Combatemos nossa superficialidade, nossa falta de profundidade, de modo a tentarmos nos aproximar dos outros livres de expectativas irreais, sem uma sobrecarga de preconceitos, esperanças, arrogâncias, da fora menos parecida com o avanço de um tanque, sem canhão, sem metralhadoras e sem chapas de aço de quinze centímetros de espessura; a gente se aproxima das pessoas da forma menos ameaçadora, de pés descalços, em vez de vir rasgando o capim com as esteiras do trator, recebe o que elas dizem com a mente aberta, como iguais, de homem para homem, dizíamos antigamente, e mesmo assim a gente sempre acaba entendendo mal as pessoas. A gente também pode possuir o cérebro de um tanque. Já estamos entendendo errado as pessoas antes mesmo de encontrá-las, enquanto ainda estamos prevendo o que vai acontecer; entendemos errado enquanto estamos diante delas; e depois vamos para casa e contamos a alguém sobre o encontro, e de novo entendemos tudo errado.
Uma vez que a mesma coisa acontece com os outros em relação a nós, tudo vira uma ilusão desnorteante, destituída de qualquer percepção, uma espantosa farsa de incompreensões. E com tudo isso, o que é que vamos fazer a respeito dessa questão profundamente significativa que são as outras pessoas, que se vêem drenadas de toda a significação que julgamos ser a delase adquirem, em vez disso, um significado burlesco, o que vamos fazer se estamos tão mal equipados para distinguir os movimentos interiores e os propósitos invisíveis uns dos outros ? Será que todo mundo devia trancar a porta de casa e ficar quieto, isolado, como fazem os escritores solitários, em uma cela a prova de som. Invocando as pessoas por meio de palavras e depois sugerindo que essas pessoas feitas de palavras estão mais próximas das coisas reais do que as pessoas reais que deturpamos todos os dias com a nossa ignorância ? Persiste o fato de que entender direito as pessoas não é uma coisa própria da vida, nem um pouco, viver é entender as pessoas.
Viver é entender as pessoas errado, entendê-las errado, errado e errado, para depois reconsiderando tudo cuidadosamente, entender mais uma vez as pessoas errado. É assim que sabemos que estamos vivos: estando errados. Talvez a melhor coisa fosse esquecer se estamos certos ou errados a respeito das pessoas e simplesmente ir vivendo do jeito que der. Mas se você é capaz de fazer isso... bem, boa sorte.
( Philiph Roth - do livro Pastoral Americana )
EVELYN DE MORGAN
segunda-feira, 3 de dezembro de 2007
RAINER MARIA RILKE
Procure entrar em si mesmo. Investigue o motivo que o manda escrever;
examine se estende suas raízes pelos recantos mais profundos
de sua alma;
confesse a si mesmo: morreria, se lhe fosse vedado escrever?
Isto acima de tudo: pergunte a si mesmo na hora mais tranqüila de sua noite:
"Sou mesmo forçado a escrever?" Escave dentro de si uma resposta profunda.
Se for afirmativa, se puder contestar àquela pergunta
severa por um forte e simples "sou",
então construa a sua vida de acordo com esta necessidade.
Sua vida, até em sua hora mais
indiferente e anódina, deverá tornar-se o sinal e o testemunho
de tal pressão.
Aproxime-se então da natureza. Depois procure, como se fosse
o primeiro homem,
a dizer o que vê, vive, ama e perde. (...)
RAINER MARIA RILKE
examine se estende suas raízes pelos recantos mais profundos
de sua alma;
confesse a si mesmo: morreria, se lhe fosse vedado escrever?
Isto acima de tudo: pergunte a si mesmo na hora mais tranqüila de sua noite:
"Sou mesmo forçado a escrever?" Escave dentro de si uma resposta profunda.
Se for afirmativa, se puder contestar àquela pergunta
severa por um forte e simples "sou",
então construa a sua vida de acordo com esta necessidade.
Sua vida, até em sua hora mais
indiferente e anódina, deverá tornar-se o sinal e o testemunho
de tal pressão.
Aproxime-se então da natureza. Depois procure, como se fosse
o primeiro homem,
a dizer o que vê, vive, ama e perde. (...)
RAINER MARIA RILKE
OSCAR WILDE
Encontro, algures na minha natureza, alguma coisa que me diz
que não há nada no mundo que seja desprovido de sentido,
e muito menos o sofrimento. Essa qualquer coisa, escondida no
mais fundo de mim, como um tesouro num campo, é a humildade.
É a última coisa que me resta, e a melhor (...).
Ela veio-me de dentro de mim mesmo e sei que veio no bom momento.
Não teria podido vir mais cedo nem mais tarde.
Se alguém me tivesse falado dela, tê-la-ia rejeitado.
Se ma tivessem oferecido, tê-la-ia rejeitado (...).
É a única coisa que contém os elementos da vida, de uma vida nova (...).
Entre todas as coisas ela é a mais estranha (...).
É somente quando perdemos todas as coisas
que sabemos que a possuímos.
(Oscar Wilde)
que não há nada no mundo que seja desprovido de sentido,
e muito menos o sofrimento. Essa qualquer coisa, escondida no
mais fundo de mim, como um tesouro num campo, é a humildade.
É a última coisa que me resta, e a melhor (...).
Ela veio-me de dentro de mim mesmo e sei que veio no bom momento.
Não teria podido vir mais cedo nem mais tarde.
Se alguém me tivesse falado dela, tê-la-ia rejeitado.
Se ma tivessem oferecido, tê-la-ia rejeitado (...).
É a única coisa que contém os elementos da vida, de uma vida nova (...).
Entre todas as coisas ela é a mais estranha (...).
É somente quando perdemos todas as coisas
que sabemos que a possuímos.
(Oscar Wilde)
J. D. SALINGER
Descobrirás que não és a primeira pessoa a quem
o comportamento humano alguma vez perturbou,
assustou ou mesmo enojou. Não estás de modo
nenhum sózinho nesse ponto, e isto deve servir-te
de estímulo e consolo. Muitos homens se sentiram
tão perturbados como tu estás agora. Felizmente,
alguns deles, serviram-se de seu talento para
deixarem memórias dessa decepção.
Hás-de aprender
com eles... se quiseres aprender. Tal como um dia, se
tiveres alguma coisa para dar, alguém há-de aprender
contigo. É um belo tratado de reciprocidade.
(J.D.SALINGER)
o comportamento humano alguma vez perturbou,
assustou ou mesmo enojou. Não estás de modo
nenhum sózinho nesse ponto, e isto deve servir-te
de estímulo e consolo. Muitos homens se sentiram
tão perturbados como tu estás agora. Felizmente,
alguns deles, serviram-se de seu talento para
deixarem memórias dessa decepção.
Hás-de aprender
com eles... se quiseres aprender. Tal como um dia, se
tiveres alguma coisa para dar, alguém há-de aprender
contigo. É um belo tratado de reciprocidade.
(J.D.SALINGER)
terça-feira, 27 de novembro de 2007
SOMOS HUMANOS
Não somos seres com essências idealizadas e etéreas,
mas seres autenticamente biológicos, moldados pela
evolução, distorcidos e torcidos pela própria vida.
Trazemos dentro de nós toda a humanidade, isso
significa que, interiormente, somos santos e criminosos,
embora em graus variáveis. Somos capazes de ter
compaixão, de criar empatia e de manifestarmos nossa
indignação perante as injustiças. Nossa generosidade
abre pausas para o egoísmo e nosso sofrimento afetivo
às vezes provoca em nós o desejo de vingança.
Somos humanos, enfim - um "caldeirão efervescente"
de muitos sentimentos contraditórios. Talvez seja por
isso que os personagens literários de maior impacto e
autenticidade, sejam aqueles que apresentam qualidades
e falhas humanas, capazes de promover uma identificação
sólida com o leitor. Se o personagem dor correto demais
e sem contradições, ele os parecerá artificial.
YEDRA
mas seres autenticamente biológicos, moldados pela
evolução, distorcidos e torcidos pela própria vida.
