Nossa liberdade, nos próprios movimentos pelos
quais ela se afirma, cria os hábitos nascentes que
a sufocarão se ela não se renovar por um esforço
constante: o automatismo a espreita. O pensamento
mais vivo se congelará na fórmula que o exprime.
A palavra volta-se contra a idéia. A letra mata o
espírito. E nosso mais ardente entusiasmo, quando
se exterioriza em ação, cristaliza-se às vezes tão
naturalmente em frio cálculo de interesse ou vaidade,
e um adota tão facilmente a forma do outro, que até
poderíamos confundi-los, duvidar de nossa
sinceridade, negar a bondade e o amor, se não
soubéssemos que a morte conserva ainda por
algum tempo vestígios do ser vivo.
A vida em geral é a própria mobilidade.
HENRI BERGSON
EVELYN DE MORGAN
sexta-feira, 4 de julho de 2008
NIETZSCHE
Aquele que muito aprende esquece todos os
desejos impetuosos. O espírito é um estômago
revolto. A vida é um manancial de alegria!
Mas para quem deixa o estômago sobrecarregado
falar da tristeza, todos os mananciais estão
envenenados.
Conhecer é um prazer para quem tem uma
vontade de leão. Mas o que cansou, deixa todas
as ondas brincarem com ele. Dessa maneira agem
todos os fracos: perdem-se no caminho.
A vontade liberta, porque a liberdade é criadora.
Precisais aprender só para criar.
NIETZSCHE
desejos impetuosos. O espírito é um estômago
revolto. A vida é um manancial de alegria!
Mas para quem deixa o estômago sobrecarregado
falar da tristeza, todos os mananciais estão
envenenados.
Conhecer é um prazer para quem tem uma
vontade de leão. Mas o que cansou, deixa todas
as ondas brincarem com ele. Dessa maneira agem
todos os fracos: perdem-se no caminho.
A vontade liberta, porque a liberdade é criadora.
Precisais aprender só para criar.
NIETZSCHE
NIETZSCHE
A nossa senda é para o alto: da espécie à espécie
superior; mas a razão que deprava, a razão que
diz: Tudo para mim, me assombra.
O nosso sentido alça vôo para o alto, assim o
emblema do nosso corpo é emblema de uma
elevação. Os emblemas dessas elevações são
os nomes das virtudes.
Assim, o corpo atravessa a história, lutando e
elevando-se. E o espírito que é para o corpo?
É o mensageiro das suas lutas e vitórias, o seu
companheiro e o seu eco.
NIETZSCHE
superior; mas a razão que deprava, a razão que
diz: Tudo para mim, me assombra.
O nosso sentido alça vôo para o alto, assim o
emblema do nosso corpo é emblema de uma
elevação. Os emblemas dessas elevações são
os nomes das virtudes.
Assim, o corpo atravessa a história, lutando e
elevando-se. E o espírito que é para o corpo?
É o mensageiro das suas lutas e vitórias, o seu
companheiro e o seu eco.
NIETZSCHE
A CRIATIVIDADE
A criatividade acontece num momento de
encontro. A grandeza de uma obra, seja um
poema ou um quadro, não está no fato de
representar uma coisa observada, mas sim
de representar a visão do artista ou do poeta,
que surgiu do seu encontro com a realidade.
E o momento deste encontro não é resultado
de uma espera passiva, mas exige concentração
e receptividade. As pessoas criativas distinguem-se
pelo fato de serem capazes de viver com a ansiedade.
Elas não fogem, batem à porta do silêncio à espera
da resposta das palavras, perseguem a ausência
de sentido e a obrigam a significar. O encontro
com a realidade que se transfigura em arte requer
uma qualidade de compromisso especial e um alto
grau de paixão.
YEDRA
encontro. A grandeza de uma obra, seja um
poema ou um quadro, não está no fato de
representar uma coisa observada, mas sim
de representar a visão do artista ou do poeta,
que surgiu do seu encontro com a realidade.
E o momento deste encontro não é resultado
de uma espera passiva, mas exige concentração
e receptividade. As pessoas criativas distinguem-se
pelo fato de serem capazes de viver com a ansiedade.
Elas não fogem, batem à porta do silêncio à espera
da resposta das palavras, perseguem a ausência
de sentido e a obrigam a significar. O encontro
com a realidade que se transfigura em arte requer
uma qualidade de compromisso especial e um alto
grau de paixão.
YEDRA
sexta-feira, 20 de junho de 2008
BALZAC
Que batalha horrível e incessante que a mediocridade trava
contra o homem superior. Se é um homem inovador,
passará por louco. Se tem entusiasmo, será insociável.
Se para resistir a esse batalhão de pigmeus, buscar nele
mesmo forças superiores, os seus melhores amigos
exclamarão que ele quer dominar. Enfim, em tudo que
ele for diferente, original e criativo, haverá crítica.
Suas qualidades tornar-se-ão defeitos, os defeitos
tornar-se-ão vícios e as virtudes serão crimes.
BALZAC
contra o homem superior. Se é um homem inovador,
passará por louco. Se tem entusiasmo, será insociável.
Se para resistir a esse batalhão de pigmeus, buscar nele
mesmo forças superiores, os seus melhores amigos
exclamarão que ele quer dominar. Enfim, em tudo que
ele for diferente, original e criativo, haverá crítica.
Suas qualidades tornar-se-ão defeitos, os defeitos
tornar-se-ão vícios e as virtudes serão crimes.
BALZAC
VINCENT VAN GOGH
... quero já dizer-te de antemão que todo mundo vai achar
que trabalho demasiado depressa. Não acredites em nada
disso. É antes a emoção, a sinceridade do sentir a natureza
que nos conduz a mão. E quando esta emoção é por vezes
tão forte que se trabalha sem se dar por isso - e quando
as pinceladas por vezes se seguem rápidas e se ligam
umas às outras como as palavras numa conversa ou
numa carta, - então não se deve esquecer que nem sempre
foi assim e que também no futuro muitos dias virão
deprimentes e sem qualquer inspiração...
Experimento uma terrível clareza em momentos em que a
natureza é tão linda. Perco a consciência de mim mesmo
e os quadros vêm como um sonho...
(Carta de Van Gogh a seu irmão Theo)
que trabalho demasiado depressa. Não acredites em nada
disso. É antes a emoção, a sinceridade do sentir a natureza
que nos conduz a mão. E quando esta emoção é por vezes
tão forte que se trabalha sem se dar por isso - e quando
as pinceladas por vezes se seguem rápidas e se ligam
umas às outras como as palavras numa conversa ou
numa carta, - então não se deve esquecer que nem sempre
foi assim e que também no futuro muitos dias virão
deprimentes e sem qualquer inspiração...
Experimento uma terrível clareza em momentos em que a
natureza é tão linda. Perco a consciência de mim mesmo
e os quadros vêm como um sonho...
(Carta de Van Gogh a seu irmão Theo)
FERNANDO PESSOA
Minha Imaginação é uma cidade do Oriente.
Toda a sua composição de realidade no espaço tem a voluptuosidade
de superfície de um tapete rico e mole.
Toda a história pregressa dessa cidade voa em torno à lâmpada do
meu sonho como
uma borboleta apenas ouvida na penumbra do quarto.
Minha fantasia habita entre pompas outrora e recebeu da mão de
rainhas jóias veladas de antiguidade.
Atapetaram molezas íntimas os areais da minha inexistência, e
hábitos de penumbra,
as algas boiaram à ostensiva dos meus rios.
Fui por isso pórticos em civilizações perdidas, febres de arabescos
em frisos mortos,
enegrecidos de eternidade nos coleios das colunas partidas...
mastros apenas nos naufrágios remotos, degraus só de tronos
abatidos, véus nada velando
e como velndo sombras, fantasias erguidas do chão como
fumos de turíbulos
arremessados.
Funesto foi o meu reinado e cheia de guerras nas fronteiras
longínquas
a minha paz imperial no meu palácio.
FERNANDO PESSOA
Toda a sua composição de realidade no espaço tem a voluptuosidade
de superfície de um tapete rico e mole.
Toda a história pregressa dessa cidade voa em torno à lâmpada do
meu sonho como
uma borboleta apenas ouvida na penumbra do quarto.
Minha fantasia habita entre pompas outrora e recebeu da mão de
rainhas jóias veladas de antiguidade.
Atapetaram molezas íntimas os areais da minha inexistência, e
hábitos de penumbra,
as algas boiaram à ostensiva dos meus rios.
Fui por isso pórticos em civilizações perdidas, febres de arabescos
em frisos mortos,
enegrecidos de eternidade nos coleios das colunas partidas...
mastros apenas nos naufrágios remotos, degraus só de tronos
abatidos, véus nada velando
e como velndo sombras, fantasias erguidas do chão como
fumos de turíbulos
arremessados.
Funesto foi o meu reinado e cheia de guerras nas fronteiras
longínquas
a minha paz imperial no meu palácio.
