EVELYN DE MORGAN

EVELYN DE MORGAN

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

TESE AMOROSA

Uma das teses amorosas mais fantasiosas que

existem é a dos opostos que dão certo. Não

existe uma maneira mais eficaz de conseguir

uma relação frustrante do que dar seu braço

a uma pessoa diferente, na essência de você.

Os dois devem amar básicamente as mesmas

coisas. Ter afinados seus sentimentos e

pensamentos. Pensar que quando duas pessoas

diferentes se juntam, uma vai acabar mudando

a outra, é de uma ingenuidade comovente. Isto

está muito longe de vir a acontecer. E toda a

expectativa criada neste sentido só gera

infelicidade para ambos.

(YEDRA)

AS 4 CONDIÇÕES

De todas as condições que vivemos, quatro delas

são as mais essenciais: amor, aventura, segurança

e reconhecimento. Sendo assim, no ato de viver

temos que acumular experiências que preencham

convenientemente nosso lado mental, pessoal e

social. O amor aplaca a nossa solidão, as buscas

ou a aventura satisfaz a nossa curiosidade e nós

dá objetivos e sonhos. A segurança nos situa na

realidade, nos proporcionando bem-estar. E o

reconhecimento alimenta a nossa auto-estima e

identifica o nosso valor. Por isso, sempre que nos

sentimos incompletos, deve estar havendo

deficiência ou insatisfação em uma destas quatro

condições.

(YEDRA)

A ASA DO OUTRO

Todos parecem considerar sua vida afetiva

como inteiramente pessoal. Mas a sociologia

afirma que não é bem assim. O meio em que

se vive exerce grande influência em nossas

emoções. Bergson observou que não teríamos

o sentido do cômico, se nos sentíssemos

isolados. Porque o riso tem necessidade de um

eco. E isso se aplica às outras emoções: estados

afetivos fortes raramente são encontrados em

pessoas que se isolam. A solidão empobrece a

expressão dos nossos sentimentos. E essa

participação dos outros em nossas emoções é

uma necessidade nossa: nossos sentimentos

precisam ser compartilhados e aprovados.

Mesmo os sentimentos de aversão e hostilidade

seguem a mesma regra. Nossos rancores e ódios

têm necessidade de serem confirmados pelo

julgamento alheio. Expomos nossos ódios e

mágoas a ouvintes próximos e criamos um

elo ideal com eles, onde reina o consenso

de afetividades. Precisamos de aliados até

para odiar.


(YEDRA)

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

NIETZSCHE

Não quero ver em minhas montanhas

acres verdades impacientes.

Dourada de sorrisos, de mim se acerca

hoje a vedade, adoçada de sol,

bronzeada de amor.

Hoje estendo as mãos

às seduções do acaso,

bastante esperto para guiar, tapear

o acaso.

Minha alma insaciável com sua língua,

já lambeu em todas as coisas,

boas e ruins, em cada profundeza

já mergulhou.

(NIETZSCHE)

VIRGÍNIA WOOLF

"Descobri que precisava travar uma batalha com um

determinado fantasma. E o fantasma era uma mulher...




Ela era intensamente simpática. Maravilhosamente encantadora.

Totalmente abnegada. Ela se distinguia nas difíceis tarefas

da vida em família.

sua constituição era tal, que ela nunca tinha um pensamento

ou desejos próprios, preferindo antes apoiar os pensamentos

e desejos dos outros. Acima de tudo, ela era, é desnecessário

dizer, pura...

E agia como se estivesse guiando a minha caneta.

Relato agora a única ação que me levou ter um apreço por mim mesma ...

Voltei-me para ela e a agarrei pela garganta. Apertei com toda minha força,

até matá-la. Minha defesa, caso fosse levada a um tribunal, seria a de que

agi em defesa própria. Se eu não a matasse, ela me mataria.”



(VIRGINIA WOOLF)

AMIZADE

A amizade
é o mais belo afluente do amor,
ela ajuda a resolver,
com paciência,
as complicadas equações
da convivência humana.