Trazemos dentro de nós toda a humanidade, isso
significa que, interiormente, somos santos e criminosos,
embora em graus variáveis. Somos capazes de ter
compaixão, de criar empatia e de manifestarmos nossa
indignação perante as injustiças. Nossa generosidade
abre pausas para o egoísmo e nosso sofrimento afetivo
às vezes provoca em nós o desejo de vingança.
Somos humanos, enfim - um "caldeirão efervescente"
de muitos sentimentos contraditórios. Talvez seja por
isso que os personagens literários de maior impacto e
autenticidade, sejam aqueles que apresentam qualidades
e falhas humanas, capazes de promover uma identificação
sólida com o leitor. Se o personagem dor correto demais
e sem contradições, ele os parecerá artificial.
YEDRA
MARIO BENEDETTI
... cada um é de um só lugar na terra e ali deve pagar
sua cota. Eu sou daqui. Esse que passa, esse é meu
semelhante. Ainda ignora que eu existo, mas um dia
me verá de frente, de perfil ou de costas, e terá a
sensação de que entre nós existe algo secreto, um
recôndito laço que nos une, que nos dá forças para
nos entendermos. Ou talvez esse dia nunca chegue...
talvez ele não atente nunca para este ar que nos faz
próximos, que nos emparelha, que nos comunica.
Mas não importa; seja como for, é meu semelhante.
(MARIO BENEDETTI)
sua cota. Eu sou daqui. Esse que passa, esse é meu
semelhante. Ainda ignora que eu existo, mas um dia
me verá de frente, de perfil ou de costas, e terá a
sensação de que entre nós existe algo secreto, um
recôndito laço que nos une, que nos dá forças para
nos entendermos. Ou talvez esse dia nunca chegue...
talvez ele não atente nunca para este ar que nos faz
próximos, que nos emparelha, que nos comunica.
Mas não importa; seja como for, é meu semelhante.
(MARIO BENEDETTI)
quinta-feira, 20 de setembro de 2007
VIVER O PRESENTE
Viver preso ao passado pode ser uma forma
dolorosa de povoar o presente de rancores e
mágoas. Assim como instalar-se idilicamente no
futuro, é viver sobre hipóteses provavelmente
irrealizáveis. Então por quê não aprendemos a
viver no presente? Talvez porque viver no presente
exija concentração e somos dispersivos. Ou talvez
porque para viver o presente teríamos que ser
racionais e práticos, e somos afetivos e nostálgicos.
O presente nos intimida porque temos que ser
rápidos, temos que efetuar escolhas, apostar,
correr riscos... O que se viveu pode nos ajudar,
como também pode nos confundir nas decisões
presentes. O futuro não existe como tempo: não
passa de um ponto de interrogação contemplando
as reticências do passado. Quem sabe não seja por
causa de tudo isso que não saibamos viver com
alegria o tempo presente... O presente é o tempo
definitivo, onde se realizam as escolhas, que serão
ao mesmo tempo passado e futuro. O presente é
a nossa tragédia.
(YEDRA)
dolorosa de povoar o presente de rancores e
mágoas. Assim como instalar-se idilicamente no
futuro, é viver sobre hipóteses provavelmente
irrealizáveis. Então por quê não aprendemos a
viver no presente? Talvez porque viver no presente
exija concentração e somos dispersivos. Ou talvez
porque para viver o presente teríamos que ser
racionais e práticos, e somos afetivos e nostálgicos.
O presente nos intimida porque temos que ser
rápidos, temos que efetuar escolhas, apostar,
correr riscos... O que se viveu pode nos ajudar,
como também pode nos confundir nas decisões
presentes. O futuro não existe como tempo: não
passa de um ponto de interrogação contemplando
as reticências do passado. Quem sabe não seja por
causa de tudo isso que não saibamos viver com
alegria o tempo presente... O presente é o tempo
definitivo, onde se realizam as escolhas, que serão
ao mesmo tempo passado e futuro. O presente é
a nossa tragédia.
(YEDRA)
AMIGOS - OSCAR WILDE
Escolho meus amigos não pela pele ou outro
arquétipo qualquer, mas pela pupila.
Tem que ter brilho questionador e tonalidade
inquietante. A mim não interessam os bons de
espírito nem os maus de hábitos.
Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo.
Deles não quero resposta, quero meu avesso.
Que me tragam dúvidas e angústias e
aguentem o que há de pior em mim. Para isso,
só sendo louco. Quero-os santos, para que não
duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.
Escolho meus amigos pela cara lavada e pela
alma exposta. Não quero só o ombro ou o colo,
quero também sua maior alegria. Amigo que não ri
junto não sabe sofrer junto.
Meus amigos são todos assim:metade bobeira ,
metade seriedade. Não queor risos previsíveis
nem choros piedosos. Quero amigos sérios, daqueles
que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem,
mas lutam para que a fantasia não desapareça.
Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os
metade infância e outra metade velhice. Crianças,
para que não esqueçam o valor do vento no rosto e
velhos, para que nunca tenham pressa.
Tenho amigos para saber quem eu sou.
Pois os vendo loucos e santos, bobos e sérios,
crianças e velhos, nunca me esquecerei de que
normalidade é uma ilusão imbecil e estéril.
(OSCAR WILDE)
arquétipo qualquer, mas pela pupila.
Tem que ter brilho questionador e tonalidade
inquietante. A mim não interessam os bons de
espírito nem os maus de hábitos.
Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo.
Deles não quero resposta, quero meu avesso.
Que me tragam dúvidas e angústias e
aguentem o que há de pior em mim. Para isso,
só sendo louco. Quero-os santos, para que não
duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.
Escolho meus amigos pela cara lavada e pela
alma exposta. Não quero só o ombro ou o colo,
quero também sua maior alegria. Amigo que não ri
junto não sabe sofrer junto.
Meus amigos são todos assim:metade bobeira ,
metade seriedade. Não queor risos previsíveis
nem choros piedosos. Quero amigos sérios, daqueles
que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem,
mas lutam para que a fantasia não desapareça.
Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os
metade infância e outra metade velhice. Crianças,
para que não esqueçam o valor do vento no rosto e
velhos, para que nunca tenham pressa.
Tenho amigos para saber quem eu sou.
Pois os vendo loucos e santos, bobos e sérios,
crianças e velhos, nunca me esquecerei de que
normalidade é uma ilusão imbecil e estéril.
(OSCAR WILDE)
O TEMPO E O VENTO
Toda a gente tinha achado estranho a maneira como
o capitão Rodrigo Cambará entrara na vida de Santa
Fé. Um dia chegou a cavalo, vindo ninguém sabia de
onde, com o chapéu de barbicacho puxado para a
nuca, a bela cabeça de macho altivamente erguida,
e aquele seu olhar de gavião que irritava e ao
mesmo tempo fascinava as pessoas... Montava um
alazão, trazia bombachas claras, botas com chilenas
de prata e o busto musculoso apertado num dolmã
militar azul, com gola vermelha e botões de metal...
(O Tempo e o Vento - Érico Veríssimo)
o capitão Rodrigo Cambará entrara na vida de Santa
Fé. Um dia chegou a cavalo, vindo ninguém sabia de
onde, com o chapéu de barbicacho puxado para a
nuca, a bela cabeça de macho altivamente erguida,
e aquele seu olhar de gavião que irritava e ao
mesmo tempo fascinava as pessoas... Montava um
alazão, trazia bombachas claras, botas com chilenas
de prata e o busto musculoso apertado num dolmã
militar azul, com gola vermelha e botões de metal...
(O Tempo e o Vento - Érico Veríssimo)
OS BONS E OS MAUS
A humanidade não deve ser separada entre bons e maus.
Esse dualismo conduz à discriminação, porque os bons
olharão os maus com superioridade, e os maus olharão
os bons com náusea. O que existe em cada ser humano é
uma mistura de bem e de mal; o mal prevalecendo quando
o bem é negligenciado. O que se altera e se intercala são
os atos dentro dessas duas condições. Ocorre dialética,
e não dualismo. O ser humano é dialético: vive a contradição
entre o bem e o mal durante toda a sua existência, através
de suas escolhas. Ele desafia a si mesmo. Tem potencial
para a grandeza e para o trágico. Sartre dizia que o homem
"está condenado a ser livre" - porque ele está condenado
a superar-se. Através da qualidade oposta, ele supera um
defeito. Pura dialética. Assim, ele consegue extrair liberdade
da dependência, audácia da timidez, entusiasmo do silêncio,
criatividade da inércia e extrair vida superando o tédio.