FERNANDO PESSOA
SOBRE NIETZSCHE
Nietzsche, tão controvertido por suas idéias, talvez ainda
hoje não tenha sido devidamente compreendido. Mas
esse fato também foi previsto por ele, que nos achava tão
mal preparados, e que por isso proclamou veementemente o
surgimento do super-homem; um conceito que orientações
políticas nacionalistas ultrajaram descaradamente. Para
Nietzsche o super-homem é o homem liberto da prisão
das "verdades absolutas", defendidas por um pragmatismo
tendencioso. Aquele homem capaz de enxergar por trás
desas "verdades" a manifestação de poder e interesse de
quem as afirma. Nos deixou escritos cheios de humanismo.
Embora com críticas decisivas e às vezes impiedosas em
relação ao homem, também o defende apaixonadamente.
Se ele fosse colocado dentro da caverna de Sócrates, com
certeza seria aquele que determinadamente expulsaria
todos os seus habitantes da escuridão para à luz.
YEDRA
hoje não tenha sido devidamente compreendido. Mas
esse fato também foi previsto por ele, que nos achava tão
mal preparados, e que por isso proclamou veementemente o
surgimento do super-homem; um conceito que orientações
políticas nacionalistas ultrajaram descaradamente. Para
Nietzsche o super-homem é o homem liberto da prisão
das "verdades absolutas", defendidas por um pragmatismo
tendencioso. Aquele homem capaz de enxergar por trás
desas "verdades" a manifestação de poder e interesse de
quem as afirma. Nos deixou escritos cheios de humanismo.
Embora com críticas decisivas e às vezes impiedosas em
relação ao homem, também o defende apaixonadamente.
Se ele fosse colocado dentro da caverna de Sócrates, com
certeza seria aquele que determinadamente expulsaria
todos os seus habitantes da escuridão para à luz.
YEDRA
A POESIA
Poesia é a forma especial de linguagem, mais dirigida à
imaginação e à sensibilidade do que ao raciocínio.
Em vez de comunicar principalmente informações, a poesia
transmite sobretudo emoções. Ao longo do tempo, os poetas
e filósofos tentaram definir a poesia. Para o poeta espanhol
García Lorca, "Todas as coisas têm seu mistério, e a poesia
é o mistério que todas as coisas têm". O poeta francês Mallarmé,
defendendo uma outra concepção, afirmou que "a poesia se faz
com palavras, e não com idéias". E, segundo T. S. Eliot,
"aprendemos o que é poesia lendo poesia".
Para transmitir idéias e sensações, o poeta não se apóia unicamente
no significado exato das palavras e em suas relações dentro
da frase. Ele utiliza sobre tudo os valores sonoros e o poder
sugestivo dessas mesmas palavras combinadas entre si.
Mas a melodia de um poema não reside propriamente em sua
métrica. Ela resulta do uso que o poeta faz do esquema escolhido,
e da liberdade que ele se permitir. O poeta encontra sua forma
própria, mas não se torna escravo dela.
Além disso, o poeta faz uso daquilo que as palavras podem
sugerir ao leitor. Esse efeito sugestivo das palavras é obtido
através dos sons que elas têm e, sobretudo, das diversas
imagens, ou figuras de linguagem, que o autor for capaz de
criar. Em suma, a poesia resulta da combinação sensível e
inteligente de todos esses aspectos da linguagem.
YEDRA
imaginação e à sensibilidade do que ao raciocínio.
Em vez de comunicar principalmente informações, a poesia
transmite sobretudo emoções. Ao longo do tempo, os poetas
e filósofos tentaram definir a poesia. Para o poeta espanhol
García Lorca, "Todas as coisas têm seu mistério, e a poesia
é o mistério que todas as coisas têm". O poeta francês Mallarmé,
defendendo uma outra concepção, afirmou que "a poesia se faz
com palavras, e não com idéias". E, segundo T. S. Eliot,
"aprendemos o que é poesia lendo poesia".
Para transmitir idéias e sensações, o poeta não se apóia unicamente
no significado exato das palavras e em suas relações dentro
da frase. Ele utiliza sobre tudo os valores sonoros e o poder
sugestivo dessas mesmas palavras combinadas entre si.
Mas a melodia de um poema não reside propriamente em sua
métrica. Ela resulta do uso que o poeta faz do esquema escolhido,
e da liberdade que ele se permitir. O poeta encontra sua forma
própria, mas não se torna escravo dela.
Além disso, o poeta faz uso daquilo que as palavras podem
sugerir ao leitor. Esse efeito sugestivo das palavras é obtido
através dos sons que elas têm e, sobretudo, das diversas
imagens, ou figuras de linguagem, que o autor for capaz de
criar. Em suma, a poesia resulta da combinação sensível e
inteligente de todos esses aspectos da linguagem.
YEDRA
ANDRÉ GIDE
Camarada, não aceites a vida tal qual a propõem os homens.
Não cesses de te persuadir que ela poderia ser mais bela,
a vida; a tua e a dos outros homens; não uma outra, futura,
que nos consolasse desta e nos ajudasse a aceitar sua
miséria. Não aceites. Quando começares a compreender que o
responsável por todos os males da vida não é Deus, que os
responsáveis são os homens, não te conformarás
mais com esses males.
André Gide
Não cesses de te persuadir que ela poderia ser mais bela,
a vida; a tua e a dos outros homens; não uma outra, futura,
que nos consolasse desta e nos ajudasse a aceitar sua
miséria. Não aceites. Quando começares a compreender que o
responsável por todos os males da vida não é Deus, que os
responsáveis são os homens, não te conformarás
mais com esses males.
André Gide
MILAN KUNDERA
Suponhamos que existisse no universo um planeta no qual
fosse possível nascer uma segunda vez. Ao mesmo tempo, nos
lembraríamos perfeitamente da vida que tínhamos na Terra; de
toda experiência que teríamos aqui adquirido.
Talvez existisse um planeta em que se nascesse uma terceira vez,
com a experiência de duas vidas já vividas.
E, talvez, um outro planeta e outros mais, em que a espécie humana
renasceria, subindo cada vez um degrau a mais (uma vida) na
escala do amadurecimento.
Nós, aqui na Terra (no planeta número um, no planeta da
inexperiência), podemos ter apenas uma idéia muito vaga daquilo
que acontece com o homem nos outros planetas. Teria ele mais
sabedoria? Estaria a maturidade a seu alcance? poderia atingí-la
através da repetição?
É só na perspectiva dessa utopia que as noções de otimismo e
pessimismo fazem sentido. O otimista acredita que a história humana
será menos sangrenta no planeta número cinco. O pessimista
é aquele que não acredita nisso.
A Insustentável leveza do ser - Milan Kundera
fosse possível nascer uma segunda vez. Ao mesmo tempo, nos
lembraríamos perfeitamente da vida que tínhamos na Terra; de
toda experiência que teríamos aqui adquirido.
Talvez existisse um planeta em que se nascesse uma terceira vez,
com a experiência de duas vidas já vividas.
E, talvez, um outro planeta e outros mais, em que a espécie humana
renasceria, subindo cada vez um degrau a mais (uma vida) na
escala do amadurecimento.
Nós, aqui na Terra (no planeta número um, no planeta da
inexperiência), podemos ter apenas uma idéia muito vaga daquilo
que acontece com o homem nos outros planetas. Teria ele mais
sabedoria? Estaria a maturidade a seu alcance? poderia atingí-la
através da repetição?
É só na perspectiva dessa utopia que as noções de otimismo e
pessimismo fazem sentido. O otimista acredita que a história humana
será menos sangrenta no planeta número cinco. O pessimista
é aquele que não acredita nisso.
A Insustentável leveza do ser - Milan Kundera
A CRÍTICA
Segundo Foucault, uma crítica não consiste em dizer
que as coisas não estão bem como estão. A crítica
consiste em ver sobre que tipos de evidências, de
familiaridades, de modos de pensamento adquiridos
e não refletidos, repousam as práticas que se aceitam.
Para ele, o essencial da vida humana e das relações é
o pensamento. E o pensamento é algo que pode se
ocultar, mas está lá. A crítica tem a função de detectar
o pensamento oculto nos comportamentos mais tolos
e nos hábitos mais imperceptíveis, e ensaiar a mudança.
Fazer a crítica é "desvendar portanto, o pensamento
atrás da ação e tornar difícil os gestos fáceis demais".
Nestas condições, a crítica é absolutamente indispensável
para toda transformação; pois uma transformação que
permaneça no mesmo modo de pensamento, que seria
apenas uma certa maneira melhor de ajustar o pensamento
à realidade das coisas, não passaria de uma transformação
superficial.
YEDRA
que as coisas não estão bem como estão. A crítica
consiste em ver sobre que tipos de evidências, de
familiaridades, de modos de pensamento adquiridos
e não refletidos, repousam as práticas que se aceitam.