A amizade
é tão forte quanto o amor,
ela educa o amor,
sinalizando o caminho da coerência,
apontando as veredas da justiça,
controlando os excessos da paixão.
A amizade
é um forte elo que une pessoas
na corrente do querer.
Amizade
é cola divina,
cola demais,
pode doer.

A amizade
tem muito mais juízo que o amor,
quando ele se esgota
e cisma de ir embora,
ela se propõe a ficar,
vigiando o sentimento que sobrou.

IVONE BOECHAT

OTÁVIO PAZ

A vida é um contínuo risco, viver é se expor.

A abstinência do ermitão se resolve no delírio

solitário; a fuga dos amantes, em morte cruel.

Outras paixões podem nos seduzir e arrebatar.

Umas superiores, como o amor a Deus, ao saber

e a uma causa; outras inferiores, como o amor ao

dinheiro ou ao poder. Em nenhum desses casos

desaparece o risco inerente à vida: o místico pode

descobrir que corria atrás de uma quimera, o saber

não nos defende contra a decepção do conhecimento,

o poder não salva da traição. A glória é um emblema

equivocado e o esquecimento é mais forte do que

todas as reputações. E as desgraças do amor são as

desgraças da vida. Mas apesar de todos os males e

desgraças, sempre buscamos querer e ser queridos.

Porque o amor é o mais próximo, nesta terra, à

beatitude dos bem-aventurados.



(OTAVIO PAZ)

CORA CORALINA

A vida tem duas faces:

Positiva e nagativa

O passado foi duro

Mas deixou o seu legado

Saber viver é a grande sabedoria

Que eu possa dignificar

Minha condição de mulher,

Aceitar sua limitações

E me fazer pedra de segurança

Dos valores que vão desmoronando.

Nasci em tempos rudes

Aceitei contradições

Lutas e perdas como condição de vida

E delas me sirvo

Aprendi a viver.



(CORA CORALINA)

CECÍLIA MEIRELES

Gatos que abrem e fecham os olhos, sonhando com pardais.

Borboletas brancas, duas a duas, como refletidas no espelho do ar.

Marimbondos que sempre me parecem personagens de Lope de Vega.

Ás vezes, um galo canta. Às vezes, um avião passa.

Tudo está certo, no seu lugar, cumprindo o seu destino.

E eu me sinto completamente feliz.

Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas,

que estão diante de cada janela, uns dizem

que essas coisas não existem,

outros que só existem diante das minhas janelas,

e outros, finalmente, que é preciso aprender a olhar,

para poder vê-las assim.



(CECILIA MEIRELES)

A VIDA - FERNANDO PESSOA

A vida que se vive é um desentendimento fluido, uma média alegre

entre a grandeza que não há e a felicidade que não pode haver.

No baile de máscaras, basta-nos o agrado do traje, que no baile é tudo.

Assim, vestidos de corpo e alma, com os nossos múltiplos trajes tão

pegados a nós como as penas de aves, vivemos felizes ou infelizes,

ou nem até sabendo o que somos, o breve espaço que nos dão os

deuses para os divertirmos, como crianças que brincam com jogos

sérios.

Um ou outro de nós, liberto ou maldito, vê de repente, que tudo quanto

somos é o que não somos, que nos enganamos no que está certo

ou não temos razão no que concluímos justo.

E sempre, desconhecendo-nos a nós mesmos e aos outros, e por isso

entendendo-nos alegremente, passamos nas volutas da dança ou nas

conversas do descanso, humanos, fúteis, a sério, ao som da grande

orquestra dos astros, sob os olhares desdenhosos e alheios dos

organizadores do espetáculo.

Só eles sabem que nós somos presas da ilusão que nos criaram....


(FERNANDO PESSOA)

O BURGUÊS RIDÍCULO

Quanto mais aulas ele tem para falar bonito menos se

entende o que ele fala. Quando quer um copo d'água, ele pede

" um banho interior", chama as orelhas de "portas do

entendimento", as lágrimas são " o sumo das tristezas", as

bochechas são " o trono do pudor", uma simples cadeira

é o " receptáculo para um entretenimento íntimo". Em vez

de dizer " há um criado lá fora perguntando se o senhor

está em casa " , é preciso que se diga " há um serviçal

na antecâmara inquirindo se V.Exc. está em condições

de ser visível ", e por aí vai...