(YEDRA)
Esse dualismo conduz à discriminação, porque os bons
olharão os maus com superioridade, e os maus olharão
os bons com náusea. O que existe em cada ser humano é
uma mistura de bem e de mal; o mal prevalecendo quando
o bem é negligenciado. O que se altera e se intercala são
os atos dentro dessas duas condições. Ocorre dialética,
e não dualismo. O ser humano é dialético: vive a contradição
entre o bem e o mal durante toda a sua existência, através
de suas escolhas. Ele desafia a si mesmo. Tem potencial
para a grandeza e para o trágico. Sartre dizia que o homem
"está condenado a ser livre" - porque ele está condenado
a superar-se. Através da qualidade oposta, ele supera um
defeito. Pura dialética. Assim, ele consegue extrair liberdade
da dependência, audácia da timidez, entusiasmo do silêncio,
criatividade da inércia e extrair vida superando o tédio.
(YEDRA)
INSATISFAÇÕES PESSOAIS
Quando Thoreau afirmou qua a maior parte de
nós vive em silencioso desespero, não poderia ter
adivinhado como se tornaria mais intenso este
desespero. As pessoas dizem que querem ser
felizes; mas a verdadeira felicidade parece ser
o sonho impossível. O que estamos fazendo de
errado? Por que tantas pessoas estão insatisfeitas
de tantas maneiras? Será que esperamos coisas
demais? Ou não conseguimos nem ter as que
merecemos? Existe um jeito de ser feliz sózinho,
sem precisar dos outros? Talvez ninguém possa
nos dar felicidade se primeiro não a criarmos
dentro de nós mesmos. Precisamos aprender
a ser nós mesmos nosso melhor amigo. Se
conseguirmos aprender isso, teremos um
amigo para toda a vida.
(YEDRA)
nós vive em silencioso desespero, não poderia ter
adivinhado como se tornaria mais intenso este
desespero. As pessoas dizem que querem ser
felizes; mas a verdadeira felicidade parece ser
o sonho impossível. O que estamos fazendo de
errado? Por que tantas pessoas estão insatisfeitas
de tantas maneiras? Será que esperamos coisas
demais? Ou não conseguimos nem ter as que
merecemos? Existe um jeito de ser feliz sózinho,
sem precisar dos outros? Talvez ninguém possa
nos dar felicidade se primeiro não a criarmos
dentro de nós mesmos. Precisamos aprender
a ser nós mesmos nosso melhor amigo. Se
conseguirmos aprender isso, teremos um
amigo para toda a vida.
(YEDRA)
SALMAN RUSHDIE
Durante muito tempo acreditei que em toda geração
há algumas pessoas felizardas ou malditas, que
simplesmente nascem sem vínculos. Que vivem semi
soltas no mundo. No entanto, há os convencionais que
temem a mudança, a incerteza, os que valorizam a
estabilidade, defendem as raízes e fingem se motivar
por lealdades, escondendo suas identidades secretas
no fundo da fachada satisfeita. Mas a verdade vaza em nossos
sonhos, neles flutuamos, voamos, fugimos.
A arte revela o vagabundo, o assassino, o ladrão, o
mutante, o renegado, o delinquente, o pecador, o fugitivo,
o viajante. Se não reconhecêssemos neles nossas necessidades
menos atendidas, não os teríamos inventado insistentemente,
em todas as línguas, em todos os tempos.
E esta espécie de gente que brinca de gostar de ficar em casa, que
se prende com vínculos, na realidade são sonhadores frustrados, que
chamam o oposto deles de loucos e anti-sociais.
(SALMAN RUSHDIE)
há algumas pessoas felizardas ou malditas, que
simplesmente nascem sem vínculos. Que vivem semi
soltas no mundo. No entanto, há os convencionais que
temem a mudança, a incerteza, os que valorizam a
estabilidade, defendem as raízes e fingem se motivar
por lealdades, escondendo suas identidades secretas
no fundo da fachada satisfeita. Mas a verdade vaza em nossos
sonhos, neles flutuamos, voamos, fugimos.
A arte revela o vagabundo, o assassino, o ladrão, o
mutante, o renegado, o delinquente, o pecador, o fugitivo,
o viajante. Se não reconhecêssemos neles nossas necessidades
menos atendidas, não os teríamos inventado insistentemente,
em todas as línguas, em todos os tempos.
E esta espécie de gente que brinca de gostar de ficar em casa, que
se prende com vínculos, na realidade são sonhadores frustrados, que
chamam o oposto deles de loucos e anti-sociais.
(SALMAN RUSHDIE)
ESTILO PESSOAL
Todos nós com nossas experiências e nossas idéias,
criamos uma reputação, uma imagem, que se configura
num estilo pessoal. Nossa maneira de ser é uma forma
de auto-imagem que vendemos ao mundo. Através dela
criamos nossas relações e conexões sociais. O estilo é
a marca da individualidade, impressa em nosso
comportamento. Por isso se nota claramente, que as
pessoas sem estilo pessoal se perdem no todo, são
aquelas pessoas que falam o que todos falam, possuem
as mesmas idéias, alimentam os mesmos preconceitos,
realizam as mesmas coisas e sonham os mesmos sonhos.
Enfim, se contentam em andar pelos caminhos convencionais
e limitados pelo medo de ousar, não desenvolvem um
estilo pessoal.
(YEDRA)
criamos uma reputação, uma imagem, que se configura
num estilo pessoal. Nossa maneira de ser é uma forma
de auto-imagem que vendemos ao mundo. Através dela
criamos nossas relações e conexões sociais. O estilo é
a marca da individualidade, impressa em nosso
comportamento. Por isso se nota claramente, que as
pessoas sem estilo pessoal se perdem no todo, são
aquelas pessoas que falam o que todos falam, possuem
as mesmas idéias, alimentam os mesmos preconceitos,
realizam as mesmas coisas e sonham os mesmos sonhos.
Enfim, se contentam em andar pelos caminhos convencionais
e limitados pelo medo de ousar, não desenvolvem um
estilo pessoal.
(YEDRA)
VIRGINIA WOOLF
... num dia de verão, as ondas se juntam, balançam
e tombam; e o mundo inteiro parece dizer: "Isso é tudo",
cada vez mais forte, até que o coração, no corpo
estendido sob o sol da praia, também diz: "Isso é tudo".
"Não mais temas", diz o coração, confiando a sua carga
a algum mar que suspira coletivamente por todas as
dores, e recomeça, ergue-se, tomba. E o corpo sozinho
ouve a abelha que passa; a onda que se quebra; o cão,
lá longe, ladrando, ladrando...
(VIRGINIA WOOLF)
e tombam; e o mundo inteiro parece dizer: "Isso é tudo",
cada vez mais forte, até que o coração, no corpo
estendido sob o sol da praia, também diz: "Isso é tudo".
"Não mais temas", diz o coração, confiando a sua carga
a algum mar que suspira coletivamente por todas as
dores, e recomeça, ergue-se, tomba. E o corpo sozinho
ouve a abelha que passa; a onda que se quebra; o cão,
lá longe, ladrando, ladrando...
(VIRGINIA WOOLF)
RUBEM ALVES
... há uma filosofia alegre, que nos faz levitar. Para
fazer levitar a filosofia não deve nascer da cabeça,
e sim das entranhas: o corpo estremece, ri, espanta-se,
tranquliza-se, assombra-se. O filosofiar amansa as
palavras. Também serve par pôr luz no escuro: quando
a luz se acende e o medo vai embora. Filosofia é
contafeitiço ... e há tantos feiticeiros e feiticeiras soltos
por aí, tão bonitos : é só acreditar para ficar enfeitiçado.
A filosofia nos torna desconfiados e quem desconfia
não fica enfeitiçado.