Para ele, o essencial da vida humana e das relações é
o pensamento. E o pensamento é algo que pode se
ocultar, mas está lá. A crítica tem a função de detectar
o pensamento oculto nos comportamentos mais tolos
e nos hábitos mais imperceptíveis, e ensaiar a mudança.
Fazer a crítica é "desvendar portanto, o pensamento
atrás da ação e tornar difícil os gestos fáceis demais".
Nestas condições, a crítica é absolutamente indispensável
para toda transformação; pois uma transformação que
permaneça no mesmo modo de pensamento, que seria
apenas uma certa maneira melhor de ajustar o pensamento
à realidade das coisas, não passaria de uma transformação
superficial.
YEDRA
CLARICE LISPECTOR
Há um tipo de choro bom e há outro ruim.
O ruim é aquele em que as lágrimas correm sem parar e,
no entanto, não dão alívio. Só esgotam e exaurem.
Uma amiga perguntou-me, então, se não seria esse choro
como o de uma criança com a angústia da fome. Era. Quando
se está perto desse tipo de choro, é melhor procurar conter-se:
não vai adiantar. É melhor tentar fazer-se de forte, e enfrentar.
É difícil, mas ainda menos do que ir-se tornando exangue
a ponto de empalidecer.
Mas nem sempre é necessário tornar-se forte. Temos que
respeitar a nossa fraqueza. Então, são lágrimas suaves, de
uma tristeza legítima à qual temos direito. Elas correm devagar
e quando passam pelos lábios sente-se aquele gosto salgado,
límpido, produto de nossa dor mais profunda.
Homem chorar comove. Ele, o lutador, reconheceu sua luta
às vezes inútil. Respeito muito o homem que chora.
Eu já vi homem chorar.
Clarice Lispector
O ruim é aquele em que as lágrimas correm sem parar e,
no entanto, não dão alívio. Só esgotam e exaurem.
Uma amiga perguntou-me, então, se não seria esse choro
como o de uma criança com a angústia da fome. Era. Quando
se está perto desse tipo de choro, é melhor procurar conter-se:
não vai adiantar. É melhor tentar fazer-se de forte, e enfrentar.
É difícil, mas ainda menos do que ir-se tornando exangue
a ponto de empalidecer.
Mas nem sempre é necessário tornar-se forte. Temos que
respeitar a nossa fraqueza. Então, são lágrimas suaves, de
uma tristeza legítima à qual temos direito. Elas correm devagar
e quando passam pelos lábios sente-se aquele gosto salgado,
límpido, produto de nossa dor mais profunda.
Homem chorar comove. Ele, o lutador, reconheceu sua luta
às vezes inútil. Respeito muito o homem que chora.
Eu já vi homem chorar.
Clarice Lispector
GUY DE MAUPASSANT
Existem duas raças na terra. Aqueles que necessitam
dos outros, a quem os outros distraem, entretêm,
repousam, a quem a solidão fadiga, esgota, aniquila,
tal como a ascensão ou a travessia do deserto, e
aqueles a quem os outros, ao contrário, cansam,
aborrecem, incomodam, estenuam, ao passo que
o isolamento os acalma, mergulhando-os no repouso,
na liberdade e na fantasia do seu próprio pensamento.
Trata-se apenas de um fenômeno psíquico normal.
Os primeiros são feitos para viver exteriormente, os
segundos para viver interiormente.
GUY DE MAUPASSANT
dos outros, a quem os outros distraem, entretêm,
repousam, a quem a solidão fadiga, esgota, aniquila,
tal como a ascensão ou a travessia do deserto, e
aqueles a quem os outros, ao contrário, cansam,
aborrecem, incomodam, estenuam, ao passo que
o isolamento os acalma, mergulhando-os no repouso,
na liberdade e na fantasia do seu próprio pensamento.
Trata-se apenas de um fenômeno psíquico normal.
Os primeiros são feitos para viver exteriormente, os
segundos para viver interiormente.
GUY DE MAUPASSANT
FERNANDO PESSOA
(...) Sim, escrevo versos, e a pedra não escreve versos.
Sim, faço idéias sobre o mundo, e a planta nenhumas.
Mas é que as pedras não são poetas, são pedras;
E as plantas são plantas só, e não pensadores.
Tanto posso dizer que sou superior a elas por isso,
Como que sou inferior.
Mas não digo isso: digo da pedra, " é uma pedra",
Digo da planta, " é uma planta",
Digo de mim, " sou eu".
E não digo mais nada.
Que mais há a dizer?
(FERNANDO PESSOA)
Sim, faço idéias sobre o mundo, e a planta nenhumas.
Mas é que as pedras não são poetas, são pedras;
E as plantas são plantas só, e não pensadores.
Tanto posso dizer que sou superior a elas por isso,
Como que sou inferior.
Mas não digo isso: digo da pedra, " é uma pedra",
Digo da planta, " é uma planta",
Digo de mim, " sou eu".
E não digo mais nada.
Que mais há a dizer?
(FERNANDO PESSOA)
ERICH FROMM
A história da Humanidade até o presente é primordialmente
a história do culto de ídolos, desde os primitivos, de barro
e madeira, até os modernos, representados pelo Estado,
o líder, a produção e o consumo.
O homem transfere para o ídolo suas paixões e qualidades.
Quanto mais empobrece, tanto maior e mais forte se torna
o ídolo. Este é a forma alienada da experiência que o homem
tem de si mesmo. Ao cultuar o ídolo, o homem cultua a si
mesmo. Identifcando-se com um aspecto parcial de si
mesmo, o homem limita-se a tal aspecto; perde sua
totalidade de ser humano e deixa de crescer.
ERICH FROMM
a história do culto de ídolos, desde os primitivos, de barro
e madeira, até os modernos, representados pelo Estado,
o líder, a produção e o consumo.
O homem transfere para o ídolo suas paixões e qualidades.
Quanto mais empobrece, tanto maior e mais forte se torna
o ídolo. Este é a forma alienada da experiência que o homem
tem de si mesmo. Ao cultuar o ídolo, o homem cultua a si
mesmo. Identifcando-se com um aspecto parcial de si
mesmo, o homem limita-se a tal aspecto; perde sua
totalidade de ser humano e deixa de crescer.
ERICH FROMM
segunda-feira, 31 de março de 2008
DOMENICO DE MASI
Se nossos avós padeciam do tédio de dias sempre
iguais, nós vivemos a vertigem de instantes sempre
diversos, dilatados, acelerados, nos quais se orientam
somente aqueles que, dotados de sabedoria, sabem
viver com estilo, submetendo e sincronizando os
ritmos frenéticos do mundo aos próprios biorritmos.
Quem não possui essa sabedoria, quem não sabe criar
momentos de pausa é obrigado a longas fugas ilusórias,
em busca de alegrias passageiras.
Mas a felicidade consiste em buscá-la, e quem quer que
a busque, já está de alguma forma a caminho da sabedoria.
( Do Livro O Ócio Criativo - Domenico De Masi)
iguais, nós vivemos a vertigem de instantes sempre
diversos, dilatados, acelerados, nos quais se orientam
somente aqueles que, dotados de sabedoria, sabem
viver com estilo, submetendo e sincronizando os
ritmos frenéticos do mundo aos próprios biorritmos.
Quem não possui essa sabedoria, quem não sabe criar
momentos de pausa é obrigado a longas fugas ilusórias,
em busca de alegrias passageiras.
Mas a felicidade consiste em buscá-la, e quem quer que
a busque, já está de alguma forma a caminho da sabedoria.
( Do Livro O Ócio Criativo - Domenico De Masi)
FILOSOFAR
A palavra filosofia nos remete a alguns preconceitos inevitáveis.
Sugere algo ultrapassado e de natureza enfadonha. Talvez isto
derive do fato de alguns filósofos serem incompreensíveis para
a maioria das pessoas. Mas filosofar é simplesmente fazer os
pensamentos se curvarem em torno de si mesmos, formando
círculos de associações que nos levam a meditar, refletir. Filosofar não
significa encontrar as respostas certas e contentar-se com elas.
Significa fazer sempre de novo as mesmas perguntas e buscar ouutras
respostas, aquelas que venham a nos satisfazer no contexto de vida
que vivemos. As perguntas sim, devem ser essenciais, mas as
respostas devem abranger inovações de idéias, mudança. Eu definiria
filosofia como a evolução constante das idéias, de modo que elas
acompanhassem a vida, que também abarca mudança contínua.
YEDRA
Sugere algo ultrapassado e de natureza enfadonha. Talvez isto
derive do fato de alguns filósofos serem incompreensíveis para
a maioria das pessoas. Mas filosofar é simplesmente fazer os
pensamentos se curvarem em torno de si mesmos, formando
círculos de associações que nos levam a meditar, refletir. Filosofar não
significa encontrar as respostas certas e contentar-se com elas.
Significa fazer sempre de novo as mesmas perguntas e buscar ouutras
respostas, aquelas que venham a nos satisfazer no contexto de vida
que vivemos. As perguntas sim, devem ser essenciais, mas as
respostas devem abranger inovações de idéias, mudança. Eu definiria
filosofia como a evolução constante das idéias, de modo que elas
acompanhassem a vida, que também abarca mudança contínua.