(O Burguês Ridículo - Molière)

VIVENDO

À certa altura da vida, temos a confortável sensação

de que aprendemos todas as respostas e que

escoltados pela nossa experiência, nada mais

poderá nos surpreender; mas não é bem assim.

O ser humano, mutável e imperfeito, sempre nos

proporcionará eventuais surpresas de decepções.

Nosso olhar ingênuo e crente é às vezes obscurecido

pela boa vontade que impera nos idealistas, e não

é capaz de perceber que nem todos atingiram o

mesmo patamar de crescimento, alguns permaneceram

estáticos em alguns degraus da evolução.



(YEDRA ARDEY)

CARPINEJAR

As mulheres não são uma única mulher.

As mulheres amadurecem conforme a intensidade

da descoberta. Cada infância será uma velhice

diferente; cada adolescência, uma revolta diferente.

Cada paixão consuzirá a boca a abrir de um lado.

Cada cheiro mudará a palavra. O homem que fala

para todas as mulheres não fala para nenhuma...

É um erro repetir amores como se não existisse

diferença...

A mulher não suporta a idéia de ser igual a todas.

As mulheres não são unânimes; são discordantes

entre si. Quanto idiomas morreram pela crença de

que as mulheres são uma única mulher?



(FABRÍCIO CARPINEJAR)

FERNANDO PESSOA

... sou como um viajante que de repente se encontre

numa vila estranha sem saber como alçi chegou...

Fui outro durante muito tempo - desde a nascença e

a consciência -, e acordo agora no meio da ponte,

debruçado sobre o rio, e sabendo que existo mais

firmemente do que fui até aqui.

Espero, pois, debruçado sobre a ponte, que me passe

a verdade, e eu me restabeleça nulo e fictício,

inteligente e natural.



(FERNANDO PESSOA)

SOLIDÃO

Agora já sei que minha solidão era um horrível

fantasma... que foi espantado,

mas que não morreu... que deve estar

juntando forças em algum porão imundo,

em algum arrabalde da minha rotina.

Por isso, só por isso, abro mão da minha

auto-suficiência e me limito a dizer:

tomara.


(MARIO BENEDETTI)

MARINA COLASANTI

Eu sei que a gente se acostuma.

Mas não devia.

(...)
A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer.
Em doses pequenas, tentando não perceber, vai
afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma
revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta
na primeira fila e torce um pouco o pescoço.
Se a praia está contaminada, a gente só molha os pés
e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro,
a gente se consola pensando no fim de semana.
E se no fim de semana não há muito o que fazer,
a gente vai dormir cedo e ainda satisfeito porque
tem sono atrasado. A gente se acostuma para não se
ralar na aspereza, para preservar a pele.

Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para
esquivar-se da faca e da baioneta, para poupar o peito.

A gente se acostuma para poupar a vida.

Que aos poucos se gasta, e que, de tanto

acostumar, se perde de si mesma.


(MARINA COLASANTI)

PREVISIBILIDADE

Se fosse possível que todos se comunicassem de

forma inequívoca e completa com todos, teríamos

a uniformidade total do caos humano.

Seria o adeus à diversidade, o cessar das

diferenças, a anulação dos contrastes.

Tudo perderia o mistério, o dom de intrigar.

Viveríamos anestesiados e semi-mortos num

império de previsibilidade.

Com o desaparecimento das diferenças e a

ausência da originalidade desbancando a

mesmice do "pensar" igual, a vida certamente

pararia. A própria racionalidade perderia sua

função.

(YEDRA ARDEY)

HERBERTO HELDER

Então acordo de dentro e, lembrando, fico

de lado. E ouço correr, levando

grandiosos lenços contra a noite com estrelas

batendo nas patas

como magnólias pensando, abertas, correndo.

Ouço de lado: é o som. São elas, lembrando

de lado, com as patas

no meio das letras, o rosto sufocado

correndo pelas portas grandiosas, as crinas

brancas batendo.

E eu ouço: é o som delas

com as patas negras, com as magnólias negras

contra a noite.


Correndo, lembrando, batendo.