(RUBEM ALVES)
fazer levitar a filosofia não deve nascer da cabeça,
e sim das entranhas: o corpo estremece, ri, espanta-se,
tranquliza-se, assombra-se. O filosofiar amansa as
palavras. Também serve par pôr luz no escuro: quando
a luz se acende e o medo vai embora. Filosofia é
contafeitiço ... e há tantos feiticeiros e feiticeiras soltos
por aí, tão bonitos : é só acreditar para ficar enfeitiçado.
A filosofia nos torna desconfiados e quem desconfia
não fica enfeitiçado.
(RUBEM ALVES)
O MITO DA CAVERNA
Na alegoria do Mito da Caverna, Platão, numa linguagem
figurada, nos mostra uma imagem perfeita da atitude
filosófica. A caverna simboliza o estado do homem o
significado real das coisas, por falta de reflexão. Os
prisioneiros da caverna estavam cegos para a verdadeira
realidade. Acontece o mesmo conosco às vezes. Há
quem acredite que o mar é verde e o céu é azul. Ou
quando nos iludimso com as imagens de um filme se
movendo na tela. Até quando nos preocupamos porque
o tempo passa, sem nos darmos conta que somos nós
que passamos por ele. Vivenciamos a mesma sensação
de ofuscamento dos prisioneiros da Caverna de Platão,
quando a inteligência não consegue perceber a verdade
e admitimos a aparência como sendo a verdade. A atitude
filosófica contudo, é sempre despertada por uma necessidade.
Sem precisar de respostas dificilmente seremos compelidos
à reflexão.
(YEDRA)
figurada, nos mostra uma imagem perfeita da atitude
filosófica. A caverna simboliza o estado do homem o
significado real das coisas, por falta de reflexão. Os
prisioneiros da caverna estavam cegos para a verdadeira
realidade. Acontece o mesmo conosco às vezes. Há
quem acredite que o mar é verde e o céu é azul. Ou
quando nos iludimso com as imagens de um filme se
movendo na tela. Até quando nos preocupamos porque
o tempo passa, sem nos darmos conta que somos nós
que passamos por ele. Vivenciamos a mesma sensação
de ofuscamento dos prisioneiros da Caverna de Platão,
quando a inteligência não consegue perceber a verdade
e admitimos a aparência como sendo a verdade. A atitude
filosófica contudo, é sempre despertada por uma necessidade.
Sem precisar de respostas dificilmente seremos compelidos
à reflexão.
(YEDRA)
terça-feira, 11 de setembro de 2007
DIZER VERDADES
Dizer o que pensamos é uma forma de liberdade; mas
para exercer essa liberdade certas regras se impõem.
Apesar de Camus ter afirmado que " liberdade é o
direito de não mentir", não somos livres a ponto de
sairmos por aí declarando "nossas verdades"
destemida e impunimente. Temos que levar em
consideração certas noções de hora e lugar, de
finalidade, além da vulnerabilidade dos ouvidos que
irão receber nossas "livres palavras". Gosto de uma
afirmação sobre a liberdade de expressão que diz:
" os que defendem a liberdade de expressão são
geralmente aqueles que querem abusar dele." E
"despejar" verdades ostensivamente é um grande
abuso.
(YEDRA)
para exercer essa liberdade certas regras se impõem.
Apesar de Camus ter afirmado que " liberdade é o
direito de não mentir", não somos livres a ponto de
sairmos por aí declarando "nossas verdades"
destemida e impunimente. Temos que levar em
consideração certas noções de hora e lugar, de
finalidade, além da vulnerabilidade dos ouvidos que
irão receber nossas "livres palavras". Gosto de uma
afirmação sobre a liberdade de expressão que diz:
" os que defendem a liberdade de expressão são
geralmente aqueles que querem abusar dele." E
"despejar" verdades ostensivamente é um grande
abuso.
(YEDRA)
A VIDA
É interessante perceber que espécie de conotação
cega a maioria das pessoas dá à vida. Muitas não
conseguem enxergar a verdade de que a vida é
mesmo difícil. A queixa persistente - ruidosa ou
silenciosa - em relação aos problemas existenciais,
obrigações intrínsecas e dificuldades de percurso,
demonstra a crença de que o "normal" seria a vida
ser mais fácil. Como disse Benjamin Franklin: " aquilo
que fere, também instrui". É por isso que as pessoas
mais sábias, aprendem a não temer e sim acolher os
contratempos, e, acima de tudo, conviver com a dor
dos problemas. A dor pode ser vivenciada de forma
produtiva, partindo da premissa de que " uma vez
conhecido o pior, estamos livres para ver o que há
de bom mais além."
(YEDRA)
cega a maioria das pessoas dá à vida. Muitas não
conseguem enxergar a verdade de que a vida é
mesmo difícil. A queixa persistente - ruidosa ou
silenciosa - em relação aos problemas existenciais,
obrigações intrínsecas e dificuldades de percurso,
demonstra a crença de que o "normal" seria a vida
ser mais fácil. Como disse Benjamin Franklin: " aquilo
que fere, também instrui". É por isso que as pessoas
mais sábias, aprendem a não temer e sim acolher os
contratempos, e, acima de tudo, conviver com a dor
dos problemas. A dor pode ser vivenciada de forma
produtiva, partindo da premissa de que " uma vez
conhecido o pior, estamos livres para ver o que há
de bom mais além."
(YEDRA)
JORGE LUÍS BORGES
Já somos o esquecimento que seremos,
A poeira elementar que nos ignora,
Que não foi Adão e que é agora
Todos os homens.
Somos apenas duas metades:
A do princípio e a do término.
Não sou o insensato que se aferra
Ao mágico som de seu próprio nome.
Penso com esperança naquele homem que
Não saberá o que fui sobre a terra.
Abaixo do indiferente azul do céu,
Esta meditação é um consolo.
(JORGE LUÍS BORGES)
A poeira elementar que nos ignora,
Que não foi Adão e que é agora
Todos os homens.
Somos apenas duas metades:
A do princípio e a do término.
Não sou o insensato que se aferra
Ao mágico som de seu próprio nome.
Penso com esperança naquele homem que
Não saberá o que fui sobre a terra.
Abaixo do indiferente azul do céu,
Esta meditação é um consolo.
(JORGE LUÍS BORGES)
PESSOAS - V. WOOLF
... quantas pessoas diferentes não haverá,
todas morando dentro da mesma pessoa?
Daí as mudanças assombrosas que vemos em
nossos amigos... esses eus de que somos constituídos,
sobrepostos uns aos outros como pratos empilhados
têm suas predileções, simpatias, pequenos códigos e
direitos próprios ... e cada pessoa pode multiplicar com
a sua experiência as diferentes condições que impõem
os seus diferentes eus - e algumas, de tão ridículas,
nem podem ser impressas em letra de forma.
(VIRGÍNIA WOOLF)
todas morando dentro da mesma pessoa?
Daí as mudanças assombrosas que vemos em
nossos amigos... esses eus de que somos constituídos,
sobrepostos uns aos outros como pratos empilhados
têm suas predileções, simpatias, pequenos códigos e
direitos próprios ... e cada pessoa pode multiplicar com
a sua experiência as diferentes condições que impõem
os seus diferentes eus - e algumas, de tão ridículas,
nem podem ser impressas em letra de forma.
(VIRGÍNIA WOOLF)
ENVELHECER - V.WOOLF
A compensação de a gente envelhecer era simplesmente
essa: que as paixões permanecem tão fortes como
antes, mas adquire-se - afinal! - o poder que dá o
supremo sabor à existência: oo poder de nos
apoderarmos da experiência e volteá-la, lentamente,
em plena luz... O passado nos enriquece e a
experiência, e o ter amado uma ou duas vezes,
pois se adquire o poder, que falta à juventude, de
ir direto ao fim, de fazer o que bem se entende, sem
dar importância aos outros, e de mover-se pelo
mundo sem grandes expectativas.
(VIRGÍNIA WOOLF)
essa: que as paixões permanecem tão fortes como
antes, mas adquire-se - afinal! - o poder que dá o
supremo sabor à existência: oo poder de nos
apoderarmos da experiência e volteá-la, lentamente,
em plena luz... O passado nos enriquece e a
experiência, e o ter amado uma ou duas vezes,
pois se adquire o poder, que falta à juventude, de
ir direto ao fim, de fazer o que bem se entende, sem
dar importância aos outros, e de mover-se pelo
mundo sem grandes expectativas.