YEDRA
A VONTADE
Somos condicionados por nossa vontade. Schopenhauer
afirmava que a vontade já é a própria ação. É que sempre
estamos desejando coisas. O desejo não realizado gera
insatisfação. Enquanto o desejo satisfeito provoca indiferença.
Assim somos duplamente mobilizados, a ter desejos e a
buscar sua satisfação. Os mais ingênuos ou superficiais,
envolvidos por seus parcos sonhos imediatistas, passam a
vida neste movimento circular: busca - satisfação - insatisfação -
indiferença. Para efetuar escolhas dentro deste ciclo restrito
de visão, é suficiente o simples entendimento do processo
raso da vida. No entanto, se o nível de insatisfação é mais
profundo e os desejos ultrapassam os limites da mobilidade
trivial, é preciso buscar nossas forças latentes e adormecidas
para encontrar os caminhos que dêem maior sentido á vida.
YEDRA
afirmava que a vontade já é a própria ação. É que sempre
estamos desejando coisas. O desejo não realizado gera
insatisfação. Enquanto o desejo satisfeito provoca indiferença.
Assim somos duplamente mobilizados, a ter desejos e a
buscar sua satisfação. Os mais ingênuos ou superficiais,
envolvidos por seus parcos sonhos imediatistas, passam a
vida neste movimento circular: busca - satisfação - insatisfação -
indiferença. Para efetuar escolhas dentro deste ciclo restrito
de visão, é suficiente o simples entendimento do processo
raso da vida. No entanto, se o nível de insatisfação é mais
profundo e os desejos ultrapassam os limites da mobilidade
trivial, é preciso buscar nossas forças latentes e adormecidas
para encontrar os caminhos que dêem maior sentido á vida.
YEDRA
MODERNISMO
Uma das características específicas do modernismo é a de
deixar as indagações humanas soltas e ecoando no nada.
Para Nietzsche e Marx, visionários do que seria os tempos
atuais, as forças da história moderna eram dialéticas e
irônicas: a começar pelo cristianismo que foi desestruturado
em seus dogmas, jogando o ser humano num caos de
ausência de valores, e diante de uma desconcertante
abundância de possibilidades, com as quais ele não
aprendeu a lidar. Mesmo para se tornar singular e dono
de uma identidade sólida, precisamos de leis próprias,
habilidades psicológicas, astúcia intelectual, e uma boa
dose de temeridade. Ninguém consegue andar em terreno
firme, confiando apenas nos próprios passos; sem um
"mapa" que delineie a orientação das intenções. Não
conseguimos dar um passo sozinhos; nossa auto-
suficiência é uma ilusão. Por isso que precisamos sempre
ser escoltados por idéias que expliquem o mundo e que
justifiquem a nossa realidade.
YEDRA
deixar as indagações humanas soltas e ecoando no nada.
Para Nietzsche e Marx, visionários do que seria os tempos
atuais, as forças da história moderna eram dialéticas e
irônicas: a começar pelo cristianismo que foi desestruturado
em seus dogmas, jogando o ser humano num caos de
ausência de valores, e diante de uma desconcertante
abundância de possibilidades, com as quais ele não
aprendeu a lidar. Mesmo para se tornar singular e dono
de uma identidade sólida, precisamos de leis próprias,
habilidades psicológicas, astúcia intelectual, e uma boa
dose de temeridade. Ninguém consegue andar em terreno
firme, confiando apenas nos próprios passos; sem um
"mapa" que delineie a orientação das intenções. Não
conseguimos dar um passo sozinhos; nossa auto-
suficiência é uma ilusão. Por isso que precisamos sempre
ser escoltados por idéias que expliquem o mundo e que
justifiquem a nossa realidade.
YEDRA
OS INIMIGOS
Quem tem inimigos sabe que eles não representam
apenas um abismo de idéias e sentimentos, que
anula qualquer possibilidade de afinidade. Um
inimigo inteligente nos provoca, nos desafia a
ponto de nos fazer "afiar" todo o nosso arsenal
de recursos mentais e psicológicos para tentar
consolidar nossa posição. Mas há um inimigo
quase invisível e que se esconde dentro de nós
mesmos; este inimigo instala o paradoxo de que
só podemos ser vencidos por nós mesmos -
"o EGO grita, a alma sussurra" - é essencial
portanto, para nossa sanidade e busca de
plenitude, que façamos a alma gritar em certas
batalhas para encobrir a voz exigente do EGO.
YEDRA
apenas um abismo de idéias e sentimentos, que
anula qualquer possibilidade de afinidade. Um
inimigo inteligente nos provoca, nos desafia a
ponto de nos fazer "afiar" todo o nosso arsenal
de recursos mentais e psicológicos para tentar
consolidar nossa posição. Mas há um inimigo
quase invisível e que se esconde dentro de nós
mesmos; este inimigo instala o paradoxo de que
só podemos ser vencidos por nós mesmos -
"o EGO grita, a alma sussurra" - é essencial
portanto, para nossa sanidade e busca de
plenitude, que façamos a alma gritar em certas
batalhas para encobrir a voz exigente do EGO.
YEDRA
OBJETIVIDADE
Se vivemos com objetivos precisos a serem incansavelmente
perseguidos, acabamos por embotar as emoções. Os
estados de espírito constituem o que há me melhor na
vida. Quando não somos escoltados pela emoção, a
beleza da vida se perde. As coisas existem para nós
apenas quando nosso olhar paira sobre elas. E para
ver realmente uma coisa em sua essência é preciso
antes de mais nada destacar-lhe a beleza. Só os
sentidos podem despertar a alma e dar-lhe sua real
dimensão. E a alma retribui, curando os sentidos de
sua disposição superficial e prosaica. Como disse
Oscar Wilde: " nos arruinamos quando investimos de
maneira excessiva na prosa da vida, mas acabar
arruinado pela poesia da vida, é uma honra."
As pessoas presas à sua objetividade dominante
não conseguem expressar-se com desembaraçada
sensibilidade e com isso apenas assistem à vida,
como espectros superficiais e exteriores à sua
essência, carregando um lado semi-morto de si
mesmo, em lamentável estado de adormecimento.
YEDRA
perseguidos, acabamos por embotar as emoções. Os
estados de espírito constituem o que há me melhor na
vida. Quando não somos escoltados pela emoção, a
beleza da vida se perde. As coisas existem para nós
apenas quando nosso olhar paira sobre elas. E para
ver realmente uma coisa em sua essência é preciso
antes de mais nada destacar-lhe a beleza. Só os
sentidos podem despertar a alma e dar-lhe sua real
dimensão. E a alma retribui, curando os sentidos de
sua disposição superficial e prosaica. Como disse
Oscar Wilde: " nos arruinamos quando investimos de
maneira excessiva na prosa da vida, mas acabar
arruinado pela poesia da vida, é uma honra."
As pessoas presas à sua objetividade dominante
não conseguem expressar-se com desembaraçada
sensibilidade e com isso apenas assistem à vida,
como espectros superficiais e exteriores à sua
essência, carregando um lado semi-morto de si
mesmo, em lamentável estado de adormecimento.
YEDRA
OPINIÕES ALHEIAS
As opiniões que acolhemos a nosso respeito são
importantes. Para os inteligentes servem como meio
de reflexão e auto-conhecimento. Para os mais
intransigentes servem como crítica infundada e
oca. Portanto, o essencial é o que faremos com as
opiniões que ouvimos sobre nós.
Viktor Frankl criador da logoterapia - terapia baseada
na busca de sentido - propôs como caminho de
crescimento pessoal a quebra da visão pendular entre
auto-aceitação e a aceitação alheia; porque se
dependermos da aceitação alheia iremos sempre colher
frustrações e nossa personalidade será portanto
instável. Por outro lado, se ignorarmos a opinião alheia,
nos isolamos e criamos um tipo de comportamento à
beira da psicose, em que o "outro" não tem valor nem
vez. Diante disso, Frankl sugere a saída para este
dualismo: criar um movimento de ascensão, que
busca uma razão maior que justifique nossa vida e
que nos proporcione felicidade.
YEDRA
importantes. Para os inteligentes servem como meio
de reflexão e auto-conhecimento. Para os mais
intransigentes servem como crítica infundada e
oca. Portanto, o essencial é o que faremos com as
opiniões que ouvimos sobre nós.
Viktor Frankl criador da logoterapia - terapia baseada
na busca de sentido - propôs como caminho de
crescimento pessoal a quebra da visão pendular entre
auto-aceitação e a aceitação alheia; porque se
dependermos da aceitação alheia iremos sempre colher
frustrações e nossa personalidade será portanto
instável. Por outro lado, se ignorarmos a opinião alheia,
nos isolamos e criamos um tipo de comportamento à
beira da psicose, em que o "outro" não tem valor nem
vez. Diante disso, Frankl sugere a saída para este
dualismo: criar um movimento de ascensão, que
busca uma razão maior que justifique nossa vida e
que nos proporcione felicidade.
