mão da minha

auto-suficiência e me limito a dizer:

tomara.


(MARIO BENEDETTI)

MARINA COLASANTI

Eu sei que a gente se acostuma.

Mas não devia.

(...)
A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer.
Em doses pequenas, tentando não perceber, vai
afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma
revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta
na primeira fila e torce um pouco o pescoço.
Se a praia está contaminada, a gente só molha os pés
e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro,
a gente se consola pensando no fim de semana.
E se no fim de semana não há muito o que fazer,
a gente vai dormir cedo e ainda satisfeito porque
tem sono atrasado. A gente se acostuma para não se
ralar na aspereza, para preservar a pele.

Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para
esquivar-se da faca e da baioneta, para poupar o peito.

A gente se acostuma para poupar a vida.

Que aos poucos se gasta, e que, de tanto

acostumar, se perde de si mesma.


(MARINA COLASANTI)

PREVISIBILIDADE

Se fosse possível que todos se comunicassem de

forma inequívoca e completa com todos, teríamos

a uniformidade total do caos humano.

Seria o adeus à diversidade, o cessar das

diferenças, a anulação dos contrastes.

Tudo perderia o mistério, o dom de intrigar.

Viveríamos anestesiados e semi-mortos num

império de previsibilidade.

Com o desaparecimento das diferenças e a

ausência da originalidade desbancando a

mesmice do "pensar" igual, a vida certamente

pararia. A própria racionalidade perderia sua

função.

(YEDRA ARDEY)

HERBERTO HELDER

Então acordo de dentro e, lembrando, fico

de lado. E ouço correr, levando

grandiosos lenços contra a noite com estrelas

batendo nas patas

como magnólias pensando, abertas, correndo.

Ouço de lado: é o som. São elas, lembrando

de lado, com as patas

no meio das letras, o rosto sufocado

correndo pelas portas grandiosas, as crinas

brancas batendo.

E eu ouço: é o som delas

com as patas negras, com as magnólias negras

contra a noite.


Correndo, lembrando, batendo.


( HERBERTO HELDER )

SAINT-EXUPÈRY

A raposa explicando ao Pequeno Príncipe o que
era ficar cativado:

É assim. A princípio você senta lá e eu aqui. Depois

a gente vai ficando cada vez mais perto. Os passos

de todas as outras pessoas me fazem entrar dentro

da minha toca. Mas os seus passos me fazem sair.

E, depois, é a alegria. Começo a ficar alegre e a me

preparar na segunda-feira, sabendo que você só

virá na sexta...





(Antoine Saint-Exupéry)

VIRGÍNIA WOOLF

... como somos uma espécie condenada,

prisioneira num barco que naufraga,

... como tudo é uma farsa de mau gosto,

desempenhemos, afinal de contas, nosso

papel; mitiguemos as penas dos nossos

companheiros de prisão... decoremos o

calabouço com flores e almofadas;

sejamos o mais corretos possível.


(VIRGÍNIA WOOLF)

NELSON RODRIGUES

O ser humano é o único que se falsifica.

Um tigre há de ser tigre eternamente.

Um leão há de preservar, até morrer,

o seu nobilíssimo rugido.

E assim o sapo nasce sapo e como tal

envelhece e fenece.

Nunca vi um marreco que virasse outra coisa.

Mas o ser humano pode, sim, desumanizar-se.


(Nelson Rodrigues)

CONHECIMENTO

Não há fim para as coisas que podem ser conhecidas

e sabidas. O mundo dos saberes é um mundo de

somas sem fim. É um caminho sem descanso para

a alma. Não há saber diante do qual o coração possa

dizer: " Cheguei, finalmente, ao lar." Saberes não são

lar. São, na melhor das hipóteses, tijolos para se

construir uma casa. Mas os tijolos, não sabem nada

sobre a casa. Diz o Tao-Te-Ching : " Na busca do

conhecimento a cada dia soma uma coisa. Na busca

da sabedoria, a cada dia se diminui uma coisa. "


(RUBEM ALVES)

ERASMO DE ROTTERDAN

Loucos somos todos nós

debaixo dos véus que escondem

nossa saudável alegria.

Um pouco de Erasmo

de Rotterdam :


"Todas as coisas são de tal natureza que, quanto

mais abundante é a dose de loucura que encerram,

tanto maior é o bem que proporcionam aos mortais.

Sem alegria, a vida humana nem sequer merece o

nome de vida. Mergulharíamos na tristeza todos os

dias, se com essa espécie de prazeres não dissipássemos

o tédio que parece ter nascido conosco."

PROSA E POESIA

Na poesia, a semelhança dos sons nos atrai e nos embala, através

do ritmo criado pelas palavras. Essa atração não acontece na prosa,

onde o ritmo é submetido à lógica das frases. Por isso costuma-se

dizer que na poesia predomina as relações de forma, enquanto que

na prosa há um encadeamento de conceitos que se relacionam

para dar um sentido seguro ao texto. O que a prosa descreve

pode ser pensado, imaginado, e sofrer analogias. Mas o que a

poesia diz só pode ser sentido. A prosa mesmo resumida conserva

sua essência, mas resumir um poema significa abrir mão de sua

essência. Uma forma não pode ser resumida. A prosa promove a

dança dos conceitos, enquanto que a poesia se contenta em

apenas fazer as palavras dançarem.

( Yedra Ardey )

A BOA FÉ

Boa fé é a combinação perfeita entre atos e
palavras. É dizer o que acreditamos, não mentir
nem ao outro, nem a si mesmo. Claro que não
convém dizer tudo sempre, isso seria uma tolice.
Mas o que se diz tem que refletir o que pensamos.
Por que afinal de que vale um pensamento a não
ser pelo grau de verdade que contém? Mesmo
assim, a verdade não deve ser dita a quem não
tem poder para suportá-la. Isso não é boa fé,
é insensibilidade. É preciso amar a verdade sem
adoração, o que seria fanatismo. E nenhum
fanatismo é bom, pois nos impede de pensar.
A boa fé leva ao humor, enquanto a má fé leva
à ironia. Agir com boa fé é acima de tudo ter
grandeza.

( YEDRA ARDEY )