(VIRGÍNIA WOOLF)
SENSIBILIDADE
Existe em todos nós um potencial para a sensibilidade,
e mesmo que não possamos ser todos poetas, nos
tornamos poetas quando lemos um poema bem, porque
o sentimento já está dentro de nós e só é despertado
pelas palavras, que pairam flutuantes sobre a nossa
sensibilidade. " A poesia é uma espécie de música
insondável que nos leva à borda do infinito"; ela nos
deixa por momentos em estado de encantamento.
Os gregos, nas sua fábulas, falavam das harmonias
das esferas; era o sentido dado por eles à perfeita
estrutura de todas as coisas: tudo tendo a alma de
uma perfeita música. O poeta talvez seja aquele ser
especial que consegue pensar profundamente e "ver
musicalmente" as coisas que pensa.
(YEDRA)
e mesmo que não possamos ser todos poetas, nos
tornamos poetas quando lemos um poema bem, porque
o sentimento já está dentro de nós e só é despertado
pelas palavras, que pairam flutuantes sobre a nossa
sensibilidade. " A poesia é uma espécie de música
insondável que nos leva à borda do infinito"; ela nos
deixa por momentos em estado de encantamento.
Os gregos, nas sua fábulas, falavam das harmonias
das esferas; era o sentido dado por eles à perfeita
estrutura de todas as coisas: tudo tendo a alma de
uma perfeita música. O poeta talvez seja aquele ser
especial que consegue pensar profundamente e "ver
musicalmente" as coisas que pensa.
(YEDRA)
segunda-feira, 27 de agosto de 2007
TESE AMOROSA
Uma das teses amorosas mais fantasiosas que
existem é a dos opostos que dão certo. Não
existe uma maneira mais eficaz de conseguir
uma relação frustrante do que dar seu braço
a uma pessoa diferente, na essência de você.
Os dois devem amar básicamente as mesmas
coisas. Ter afinados seus sentimentos e
pensamentos. Pensar que quando duas pessoas
diferentes se juntam, uma vai acabar mudando
a outra, é de uma ingenuidade comovente. Isto
está muito longe de vir a acontecer. E toda a
expectativa criada neste sentido só gera
infelicidade para ambos.
(YEDRA)
existem é a dos opostos que dão certo. Não
existe uma maneira mais eficaz de conseguir
uma relação frustrante do que dar seu braço
a uma pessoa diferente, na essência de você.
Os dois devem amar básicamente as mesmas
coisas. Ter afinados seus sentimentos e
pensamentos. Pensar que quando duas pessoas
diferentes se juntam, uma vai acabar mudando
a outra, é de uma ingenuidade comovente. Isto
está muito longe de vir a acontecer. E toda a
expectativa criada neste sentido só gera
infelicidade para ambos.
(YEDRA)
AS 4 CONDIÇÕES
De todas as condições que vivemos, quatro delas
são as mais essenciais: amor, aventura, segurança
e reconhecimento. Sendo assim, no ato de viver
temos que acumular experiências que preencham
convenientemente nosso lado mental, pessoal e
social. O amor aplaca a nossa solidão, as buscas
ou a aventura satisfaz a nossa curiosidade e nós
dá objetivos e sonhos. A segurança nos situa na
realidade, nos proporcionando bem-estar. E o
reconhecimento alimenta a nossa auto-estima e
identifica o nosso valor. Por isso, sempre que nos
sentimos incompletos, deve estar havendo
deficiência ou insatisfação em uma destas quatro
condições.
(YEDRA)
são as mais essenciais: amor, aventura, segurança
e reconhecimento. Sendo assim, no ato de viver
temos que acumular experiências que preencham
convenientemente nosso lado mental, pessoal e
social. O amor aplaca a nossa solidão, as buscas
ou a aventura satisfaz a nossa curiosidade e nós
dá objetivos e sonhos. A segurança nos situa na
realidade, nos proporcionando bem-estar. E o
reconhecimento alimenta a nossa auto-estima e
identifica o nosso valor. Por isso, sempre que nos
sentimos incompletos, deve estar havendo
deficiência ou insatisfação em uma destas quatro
condições.
(YEDRA)
A ASA DO OUTRO
Todos parecem considerar sua vida afetiva
como inteiramente pessoal. Mas a sociologia
afirma que não é bem assim. O meio em que
se vive exerce grande influência em nossas
emoções. Bergson observou que não teríamos
o sentido do cômico, se nos sentíssemos
isolados. Porque o riso tem necessidade de um
eco. E isso se aplica às outras emoções: estados
afetivos fortes raramente são encontrados em
pessoas que se isolam. A solidão empobrece a
expressão dos nossos sentimentos. E essa
participação dos outros em nossas emoções é
uma necessidade nossa: nossos sentimentos
precisam ser compartilhados e aprovados.
Mesmo os sentimentos de aversão e hostilidade
seguem a mesma regra. Nossos rancores e ódios
têm necessidade de serem confirmados pelo
julgamento alheio. Expomos nossos ódios e
mágoas a ouvintes próximos e criamos um
elo ideal com eles, onde reina o consenso
de afetividades. Precisamos de aliados até
para odiar.
(YEDRA)
como inteiramente pessoal. Mas a sociologia
afirma que não é bem assim. O meio em que
se vive exerce grande influência em nossas
emoções. Bergson observou que não teríamos
o sentido do cômico, se nos sentíssemos
isolados. Porque o riso tem necessidade de um
eco. E isso se aplica às outras emoções: estados
afetivos fortes raramente são encontrados em
pessoas que se isolam. A solidão empobrece a
expressão dos nossos sentimentos. E essa
participação dos outros em nossas emoções é
uma necessidade nossa: nossos sentimentos
precisam ser compartilhados e aprovados.
Mesmo os sentimentos de aversão e hostilidade
seguem a mesma regra. Nossos rancores e ódios
têm necessidade de serem confirmados pelo
julgamento alheio. Expomos nossos ódios e
mágoas a ouvintes próximos e criamos um
elo ideal com eles, onde reina o consenso
de afetividades. Precisamos de aliados até
para odiar.
(YEDRA)
segunda-feira, 20 de agosto de 2007
NIETZSCHE
Não quero ver em minhas montanhas
acres verdades impacientes.
Dourada de sorrisos, de mim se acerca
hoje a vedade, adoçada de sol,
bronzeada de amor.
Hoje estendo as mãos
às seduções do acaso,
bastante esperto para guiar, tapear
o acaso.
Minha alma insaciável com sua língua,
já lambeu em todas as coisas,
boas e ruins, em cada profundeza
já mergulhou.
(NIETZSCHE)
acres verdades impacientes.
Dourada de sorrisos, de mim se acerca
hoje a vedade, adoçada de sol,
bronzeada de amor.
Hoje estendo as mãos
às seduções do acaso,
bastante esperto para guiar, tapear
o acaso.
Minha alma insaciável com sua língua,
já lambeu em todas as coisas,
boas e ruins, em cada profundeza
já mergulhou.
(NIETZSCHE)
VIRGÍNIA WOOLF
"Descobri que precisava travar uma batalha com um
determinado fantasma. E o fantasma era uma mulher...
Ela era intensamente simpática. Maravilhosamente encantadora.
Totalmente abnegada. Ela se distinguia nas difíceis tarefas
da vida em família.
sua constituição era tal, que ela nunca tinha um pensamento
ou desejos próprios, preferindo antes apoiar os pensamentos
e desejos dos outros. Acima de tudo, ela era, é desnecessário
dizer, pura...
E agia como se estivesse guiando a minha caneta.
Relato agora a única ação que me levou ter um apreço por mim mesma ...
Voltei-me para ela e a agarrei pela garganta. Apertei com toda minha força,
até matá-la. Minha defesa, caso fosse levada a um tribunal, seria a de que
agi em defesa própria. Se eu não a matasse, ela me mataria.”
(VIRGINIA WOOLF)
determinado fantasma. E o fantasma era uma mulher...