YEDRA
OLHAR O MUNDO
A característica essencial de uma pessoa amadurecida
e que construiu uma base sólida de idéias sábias e
pertinentes é a sua jovialidade: um traço marcante de
atualidade que consegue mantê-la à vontade num
mundo em constante mudança. Mesmo que se
recuse a ostentar o sorriso complacente e permanente
dos tolos, a pessoa madura atingiu o seu "tamanho" e
sabe o que é possível e o que não é. Yeats a definiria num
simples verso : "... seus velhos olhos brilhantes são
joviais..." - não existe imagem mais perfeita para
traduzir o modo conciliado da maturidade com a
juventude numa mesma pessoa.
YEDRA
e que construiu uma base sólida de idéias sábias e
pertinentes é a sua jovialidade: um traço marcante de
atualidade que consegue mantê-la à vontade num
mundo em constante mudança. Mesmo que se
recuse a ostentar o sorriso complacente e permanente
dos tolos, a pessoa madura atingiu o seu "tamanho" e
sabe o que é possível e o que não é. Yeats a definiria num
simples verso : "... seus velhos olhos brilhantes são
joviais..." - não existe imagem mais perfeita para
traduzir o modo conciliado da maturidade com a
juventude numa mesma pessoa.
YEDRA
ELOGIO DA SOMBRA
A velhice (tal é o nome que os outros lhe dão)
pode ser o tempo de nossa felicidade.
O animal morreu ou quase morreu.
Restam o homem e sua alma.
Vivo entre formas luminosas e vagas
que não são ainda a escuridão.
Buenos Aires,
que antes se espalhava em subúrbios
em direção à planície incessante,
voltou a ser La Recoleta, o Retiro,
as imprecisas ruas do Once
e as precárias casas velhas
que ainda chamamos o Sul.
Sempre em minha vida foram demasiadas as coisas;
Demócrito de Abdera arrancou os próprios olhos para pensar;
o tempo foi meu Demócrito.
Esta penumbra é lenta e não dói;
flui por um manso declive
e se parece à eternidade.
Meus amigos não têm rosto,
as mulheres são aquilo que foram há tantos anos,
as esquinas podem ser outras,
não há letras nas páginas dos livros.
Tudo isso deveria atemorizar-me,
mas é um deleite, um retorno.
Das gerações dos textos que há na terra
só terei lido uns poucos,
os que continuo lendo na memória,
lendo e transformando.
Do Sul, do Leste, do Oeste, do Norte
convergem os caminhos que me trouxeram
a meu secreto centro.
Esses caminhos foram ecos e passos,
mulheres, homens, agonias, ressurreições,
dias e noites,
entressonhos e sonhos,
cada ínfimo instante do ontem
e dos ontens do mundo,
a firme espada do dinamarquês e a lua do persa,
os atos dos mortos,
o compartilhado amor, as palavras,
Emerson e a neve e tantas coisas.
Agora posso esquecê-las. Chego a meu centro,
a minha álgebra e minha chave,
a meu espelho.
Breve saberei quem sou.
JORGE LUIS BORGES
pode ser o tempo de nossa felicidade.
O animal morreu ou quase morreu.
Restam o homem e sua alma.
Vivo entre formas luminosas e vagas
que não são ainda a escuridão.
Buenos Aires,
que antes se espalhava em subúrbios
em direção à planície incessante,
voltou a ser La Recoleta, o Retiro,
as imprecisas ruas do Once
e as precárias casas velhas
que ainda chamamos o Sul.
Sempre em minha vida foram demasiadas as coisas;
Demócrito de Abdera arrancou os próprios olhos para pensar;
o tempo foi meu Demócrito.
Esta penumbra é lenta e não dói;
flui por um manso declive
e se parece à eternidade.
Meus amigos não têm rosto,
as mulheres são aquilo que foram há tantos anos,
as esquinas podem ser outras,
não há letras nas páginas dos livros.
Tudo isso deveria atemorizar-me,
mas é um deleite, um retorno.
Das gerações dos textos que há na terra
só terei lido uns poucos,
os que continuo lendo na memória,
lendo e transformando.
Do Sul, do Leste, do Oeste, do Norte
convergem os caminhos que me trouxeram
a meu secreto centro.
Esses caminhos foram ecos e passos,
mulheres, homens, agonias, ressurreições,
dias e noites,
entressonhos e sonhos,
cada ínfimo instante do ontem
e dos ontens do mundo,
a firme espada do dinamarquês e a lua do persa,
os atos dos mortos,
o compartilhado amor, as palavras,
Emerson e a neve e tantas coisas.
Agora posso esquecê-las. Chego a meu centro,
a minha álgebra e minha chave,
a meu espelho.
Breve saberei quem sou.
JORGE LUIS BORGES
MARCEL PROUST
O amor não pára de preparar seu próprio desaparecimento,
de figurar sua ruptura. Assim é no amor como na morte.
Do mesmo modo que imaginamos estar ainda vivos para ver
cara que farão aqueles que nos perderam, também imaginamos
estar ainda suficientemente apaixonados para gozar a tristeza
daquele que mais amamos. É bem verdade que repetimos nossos
amores passados, mas é verdade que nosso amor atual, em toda
a sua vivacidade, "ensaia" o momento da ruptura ou antecipa
seu próprio fim. Nesse ensaio de um desfecho sofremos de
antemão, sem esquecer uma só, todas as dores de uma ruptura
que em outros momentos julgamos poder evitar.
MARCEL PROUST
de figurar sua ruptura. Assim é no amor como na morte.
Do mesmo modo que imaginamos estar ainda vivos para ver
cara que farão aqueles que nos perderam, também imaginamos
estar ainda suficientemente apaixonados para gozar a tristeza
daquele que mais amamos. É bem verdade que repetimos nossos
amores passados, mas é verdade que nosso amor atual, em toda
a sua vivacidade, "ensaia" o momento da ruptura ou antecipa
seu próprio fim. Nesse ensaio de um desfecho sofremos de
antemão, sem esquecer uma só, todas as dores de uma ruptura
que em outros momentos julgamos poder evitar.
MARCEL PROUST
VIVER O PARADOXO
Vivemos um paradoxo. A vida abre caminhos que levam
a lugar nenhum... o que alcança algum significado é
apenas o caminhar. A possibilidade de escolha se abre,
mas independente de qual seja, o fim da estrada é sempre
o mesmo. Mesmo que sigamos por caminhos alienantes,
distraídos de tudo, perdidos na superficialidade das
coisas, ou se por outro lado, optemos para obter um
esclarecimento contínuo, o fim do caminho é exatamente
o mesmo para todos: a mortalidade a esperar no horizonte.
Embora a alienação seja indissociada da estrutura
ideológica, ela não deve conduzir necessariamente à
descrença acentuada nos significados. Por isso a
escolha em direção à trilha do discernimento
expandido, nos faz ver que mesmo sendo o fim
inevitável, podemos chegar à linha do horizonte
final de forma produtiva: empenhados em refletir
e estar em estado de atenção para tudo aquilo
que se vive.
YEDRA
a lugar nenhum... o que alcança algum significado é
apenas o caminhar. A possibilidade de escolha se abre,
mas independente de qual seja, o fim da estrada é sempre
o mesmo. Mesmo que sigamos por caminhos alienantes,
distraídos de tudo, perdidos na superficialidade das
coisas, ou se por outro lado, optemos para obter um
esclarecimento contínuo, o fim do caminho é exatamente
o mesmo para todos: a mortalidade a esperar no horizonte.
Embora a alienação seja indissociada da estrutura
ideológica, ela não deve conduzir necessariamente à
descrença acentuada nos significados. Por isso a
escolha em direção à trilha do discernimento
expandido, nos faz ver que mesmo sendo o fim
inevitável, podemos chegar à linha do horizonte
final de forma produtiva: empenhados em refletir
e estar em estado de atenção para tudo aquilo
que se vive.
YEDRA
segunda-feira, 17 de março de 2008
A FILOSOFIA
A Filosofia, como qualquer outro produto da inteligência,
não pode nos mostrar idéias de modo direto, que se
traduzam numa compreensão imediata. Os filósofos, em
sua maioria, escreveram seus textos de forma rebuscada
e às vezes hermética, acompanhando o estilo de sua
época, e tinham necessidade de serem dogmáticos em
defesa de suas teorias. Por isso todo o contexto de
idéias filosóficas adquire um tom sério, e muitas vezes,
enigmático. Mas a Filosofia "não deve ser amarga", nem
merecedora de aversão como retórica inútil e ultrapassada.
Os pensadores quiseram organizar os conceitos que
explicassem o mundo, e através deles extraírem uma ética.
Porque precisamos entender o mundo primeiramente, para
aprendermos a viver nele. Mesmo os que nunca entraram
em contato com a Filosofia, deveriam estar conscientes de
que usam muitos conceitos filosóficos em sua vida cotidiana.