( HERBERTO HELDER )

SAINT-EXUPÈRY

A raposa explicando ao Pequeno Príncipe o que
era ficar cativado:

É assim. A princípio você senta lá e eu aqui. Depois

a gente vai ficando cada vez mais perto. Os passos

de todas as outras pessoas me fazem entrar dentro

da minha toca. Mas os seus passos me fazem sair.

E, depois, é a alegria. Começo a ficar alegre e a me

preparar na segunda-feira, sabendo que você só

virá na sexta...





(Antoine Saint-Exupéry)

VIRGÍNIA WOOLF

... como somos uma espécie condenada,

prisioneira num barco que naufraga,

... como tudo é uma farsa de mau gosto,

desempenhemos, afinal de contas, nosso

papel; mitiguemos as penas dos nossos

companheiros de prisão... decoremos o

calabouço com flores e almofadas;

sejamos o mais corretos possível.


(VIRGÍNIA WOOLF)

NELSON RODRIGUES

O ser humano é o único que se falsifica.

Um tigre há de ser tigre eternamente.

Um leão há de preservar, até morrer,

o seu nobilíssimo rugido.

E assim o sapo nasce sapo e como tal

envelhece e fenece.

Nunca vi um marreco que virasse outra coisa.

Mas o ser humano pode, sim, desumanizar-se.


(Nelson Rodrigues)

CONHECIMENTO

Não há fim para as coisas que podem ser conhecidas

e sabidas. O mundo dos saberes é um mundo de

somas sem fim. É um caminho sem descanso para

a alma. Não há saber diante do qual o coração possa

dizer: " Cheguei, finalmente, ao lar." Saberes não são

lar. São, na melhor das hipóteses, tijolos para se

construir uma casa. Mas os tijolos, não sabem nada

sobre a casa. Diz o Tao-Te-Ching : " Na busca do

conhecimento a cada dia soma uma coisa. Na busca

da sabedoria, a cada dia se diminui uma coisa. "


(RUBEM ALVES)

ERASMO DE ROTTERDAN

Loucos somos todos nós

debaixo dos véus que escondem

nossa saudável alegria.

Um pouco de Erasmo

de Rotterdam :


"Todas as coisas são de tal natureza que, quanto

mais abundante é a dose de loucura que encerram,

tanto maior é o bem que proporcionam aos mortais.

Sem alegria, a vida humana nem sequer merece o

nome de vida. Mergulharíamos na tristeza todos os

dias, se com essa espécie de prazeres não dissipássemos

o tédio que parece ter nascido conosco."

PROSA E POESIA

Na poesia, a semelhança dos sons nos atrai e nos embala, através

do ritmo criado pelas palavras. Essa atração não acontece na prosa,

onde o ritmo é submetido à lógica das frases. Por isso costuma-se

dizer que na poesia predomina as relações de forma, enquanto que

na prosa há um encadeamento de conceitos que se relacionam

para dar um sentido seguro ao texto. O que a prosa descreve

pode ser pensado, imaginado, e sofrer analogias. Mas o que a

poesia diz só pode ser sentido. A prosa mesmo resumida conserva

sua essência, mas resumir um poema significa abrir mão de sua

essência. Uma forma não pode ser resumida. A prosa promove a

dança dos conceitos, enquanto que a poesia se contenta em

apenas fazer as palavras dançarem.

( Yedra Ardey )

A BOA FÉ

Boa fé é a combinação perfeita entre atos e
palavras. É dizer o que acreditamos, não mentir
nem ao outro, nem a si mesmo. Claro que não
convém dizer tudo sempre, isso seria uma tolice.
Mas o que se diz tem que refletir o que pensamos.
Por que afinal de que vale um pensamento a não
ser pelo grau de verdade que contém? Mesmo
assim, a verdade não deve ser dita a quem não
tem poder para suportá-la. Isso não é boa fé,
é insensibilidade. É preciso amar a verdade sem
adoração, o que seria fanatismo. E nenhum
fanatismo é bom, pois nos impede de pensar.
A boa fé leva ao humor, enquanto a má fé leva
à ironia. Agir com boa fé é acima de tudo ter
grandeza.

( YEDRA ARDEY )