Ela era intensamente simpática. Maravilhosamente encantadora.
Totalmente abnegada. Ela se distinguia nas difíceis tarefas
da vida em família.
sua constituição era tal, que ela nunca tinha um pensamento
ou desejos próprios, preferindo antes apoiar os pensamentos
e desejos dos outros. Acima de tudo, ela era, é desnecessário
dizer, pura...
E agia como se estivesse guiando a minha caneta.
Relato agora a única ação que me levou ter um apreço por mim mesma ...
Voltei-me para ela e a agarrei pela garganta. Apertei com toda minha força,
até matá-la. Minha defesa, caso fosse levada a um tribunal, seria a de que
agi em defesa própria. Se eu não a matasse, ela me mataria.”
(VIRGINIA WOOLF)
AMIZADE
A amizade
é o mais belo afluente do amor,
ela ajuda a resolver,
com paciência,
as complicadas equações
da convivência humana.
A amizade
é tão forte quanto o amor,
ela educa o amor,
sinalizando o caminho da coerência,
apontando as veredas da justiça,
controlando os excessos da paixão.
A amizade
é um forte elo que une pessoas
na corrente do querer.
Amizade
é cola divina,
cola demais,
pode doer.
A amizade
tem muito mais juízo que o amor,
quando ele se esgota
e cisma de ir embora,
ela se propõe a ficar,
vigiando o sentimento que sobrou.
IVONE BOECHAT
é o mais belo afluente do amor,
ela ajuda a resolver,
com paciência,
as complicadas equações
da convivência humana.
A amizade
é tão forte quanto o amor,
ela educa o amor,
sinalizando o caminho da coerência,
apontando as veredas da justiça,
controlando os excessos da paixão.
A amizade
é um forte elo que une pessoas
na corrente do querer.
Amizade
é cola divina,
cola demais,
pode doer.
A amizade
tem muito mais juízo que o amor,
quando ele se esgota
e cisma de ir embora,
ela se propõe a ficar,
vigiando o sentimento que sobrou.
IVONE BOECHAT
OTÁVIO PAZ
A vida é um contínuo risco, viver é se expor.
A abstinência do ermitão se resolve no delírio
solitário; a fuga dos amantes, em morte cruel.
Outras paixões podem nos seduzir e arrebatar.
Umas superiores, como o amor a Deus, ao saber
e a uma causa; outras inferiores, como o amor ao
dinheiro ou ao poder. Em nenhum desses casos
desaparece o risco inerente à vida: o místico pode
descobrir que corria atrás de uma quimera, o saber
não nos defende contra a decepção do conhecimento,
o poder não salva da traição. A glória é um emblema
equivocado e o esquecimento é mais forte do que
todas as reputações. E as desgraças do amor são as
desgraças da vida. Mas apesar de todos os males e
desgraças, sempre buscamos querer e ser queridos.
Porque o amor é o mais próximo, nesta terra, à
beatitude dos bem-aventurados.
(OTAVIO PAZ)
A abstinência do ermitão se resolve no delírio
solitário; a fuga dos amantes, em morte cruel.
Outras paixões podem nos seduzir e arrebatar.
Umas superiores, como o amor a Deus, ao saber
e a uma causa; outras inferiores, como o amor ao
dinheiro ou ao poder. Em nenhum desses casos
desaparece o risco inerente à vida: o místico pode
descobrir que corria atrás de uma quimera, o saber
não nos defende contra a decepção do conhecimento,
o poder não salva da traição. A glória é um emblema
equivocado e o esquecimento é mais forte do que
todas as reputações. E as desgraças do amor são as
desgraças da vida. Mas apesar de todos os males e
desgraças, sempre buscamos querer e ser queridos.
Porque o amor é o mais próximo, nesta terra, à
beatitude dos bem-aventurados.
(OTAVIO PAZ)
CORA CORALINA
A vida tem duas faces:
Positiva e nagativa
O passado foi duro
Mas deixou o seu legado
Saber viver é a grande sabedoria
Que eu possa dignificar
Minha condição de mulher,
Aceitar sua limitações
E me fazer pedra de segurança
Dos valores que vão desmoronando.
Nasci em tempos rudes
Aceitei contradições
Lutas e perdas como condição de vida
E delas me sirvo
Aprendi a viver.
(CORA CORALINA)
Positiva e nagativa
O passado foi duro
Mas deixou o seu legado
Saber viver é a grande sabedoria
Que eu possa dignificar
Minha condição de mulher,
Aceitar sua limitações
E me fazer pedra de segurança
Dos valores que vão desmoronando.
Nasci em tempos rudes
Aceitei contradições
Lutas e perdas como condição de vida
E delas me sirvo
Aprendi a viver.
(CORA CORALINA)
CECÍLIA MEIRELES
Gatos que abrem e fecham os olhos, sonhando com pardais.
Borboletas brancas, duas a duas, como refletidas no espelho do ar.
Marimbondos que sempre me parecem personagens de Lope de Vega.
Ás vezes, um galo canta. Às vezes, um avião passa.
Tudo está certo, no seu lugar, cumprindo o seu destino.
E eu me sinto completamente feliz.
Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas,
que estão diante de cada janela, uns dizem
que essas coisas não existem,
outros que só existem diante das minhas janelas,
e outros, finalmente, que é preciso aprender a olhar,
para poder vê-las assim.
(CECILIA MEIRELES)
Borboletas brancas, duas a duas, como refletidas no espelho do ar.
Marimbondos que sempre me parecem personagens de Lope de Vega.
Ás vezes, um galo canta. Às vezes, um avião passa.
Tudo está certo, no seu lugar, cumprindo o seu destino.
E eu me sinto completamente feliz.
Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas,
que estão diante de cada janela, uns dizem
que essas coisas não existem,
outros que só existem diante das minhas janelas,
e outros, finalmente, que é preciso aprender a olhar,
para poder vê-las assim.
(CECILIA MEIRELES)
A VIDA - FERNANDO PESSOA
A vida que se vive é um desentendimento fluido, uma média alegre
entre a grandeza que não há e a felicidade que não pode haver.
No baile de máscaras, basta-nos o agrado do traje, que no baile é tudo.
Assim, vestidos de corpo e alma, com os nossos múltiplos trajes tão
pegados a nós como as penas de aves, vivemos felizes ou infelizes,
ou nem até sabendo o que somos, o breve espaço que nos dão os
deuses para os divertirmos, como crianças que brincam com jogos
sérios.
Um ou outro de nós, liberto ou maldito, vê de repente, que tudo quanto
somos é o que não somos, que nos enganamos no que está certo
ou não temos razão no que concluímos justo.
E sempre, desconhecendo-nos a nós mesmos e aos outros, e por isso
entendendo-nos alegremente, passamos nas volutas da dança ou nas
conversas do descanso, humanos, fúteis, a sério, ao som da grande
orquestra dos astros, sob os olhares desdenhosos e alheios dos
organizadores do espetáculo.
Só eles sabem que nós somos presas da ilusão que nos criaram....
(FERNANDO PESSOA)
entre a grandeza que não há e a felicidade que não pode haver.
No baile de máscaras, basta-nos o agrado do traje, que no baile é tudo.
Assim, vestidos de corpo e alma, com os nossos múltiplos trajes tão
pegados a nós como as penas de aves, vivemos felizes ou infelizes,
ou nem até sabendo o que somos, o breve espaço que nos dão os
deuses para os divertirmos, como crianças que brincam com jogos
sérios.
Um ou outro de nós, liberto ou maldito, vê de repente, que tudo quanto
somos é o que não somos, que nos enganamos no que está certo
ou não temos razão no que concluímos justo.
E sempre, desconhecendo-nos a nós mesmos e aos outros, e por isso
entendendo-nos alegremente, passamos nas volutas da dança ou nas
conversas do descanso, humanos, fúteis, a sério, ao som da grande
orquestra dos astros, sob os olhares desdenhosos e alheios dos
organizadores do espetáculo.
Só eles sabem que nós somos presas da ilusão que nos criaram....