A Filosofia nasceu com a vida e nela permanece, como ação
reflexiva da realidade.
YEDRA
não pode nos mostrar idéias de modo direto, que se
traduzam numa compreensão imediata. Os filósofos, em
sua maioria, escreveram seus textos de forma rebuscada
e às vezes hermética, acompanhando o estilo de sua
época, e tinham necessidade de serem dogmáticos em
defesa de suas teorias. Por isso todo o contexto de
idéias filosóficas adquire um tom sério, e muitas vezes,
enigmático. Mas a Filosofia "não deve ser amarga", nem
merecedora de aversão como retórica inútil e ultrapassada.
Os pensadores quiseram organizar os conceitos que
explicassem o mundo, e através deles extraírem uma ética.
Porque precisamos entender o mundo primeiramente, para
aprendermos a viver nele. Mesmo os que nunca entraram
em contato com a Filosofia, deveriam estar conscientes de
que usam muitos conceitos filosóficos em sua vida cotidiana.
A Filosofia nasceu com a vida e nela permanece, como ação
reflexiva da realidade.
YEDRA
HANNAH ARENDT
A suposição de que a identidade de uma pessoa
transcende, em grandeza e importância, tudo o
que ela possa fazer ou produzir é um elemento
indispensável da dignidade humana. Só os
vulgares consentirão em atribuir a sua dignidade
ao que fizeram, em virtude dessa condescendência
serão escravos e prisioneiros das sua próprias
capacidades e descobrirão caso lhes reste algo
mais que mera vaidade, que ser escravo e
prisioneiro de si mesmo é tão ou mais amargo e
humilhante que ser escravo de outrem.
(HANNAH ARENDT)
transcende, em grandeza e importância, tudo o
que ela possa fazer ou produzir é um elemento
indispensável da dignidade humana. Só os
vulgares consentirão em atribuir a sua dignidade
ao que fizeram, em virtude dessa condescendência
serão escravos e prisioneiros das sua próprias
capacidades e descobrirão caso lhes reste algo
mais que mera vaidade, que ser escravo e
prisioneiro de si mesmo é tão ou mais amargo e
humilhante que ser escravo de outrem.
(HANNAH ARENDT)
SOBRE NIETZSCHE
" A grandeza de um artista não se mede pelos "bons
sentimentos" que ele suscita, mas reside no "grande
estilo", quer dizer, na capacidade de "se tornar" senhor
do caos interior; em forçar seu próprio caos a assumir
forma; agir de modo lógico, simples, categórico, tornar-se
lei, eis a grande ambição."
(NIETZSCHE)
Neste texto de Nietzsche pode sutilmente
ser extraído um esboço ético, embora seja difícil encontrar
uma moral, no sentido ético, em Nietzsche. Este conceito
de "grande estilo" se aproxima de um contexto ético, no
sentido de sugerir uma forma de conduta eficiente. Virtude
ou grandeza seria essa capacidade de conciliar as forças
dentro de nosso interior, de modo a ser uma pessoa que age
racionalmente, mas que também sabe usar a sensibilidade.
O ser completo ideal. Isso seria aos olhos de Nietzsche, um
ideal aceitável ( embora ele odeie esta palavra), porque
não é como todos os demais ideais exteriores à vida, imposto
por autoridades seculares.
Quem comete o erro de ver em Nietzsche um anarquista
insano, é incapaz de enxergar o grau de seu humanismo,
capaz de elevar o homem na altura de suas capacidades.
Cabe ao homem fazer de si mesmo um todo tão harmonioso,
que embora em extremos opostos, a razão e a sensibilidade
possam estar em harmonia dentro dele.
YEDRA
sentimentos" que ele suscita, mas reside no "grande
estilo", quer dizer, na capacidade de "se tornar" senhor
do caos interior; em forçar seu próprio caos a assumir
forma; agir de modo lógico, simples, categórico, tornar-se
lei, eis a grande ambição."
(NIETZSCHE)
Neste texto de Nietzsche pode sutilmente
ser extraído um esboço ético, embora seja difícil encontrar
uma moral, no sentido ético, em Nietzsche. Este conceito
de "grande estilo" se aproxima de um contexto ético, no
sentido de sugerir uma forma de conduta eficiente. Virtude
ou grandeza seria essa capacidade de conciliar as forças
dentro de nosso interior, de modo a ser uma pessoa que age
racionalmente, mas que também sabe usar a sensibilidade.
O ser completo ideal. Isso seria aos olhos de Nietzsche, um
ideal aceitável ( embora ele odeie esta palavra), porque
não é como todos os demais ideais exteriores à vida, imposto
por autoridades seculares.
Quem comete o erro de ver em Nietzsche um anarquista
insano, é incapaz de enxergar o grau de seu humanismo,
capaz de elevar o homem na altura de suas capacidades.
Cabe ao homem fazer de si mesmo um todo tão harmonioso,
que embora em extremos opostos, a razão e a sensibilidade
possam estar em harmonia dentro dele.
YEDRA
E.M.CIORAN
Todos os dias necessito minha ração de dúvida. Me alimenta, literalmente.
Nunca houve um ceticismo mais orgânico. E, sem dúvida, todas as minhas
reações são as de um histérico. Dá-me dúvidas e mais dúvidas.
São - mais que meu alimento - minha droga. Não posso prescindir delas.
Estou intoxicado com elas para toda a vida. De modo que quando encontro
uma, a que seja, me precipito sobre ela, a devoro, a incorporo na minha
substância. Pois minha capacidade para assimilá-las - as dúvidas -
é ilimitada; as digiro todas, são minha substância e minha razão de ser.
Não posso imaginar-me sem elas. Dá-me dúvidas, mais e mais dúvidas.
E. M. Cioran
Nunca houve um ceticismo mais orgânico. E, sem dúvida, todas as minhas
reações são as de um histérico. Dá-me dúvidas e mais dúvidas.
São - mais que meu alimento - minha droga. Não posso prescindir delas.
Estou intoxicado com elas para toda a vida. De modo que quando encontro
uma, a que seja, me precipito sobre ela, a devoro, a incorporo na minha
substância. Pois minha capacidade para assimilá-las - as dúvidas -
é ilimitada; as digiro todas, são minha substância e minha razão de ser.
Não posso imaginar-me sem elas. Dá-me dúvidas, mais e mais dúvidas.
E. M. Cioran
SIMPLICIDADE
Simplicidade é a vida sem frases e sem mentiras, sem exagero
e sem ênfases. É viver a vida como se respira, sem esforços
desmedidos, sem perseguir glórias. Simples é a vida sem
grandes efeitos e sem grandes amarguras. Ser simples é
se aceitar e se recusar, sem louvor e sem desprezo.
Simplicidade é despojamento: colher o que acontece, sem
nada guardar de seu. Ser dono de tudo e de nada.
Simplicidade é estar de posse da liberdade de mudar
juntamente com a implacável decisão dos fatos. É ter
leveza e transparência para se mover dentro da complexa
realidade como quem dança uma melodia carregada de
harmonia.
YEDRA
e sem ênfases. É viver a vida como se respira, sem esforços
desmedidos, sem perseguir glórias. Simples é a vida sem
grandes efeitos e sem grandes amarguras. Ser simples é
se aceitar e se recusar, sem louvor e sem desprezo.
Simplicidade é despojamento: colher o que acontece, sem
nada guardar de seu. Ser dono de tudo e de nada.
Simplicidade é estar de posse da liberdade de mudar
juntamente com a implacável decisão dos fatos. É ter
leveza e transparência para se mover dentro da complexa
realidade como quem dança uma melodia carregada de
harmonia.
YEDRA
HENRY MILLER
Em um sentido profundo adiamos a ação para sempre.
Paqueramos o destino e arrulhamo-nos com mitos para
nos adormecer. Morremos com os sofrimentos de nossas
próprias lendas trágicas como aranhas presas em suas teias.
Se há algo que merece ser chamado "obsceno" é esse
confronto fugaz e de relance com os mistérios, esse andar
até a borda do abismo, gozando de todos os êxtases da
vertigem, mas relutando em ceder ao feitiço do desconhecido.
O obsceno possui todas as propriedades da zona oculta.
É tão vasto quanto o próprio inconsciente, e tão amorfo e
fluído como a substância mesma do inconsciente. É o que
vem à tona como algo estranho, embriagado e proibido e que,
portanto, paralisa e seduz quando, tal como Narciso, observa
a nossa imagem diante do espelho da nossa própria
iniqüidade. É bem conhecido por todos e ao mesmo tempo
menosprezadoe rejeitado, razão pela qual aflora sem cessar
com máscaras proteiformes, nos momentos menos esperados.
Quando é reconhecido e aceito, quer como produto da
imaginação, quer como parte integrante da realidade humana,
inspira o mesmo horror e aversão que poderia produzir o
lótus florido que submerge suas raízes no rio que lhe
deu origem.