(FERNANDO PESSOA)
O BURGUÊS RIDÍCULO
Quanto mais aulas ele tem para falar bonito menos se
entende o que ele fala. Quando quer um copo d'água, ele pede
" um banho interior", chama as orelhas de "portas do
entendimento", as lágrimas são " o sumo das tristezas", as
bochechas são " o trono do pudor", uma simples cadeira
é o " receptáculo para um entretenimento íntimo". Em vez
de dizer " há um criado lá fora perguntando se o senhor
está em casa " , é preciso que se diga " há um serviçal
na antecâmara inquirindo se V.Exc. está em condições
de ser visível ", e por aí vai...
(O Burguês Ridículo - Molière)
entende o que ele fala. Quando quer um copo d'água, ele pede
" um banho interior", chama as orelhas de "portas do
entendimento", as lágrimas são " o sumo das tristezas", as
bochechas são " o trono do pudor", uma simples cadeira
é o " receptáculo para um entretenimento íntimo". Em vez
de dizer " há um criado lá fora perguntando se o senhor
está em casa " , é preciso que se diga " há um serviçal
na antecâmara inquirindo se V.Exc. está em condições
de ser visível ", e por aí vai...
(O Burguês Ridículo - Molière)
VIVENDO
À certa altura da vida, temos a confortável sensação
de que aprendemos todas as respostas e que
escoltados pela nossa experiência, nada mais
poderá nos surpreender; mas não é bem assim.
O ser humano, mutável e imperfeito, sempre nos
proporcionará eventuais surpresas de decepções.
Nosso olhar ingênuo e crente é às vezes obscurecido
pela boa vontade que impera nos idealistas, e não
é capaz de perceber que nem todos atingiram o
mesmo patamar de crescimento, alguns permaneceram
estáticos em alguns degraus da evolução.
(YEDRA ARDEY)
de que aprendemos todas as respostas e que
escoltados pela nossa experiência, nada mais
poderá nos surpreender; mas não é bem assim.
O ser humano, mutável e imperfeito, sempre nos
proporcionará eventuais surpresas de decepções.
Nosso olhar ingênuo e crente é às vezes obscurecido
pela boa vontade que impera nos idealistas, e não
é capaz de perceber que nem todos atingiram o
mesmo patamar de crescimento, alguns permaneceram
estáticos em alguns degraus da evolução.
(YEDRA ARDEY)
CARPINEJAR
As mulheres não são uma única mulher.
As mulheres amadurecem conforme a intensidade
da descoberta. Cada infância será uma velhice
diferente; cada adolescência, uma revolta diferente.
Cada paixão consuzirá a boca a abrir de um lado.
Cada cheiro mudará a palavra. O homem que fala
para todas as mulheres não fala para nenhuma...
É um erro repetir amores como se não existisse
diferença...
A mulher não suporta a idéia de ser igual a todas.
As mulheres não são unânimes; são discordantes
entre si. Quanto idiomas morreram pela crença de
que as mulheres são uma única mulher?
(FABRÍCIO CARPINEJAR)
As mulheres amadurecem conforme a intensidade
da descoberta. Cada infância será uma velhice
diferente; cada adolescência, uma revolta diferente.
Cada paixão consuzirá a boca a abrir de um lado.
Cada cheiro mudará a palavra. O homem que fala
para todas as mulheres não fala para nenhuma...
É um erro repetir amores como se não existisse
diferença...
A mulher não suporta a idéia de ser igual a todas.
As mulheres não são unânimes; são discordantes
entre si. Quanto idiomas morreram pela crença de
que as mulheres são uma única mulher?
(FABRÍCIO CARPINEJAR)
FERNANDO PESSOA
... sou como um viajante que de repente se encontre
numa vila estranha sem saber como alçi chegou...
Fui outro durante muito tempo - desde a nascença e
a consciência -, e acordo agora no meio da ponte,
debruçado sobre o rio, e sabendo que existo mais
firmemente do que fui até aqui.
Espero, pois, debruçado sobre a ponte, que me passe
a verdade, e eu me restabeleça nulo e fictício,
inteligente e natural.
(FERNANDO PESSOA)
numa vila estranha sem saber como alçi chegou...
Fui outro durante muito tempo - desde a nascença e
a consciência -, e acordo agora no meio da ponte,
debruçado sobre o rio, e sabendo que existo mais
firmemente do que fui até aqui.
Espero, pois, debruçado sobre a ponte, que me passe
a verdade, e eu me restabeleça nulo e fictício,
inteligente e natural.
(FERNANDO PESSOA)
SOLIDÃO
Agora já sei que minha solidão era um horrível
fantasma... que foi espantado,
mas que não morreu... que deve estar
juntando forças em algum porão imundo,
em algum arrabalde da minha rotina.
Por isso, só por isso, abro mão da minha
auto-suficiência e me limito a dizer:
tomara.
(MARIO BENEDETTI)
fantasma... que foi espantado,
mas que não morreu... que deve estar
juntando forças em algum porão imundo,
em algum arrabalde da minha rotina.
Por isso, só por isso, abro mão da minha
auto-suficiência e me limito a dizer:
tomara.
(MARIO BENEDETTI)
MARINA COLASANTI
Eu sei que a gente se acostuma.
Mas não devia.
(...)
A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer.
Em doses pequenas, tentando não perceber, vai
afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma
revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta
na primeira fila e torce um pouco o pescoço.
Se a praia está contaminada, a gente só molha os pés
e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro,
a gente se consola pensando no fim de semana.
E se no fim de semana não há muito o que fazer,
a gente vai dormir cedo e ainda satisfeito porque
tem sono atrasado. A gente se acostuma para não se
ralar na aspereza, para preservar a pele.
Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para
esquivar-se da faca e da baioneta, para poupar o peito.
A gente se acostuma para poupar a vida.
Que aos poucos se gasta, e que, de tanto
acostumar, se perde de si mesma.
(MARINA COLASANTI)
Mas não devia.
(...)
A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer.
Em doses pequenas, tentando não perceber, vai
afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma
revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta
na primeira fila e torce um pouco o pescoço.
Se a praia está contaminada, a gente só molha os pés
e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro,
a gente se consola pensando no fim de semana.
E se no fim de semana não há muito o que fazer,
a gente vai dormir cedo e ainda satisfeito porque
tem sono atrasado. A gente se acostuma para não se
ralar na aspereza, para preservar a pele.
Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para
esquivar-se da faca e da baioneta, para poupar o peito.
A gente se acostuma para poupar a vida.
Que aos poucos se gasta, e que, de tanto
acostumar, se perde de si mesma.
(MARINA COLASANTI)
PREVISIBILIDADE
Se fosse possível que todos se comunicassem de
forma inequívoca e completa com todos, teríamos
a uniformidade total do caos humano.
Seria o adeus à diversidade, o cessar das
diferenças, a anulação dos contrastes.
Tudo perderia o mistério, o dom de intrigar.
Viveríamos anestesiados e semi-mortos num
império de previsibilidade.
Com o desaparecimento das diferenças e a
ausência da originalidade desbancando a
mesmice do "pensar" igual, a vida certamente
pararia. A própria racionalidade perderia sua
função.
(YEDRA ARDEY)
forma inequívoca e completa com todos, teríamos
a uniformidade total do caos humano.
Seria o adeus à diversidade, o cessar das
diferenças, a anulação dos contrastes.
Tudo perderia o mistério, o dom de intrigar.
Viveríamos anestesiados e semi-mortos num
império de previsibilidade.
Com o desaparecimento das diferenças e a
ausência da originalidade desbancando a
mesmice do "pensar" igual, a vida certamente
pararia. A própria racionalidade perderia sua
função.
(YEDRA ARDEY)
HERBERTO HELDER
Então acordo de dentro e, lembrando, fico
de lado. E ouço correr, levando
grandiosos lenços contra a noite com estrelas
batendo nas patas
como magnólias pensando, abertas, correndo.
Ouço de lado: é o som. São elas, lembrando
de lado, com as patas
no meio das letras, o rosto sufocado
correndo pelas portas grandiosas, as crinas
brancas batendo.
E eu ouço: é o som delas
com as patas negras, com as magnólias negras
contra a noite.
Correndo, lembrando, batendo.