HENRY MILLER
Paqueramos o destino e arrulhamo-nos com mitos para
nos adormecer. Morremos com os sofrimentos de nossas
próprias lendas trágicas como aranhas presas em suas teias.
Se há algo que merece ser chamado "obsceno" é esse
confronto fugaz e de relance com os mistérios, esse andar
até a borda do abismo, gozando de todos os êxtases da
vertigem, mas relutando em ceder ao feitiço do desconhecido.
O obsceno possui todas as propriedades da zona oculta.
É tão vasto quanto o próprio inconsciente, e tão amorfo e
fluído como a substância mesma do inconsciente. É o que
vem à tona como algo estranho, embriagado e proibido e que,
portanto, paralisa e seduz quando, tal como Narciso, observa
a nossa imagem diante do espelho da nossa própria
iniqüidade. É bem conhecido por todos e ao mesmo tempo
menosprezadoe rejeitado, razão pela qual aflora sem cessar
com máscaras proteiformes, nos momentos menos esperados.
Quando é reconhecido e aceito, quer como produto da
imaginação, quer como parte integrante da realidade humana,
inspira o mesmo horror e aversão que poderia produzir o
lótus florido que submerge suas raízes no rio que lhe
deu origem.
HENRY MILLER
O PENSAR
Pensamos subjetivamente quando nosso ponto de
referência está dentro de nós mesmos; quando nosso
pensamento é dirigido para a expressão de sentimentos,
sensações, desejos e necessidades. Para pensar
objetivamente, o ponto de referência deve deslocar-se
para fora de nós e a compreensão das conexões de
causa e efeito, assim como as relações entre os fatos
não devem ser influenciadas por nossos sentimentos
e desejos pessoais. Os atos são visíveis, enquanto
sentimentos são eventos internos e particulares.
Sentimentos não se comprovam objetivamente e, sendo
assim, não ocupam lugar no pensamento objetivo. Por
isso as palavras nunca conseguirão descrever todos
os graus de emoção que um ser humano é capaz
de experimentar.
YEDRA
referência está dentro de nós mesmos; quando nosso
pensamento é dirigido para a expressão de sentimentos,
sensações, desejos e necessidades. Para pensar
objetivamente, o ponto de referência deve deslocar-se
para fora de nós e a compreensão das conexões de
causa e efeito, assim como as relações entre os fatos
não devem ser influenciadas por nossos sentimentos
e desejos pessoais. Os atos são visíveis, enquanto
sentimentos são eventos internos e particulares.
Sentimentos não se comprovam objetivamente e, sendo
assim, não ocupam lugar no pensamento objetivo. Por
isso as palavras nunca conseguirão descrever todos
os graus de emoção que um ser humano é capaz
de experimentar.
YEDRA
segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008
O TEMPO
Viver preso ao passado pode ser uma forma
dolorosa de povoar o presente de rancores e
mágoas. Assim como instalar-se idilicamente no
futuro, é viver sobre hipóteses provavelmente
irrealizáveis. Então por quê não aprendemos a
viver no presente? Talvez porque viver no presente
exija concentração e somos dispersivos. Ou talvez
porque para viver o presente teríamos que ser
racionais e práticos, e somos afetivos e nostálgicos.
O presente nos intimida porque temos que ser
rápidos, temos que efetuar escolhas, apostar,
correr riscos... O que se viveu pode nos ajudar,
como também pode nos confundir nas decisões
presentes. O futuro não existe como tempo: não
passa de um ponto de interrogação contemplando
as reticências do passado. Quem sabe não seja por
causa de tudo isso que não saibamos viver com
alegria o tempo presente... O presente é o tempo
definitivo, onde se realizam as escolhas, que serão
ao mesmo tempo passado e futuro. O presente é
a nossa tragédia.
YEDRA
dolorosa de povoar o presente de rancores e
mágoas. Assim como instalar-se idilicamente no
futuro, é viver sobre hipóteses provavelmente
irrealizáveis. Então por quê não aprendemos a
viver no presente? Talvez porque viver no presente
exija concentração e somos dispersivos. Ou talvez
porque para viver o presente teríamos que ser
racionais e práticos, e somos afetivos e nostálgicos.
O presente nos intimida porque temos que ser
rápidos, temos que efetuar escolhas, apostar,
correr riscos... O que se viveu pode nos ajudar,
como também pode nos confundir nas decisões
presentes. O futuro não existe como tempo: não
passa de um ponto de interrogação contemplando
as reticências do passado. Quem sabe não seja por
causa de tudo isso que não saibamos viver com
alegria o tempo presente... O presente é o tempo
definitivo, onde se realizam as escolhas, que serão
ao mesmo tempo passado e futuro. O presente é
a nossa tragédia.
YEDRA
A LEITURA
Por que a leitura é importante? Porque ela dilata
nosso poder de imaginar, nos ajuda a criar meios de
expressar o que sentimos. O que a leitura nos oferece?
Nos oferece intimidade: percebemos o mundo sob a
perspectiva de uma outra pessoa. Por que ler os clássicos?
Porque eles são os portadores de conceitos eternos, que se
encaixam perfeitamente em nosso vivência diária. E por que
então a negligência com a leitura? Porque a linguagem escrita
perdeu seu espaço para a linguagem oral e as imagens. Vivemos
hoje sob o domínio das imagens; elas exercem grande atração
sobre o cérebro: prendem a atenção. O atrativo das imagens e a
leitura " competem" num mesmo espaço : a imaginação. Por isso
quem não satisfaz sua necessidade de fantasia com os livros, antes
de entregar-se ao apelo das imagens, nunca desenvolverá um
hábito de leitura forte.
YEDRA
nosso poder de imaginar, nos ajuda a criar meios de
expressar o que sentimos. O que a leitura nos oferece?
Nos oferece intimidade: percebemos o mundo sob a
perspectiva de uma outra pessoa. Por que ler os clássicos?
Porque eles são os portadores de conceitos eternos, que se
encaixam perfeitamente em nosso vivência diária. E por que
então a negligência com a leitura? Porque a linguagem escrita
perdeu seu espaço para a linguagem oral e as imagens. Vivemos
hoje sob o domínio das imagens; elas exercem grande atração
sobre o cérebro: prendem a atenção. O atrativo das imagens e a
leitura " competem" num mesmo espaço : a imaginação. Por isso
quem não satisfaz sua necessidade de fantasia com os livros, antes
de entregar-se ao apelo das imagens, nunca desenvolverá um
hábito de leitura forte.
YEDRA
D. QUIXOTE
Em Dom Quixote, famoso romance de Miguel
de Cervantes, vemos o retrato de uma amizade
incomum. Dois parceiros se unem com objetivos
diferentes. Dom Quixote busca a fama, enquanto
seu leal escudeiro Sancho Pança, o segue em vista
de recompensas materiais. Do contraste entre razão
e loucura, e das muitas aventuras pelas quais
passaram, vão sendo mostrados valores como
justiça, lealdade, amizade, amor, coragem e
busca de reconhecimento. Talvez seja este conteúdo
ético-humano, o que torna o romance sempre atual.
A aventura de Dom Quixote é uma grande metáfora:
a fantasia que se sobrepõe à realidade e permite
que o personagem sobreviva à aridez de uma vida
sem grandes atrativos, a fama buscada para superação
da morte e a evidência de que o ser humano tende a
acreditar naquilo que quer. Assim como o herói é duplo:
apresentando momentos de sensatez e loucura, em
certas passagens até mesmo os personagens "lúcidos"
são seduzidos pelos devaneios do herói, participando
da sua loucura e se divertindo com ela.
YEDRA
de Cervantes, vemos o retrato de uma amizade
incomum. Dois parceiros se unem com objetivos
diferentes. Dom Quixote busca a fama, enquanto
seu leal escudeiro Sancho Pança, o segue em vista
de recompensas materiais. Do contraste entre razão
e loucura, e das muitas aventuras pelas quais
passaram, vão sendo mostrados valores como
justiça, lealdade, amizade, amor, coragem e
busca de reconhecimento. Talvez seja este conteúdo
ético-humano, o que torna o romance sempre atual.
A aventura de Dom Quixote é uma grande metáfora:
a fantasia que se sobrepõe à realidade e permite
que o personagem sobreviva à aridez de uma vida
sem grandes atrativos, a fama buscada para superação
da morte e a evidência de que o ser humano tende a
acreditar naquilo que quer. Assim como o herói é duplo:
apresentando momentos de sensatez e loucura, em
certas passagens até mesmo os personagens "lúcidos"
são seduzidos pelos devaneios do herói, participando
da sua loucura e se divertindo com ela.
YEDRA
CLARICE LISPECTOR
O que me tranqüiliza
é que tudo o que existe,
existe com uma precisão absoluta.
O que for do tamanho de uma cabeça de alfinete
não transborda nem uma fração de milímetro
além do tamanho de uma cabeça de alfinete.
Tudo o que existe é de uma grande exatidão.