( HERBERTO HELDER )
de lado. E ouço correr, levando
grandiosos lenços contra a noite com estrelas
batendo nas patas
como magnólias pensando, abertas, correndo.
Ouço de lado: é o som. São elas, lembrando
de lado, com as patas
no meio das letras, o rosto sufocado
correndo pelas portas grandiosas, as crinas
brancas batendo.
E eu ouço: é o som delas
com as patas negras, com as magnólias negras
contra a noite.
Correndo, lembrando, batendo.
( HERBERTO HELDER )
SAINT-EXUPÈRY
A raposa explicando ao Pequeno Príncipe o que
era ficar cativado:
É assim. A princípio você senta lá e eu aqui. Depois
a gente vai ficando cada vez mais perto. Os passos
de todas as outras pessoas me fazem entrar dentro
da minha toca. Mas os seus passos me fazem sair.
E, depois, é a alegria. Começo a ficar alegre e a me
preparar na segunda-feira, sabendo que você só
virá na sexta...
(Antoine Saint-Exupéry)
era ficar cativado:
É assim. A princípio você senta lá e eu aqui. Depois
a gente vai ficando cada vez mais perto. Os passos
de todas as outras pessoas me fazem entrar dentro
da minha toca. Mas os seus passos me fazem sair.
E, depois, é a alegria. Começo a ficar alegre e a me
preparar na segunda-feira, sabendo que você só
virá na sexta...
(Antoine Saint-Exupéry)
VIRGÍNIA WOOLF
... como somos uma espécie condenada,
prisioneira num barco que naufraga,
... como tudo é uma farsa de mau gosto,
desempenhemos, afinal de contas, nosso
papel; mitiguemos as penas dos nossos
companheiros de prisão... decoremos o
calabouço com flores e almofadas;
sejamos o mais corretos possível.
(VIRGÍNIA WOOLF)
prisioneira num barco que naufraga,
... como tudo é uma farsa de mau gosto,
desempenhemos, afinal de contas, nosso
papel; mitiguemos as penas dos nossos
companheiros de prisão... decoremos o
calabouço com flores e almofadas;
sejamos o mais corretos possível.
(VIRGÍNIA WOOLF)
NELSON RODRIGUES
O ser humano é o único que se falsifica.
Um tigre há de ser tigre eternamente.
Um leão há de preservar, até morrer,
o seu nobilíssimo rugido.
E assim o sapo nasce sapo e como tal
envelhece e fenece.
Nunca vi um marreco que virasse outra coisa.
Mas o ser humano pode, sim, desumanizar-se.
(Nelson Rodrigues)
Um tigre há de ser tigre eternamente.
Um leão há de preservar, até morrer,
o seu nobilíssimo rugido.
E assim o sapo nasce sapo e como tal
envelhece e fenece.
Nunca vi um marreco que virasse outra coisa.
Mas o ser humano pode, sim, desumanizar-se.
(Nelson Rodrigues)
CONHECIMENTO
Não há fim para as coisas que podem ser conhecidas
e sabidas. O mundo dos saberes é um mundo de
somas sem fim. É um caminho sem descanso para
a alma. Não há saber diante do qual o coração possa
dizer: " Cheguei, finalmente, ao lar." Saberes não são
lar. São, na melhor das hipóteses, tijolos para se
construir uma casa. Mas os tijolos, não sabem nada
sobre a casa. Diz o Tao-Te-Ching : " Na busca do
conhecimento a cada dia soma uma coisa. Na busca
da sabedoria, a cada dia se diminui uma coisa. "
(RUBEM ALVES)
e sabidas. O mundo dos saberes é um mundo de
somas sem fim. É um caminho sem descanso para
a alma. Não há saber diante do qual o coração possa
dizer: " Cheguei, finalmente, ao lar." Saberes não são
lar. São, na melhor das hipóteses, tijolos para se
construir uma casa. Mas os tijolos, não sabem nada
sobre a casa. Diz o Tao-Te-Ching : " Na busca do
conhecimento a cada dia soma uma coisa. Na busca
da sabedoria, a cada dia se diminui uma coisa. "
(RUBEM ALVES)
ERASMO DE ROTTERDAN
Loucos somos todos nós
debaixo dos véus que escondem
nossa saudável alegria.
Um pouco de Erasmo
de Rotterdam :
"Todas as coisas são de tal natureza que, quanto
mais abundante é a dose de loucura que encerram,
tanto maior é o bem que proporcionam aos mortais.
Sem alegria, a vida humana nem sequer merece o
nome de vida. Mergulharíamos na tristeza todos os
dias, se com essa espécie de prazeres não dissipássemos
o tédio que parece ter nascido conosco."
debaixo dos véus que escondem
nossa saudável alegria.
Um pouco de Erasmo
de Rotterdam :
"Todas as coisas são de tal natureza que, quanto
mais abundante é a dose de loucura que encerram,
tanto maior é o bem que proporcionam aos mortais.
Sem alegria, a vida humana nem sequer merece o
nome de vida. Mergulharíamos na tristeza todos os
dias, se com essa espécie de prazeres não dissipássemos
o tédio que parece ter nascido conosco."
PROSA E POESIA
Na poesia, a semelhança dos sons nos atrai e nos embala, através
do ritmo criado pelas palavras. Essa atração não acontece na prosa,
onde o ritmo é submetido à lógica das frases. Por isso costuma-se
dizer que na poesia predomina as relações de forma, enquanto que
na prosa há um encadeamento de conceitos que se relacionam
para dar um sentido seguro ao texto. O que a prosa descreve
pode ser pensado, imaginado, e sofrer analogias. Mas o que a
poesia diz só pode ser sentido. A prosa mesmo resumida conserva
sua essência, mas resumir um poema significa abrir mão de sua
essência. Uma forma não pode ser resumida. A prosa promove a
dança dos conceitos, enquanto que a poesia se contenta em
apenas fazer as palavras dançarem.
( Yedra Ardey )
do ritmo criado pelas palavras. Essa atração não acontece na prosa,
onde o ritmo é submetido à lógica das frases. Por isso costuma-se
dizer que na poesia predomina as relações de forma, enquanto que
na prosa há um encadeamento de conceitos que se relacionam
para dar um sentido seguro ao texto. O que a prosa descreve
pode ser pensado, imaginado, e sofrer analogias. Mas o que a
poesia diz só pode ser sentido. A prosa mesmo resumida conserva
sua essência, mas resumir um poema significa abrir mão de sua
essência. Uma forma não pode ser resumida. A prosa promove a
dança dos conceitos, enquanto que a poesia se contenta em
apenas fazer as palavras dançarem.
( Yedra Ardey )
A BOA FÉ
Boa fé é a combinação perfeita entre atos e
palavras. É dizer o que acreditamos, não mentir
nem ao outro, nem a si mesmo. Claro que não
convém dizer tudo sempre, isso seria uma tolice.
Mas o que se diz tem que refletir o que pensamos.
Por que afinal de que vale um pensamento a não
ser pelo grau de verdade que contém? Mesmo
assim, a verdade não deve ser dita a quem não
tem poder para suportá-la. Isso não é boa fé,
é insensibilidade. É preciso amar a verdade sem
adoração, o que seria fanatismo. E nenhum
fanatismo é bom, pois nos impede de pensar.
A boa fé leva ao humor, enquanto a má fé leva
à ironia. Agir com boa fé é acima de tudo ter
grandeza.
( YEDRA ARDEY )
palavras. É dizer o que acreditamos, não mentir
nem ao outro, nem a si mesmo. Claro que não
convém dizer tudo sempre, isso seria uma tolice.
Mas o que se diz tem que refletir o que pensamos.
Por que afinal de que vale um pensamento a não
ser pelo grau de verdade que contém? Mesmo
assim, a verdade não deve ser dita a quem não
tem poder para suportá-la. Isso não é boa fé,
é insensibilidade. É preciso amar a verdade sem
adoração, o que seria fanatismo. E nenhum
fanatismo é bom, pois nos impede de pensar.
A boa fé leva ao humor, enquanto a má fé leva
à ironia. Agir com boa fé é acima de tudo ter
grandeza.
( YEDRA ARDEY )
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