Pena é que a maior parte do que existe
com essa exatidão nos é tecnicamente invisível.
O bom é que a verdade chega a nós
como um sentido secreto das coisas.
Nós terminamos adivinhando, confusos,
a perfeição.
Clarice Lispector
é que tudo o que existe,
existe com uma precisão absoluta.
O que for do tamanho de uma cabeça de alfinete
não transborda nem uma fração de milímetro
além do tamanho de uma cabeça de alfinete.
Tudo o que existe é de uma grande exatidão.
Pena é que a maior parte do que existe
com essa exatidão nos é tecnicamente invisível.
O bom é que a verdade chega a nós
como um sentido secreto das coisas.
Nós terminamos adivinhando, confusos,
a perfeição.
Clarice Lispector
TRISTAN TZARA
Pegue um jornal.
Pegue a tesoura.
Escolha no jornal um artigo do tamanho
que você deseja dar a seu poema.
Recorte o artigo.
Recorte em seguida com atenção algumas palavras
que formam esse artigo e meta-as num saco.
Agite suavemente.
Tire em seguida cada pedaço um após o outro.
Copie conscienciosamente na ordem em que elas
são tiradas do saco.
O poema se parecerá com você.
E ei-lo um escritor infinitamente original e de uma
sensibilidade graciosa, ainda que incompreendido do público.
( TRISTAN TZARA )
Pegue a tesoura.
Escolha no jornal um artigo do tamanho
que você deseja dar a seu poema.
Recorte o artigo.
Recorte em seguida com atenção algumas palavras
que formam esse artigo e meta-as num saco.
Agite suavemente.
Tire em seguida cada pedaço um após o outro.
Copie conscienciosamente na ordem em que elas
são tiradas do saco.
O poema se parecerá com você.
E ei-lo um escritor infinitamente original e de uma
sensibilidade graciosa, ainda que incompreendido do público.
( TRISTAN TZARA )
MUNDO VIRTUAL
" A ciência dos futuros é a que distingue os
deuses dos homens - donde vem, sem dúvida,
aos homens, aquele antigo desejo de serem
como deuses!"
(PLATÃO)
A vontade de brincarmos de deuses, nos levou a criar
o mundo virtual. O único perigo é acreditarmos na
brincadeira. O mundo virtual deve evoluir e servir ao
homem, mas não pode ameaçá-lo. O virtual é um
mundo transitório, onde procuramos conteúdos para
melhorar a vida real. Quando ele se torna um mundo
permanente, ficamos doentes. E a patologia está em
não perceber essa relação e passar a viver mais lá
do que cá.
(EDUARDO MUSSAK)
deuses dos homens - donde vem, sem dúvida,
aos homens, aquele antigo desejo de serem
como deuses!"
(PLATÃO)
A vontade de brincarmos de deuses, nos levou a criar
o mundo virtual. O único perigo é acreditarmos na
brincadeira. O mundo virtual deve evoluir e servir ao
homem, mas não pode ameaçá-lo. O virtual é um
mundo transitório, onde procuramos conteúdos para
melhorar a vida real. Quando ele se torna um mundo
permanente, ficamos doentes. E a patologia está em
não perceber essa relação e passar a viver mais lá
do que cá.
(EDUARDO MUSSAK)
FRANCIS PONGE
A PAISAGEM
O horizonte, sobrelinhado com acentos vaporosos,
parece escrito em pequenos caracteres, com tinta
mais ou menos pálida segundo os jogos de luz.
Do que está mais próximo, não usufruo mais
do que como de um quadro,
Do que está ainda mais próximo, do que como
de esculturas, ou arquiteturas,
A seguir, da própria realidade das coisas a meus pés,
como de alimentos, com uma sensação de verdadeira indigestão,
Até que finalmente em meu corpo tudo se engolfa e levanta vôo
pela cabeça, como que por chaminé que
desembocasse em pleno céu.
FRANCIS PONGE
O horizonte, sobrelinhado com acentos vaporosos,
parece escrito em pequenos caracteres, com tinta
mais ou menos pálida segundo os jogos de luz.
Do que está mais próximo, não usufruo mais
do que como de um quadro,
Do que está ainda mais próximo, do que como
de esculturas, ou arquiteturas,
A seguir, da própria realidade das coisas a meus pés,
como de alimentos, com uma sensação de verdadeira indigestão,
Até que finalmente em meu corpo tudo se engolfa e levanta vôo
pela cabeça, como que por chaminé que
desembocasse em pleno céu.
FRANCIS PONGE
terça-feira, 15 de janeiro de 2008
O AMOR
Todo amor é amor a alguma coisa, que se deseja e que
nos falta. O amor não é completude, mas incompletude.
Não fusão, mas busca. O amor é desejo, e desejo é falta.
Mas só há desejo se a falta é percebida. E só há amor se
o desejo se polariza sobre determinado objeto. Comer
porque se tem fome é uma coisa, gostar do que se come,
ou comer do que se gosta, é outra coisa. Desejar uma
mulher, qualquer uma, é uma coisa. Desejar " esta mulher",
é outra. Estaríamos apaixonados, no entanto, se desejássemos,
de uma maneira ou de outra, aquele ou aquela que amamos?
Sem dúvida não. Se nem todo desejo é amor, todo amor é
desejo.
(ANDRÉ COMTE SPONVILLE)
nos falta. O amor não é completude, mas incompletude.
Não fusão, mas busca. O amor é desejo, e desejo é falta.
Mas só há desejo se a falta é percebida. E só há amor se
o desejo se polariza sobre determinado objeto. Comer
porque se tem fome é uma coisa, gostar do que se come,
ou comer do que se gosta, é outra coisa. Desejar uma
mulher, qualquer uma, é uma coisa. Desejar " esta mulher",
é outra. Estaríamos apaixonados, no entanto, se desejássemos,
de uma maneira ou de outra, aquele ou aquela que amamos?
Sem dúvida não. Se nem todo desejo é amor, todo amor é
desejo.
(ANDRÉ COMTE SPONVILLE)
JÚLIO CORTÁZAR
Amo-te por cada pestana, cabelo, debato-me contigo em corredores
branquíssimos de onde nascem fontes de luz,
luto contigo em cada nome, arranco-te com delicadeza de cicatriz,
vou colocando em teus cabelos cinzas de relâmpago
e espigas que dormiam à chuva.
Não quero que tenhas uma forma, antes que sejas
precisamente o que vem por detrás da tua mão,
porque a água, considera a água, e os leões
quando se dissolvem no açúcar da fábula,
e os gestos, essa arquitectura do nada,
acendendo suas luzes a metade do seu encontro.
Todas as manhãs são o quadro onde te invento, desenho,
e te apago, assim não és, nem
com esse cabelo caído, esse sorriso.
Procuro-te na tua totalidade, no copo onde o vinho
é também lua e espelho,
procuro esse limite que faz vibrar um homem
numa galeria de museu.
E quero-te, e faz tempo e frio.
Julio Cortázar
branquíssimos de onde nascem fontes de luz,
luto contigo em cada nome, arranco-te com delicadeza de cicatriz,
vou colocando em teus cabelos cinzas de relâmpago
e espigas que dormiam à chuva.
Não quero que tenhas uma forma, antes que sejas
precisamente o que vem por detrás da tua mão,
porque a água, considera a água, e os leões
quando se dissolvem no açúcar da fábula,
e os gestos, essa arquitectura do nada,
acendendo suas luzes a metade do seu encontro.
Todas as manhãs são o quadro onde te invento, desenho,
e te apago, assim não és, nem
com esse cabelo caído, esse sorriso.
Procuro-te na tua totalidade, no copo onde o vinho
é também lua e espelho,
procuro esse limite que faz vibrar um homem
numa galeria de museu.
E quero-te, e faz tempo e frio.
Julio Cortázar
DESISTIR
Há duas espécies de "desistir" ou de "largar". Há o desistir de apegos
e há o desistir em razão de dificuldades e decepções.
A pessoa que tem força e abertura interiores não "desiste" - mas larga
as ambições e os apegos; por conseguinte, ganha liberdade e confiança.
Porque não tem apego a uma certa maneira de ser, mas segue a verdade
dentro do seu coração, nenhum obstáculo ou decepção pode vencê-la.
A pessoa que desiste por que não pode controlar sua vida nem guiar-se
por si mesma não desiste totalmente; mantém certa determinação de
continuar, mas não tem a força ou a coragem de seguir suas inclinações
- limita-se a submeter-se ao que quer que esteja acontecendo.
Como não é capaz de largar suas ambições e emoções negativas,
não está claro para ela qual é o caminho certo e qual o caminho errado
- e portanto ela sofre na indecisão. Embora necessariamente não sinta
dor física, ela passa por um sofrimento psicológico - a dor de não ser capaz
de apreender o que deseja. O desejo por sensação a domina, e ela está
dividida dentro de si mesma.
Tarthang Tulku
e há o desistir em razão de dificuldades e decepções.
A pessoa que tem força e abertura interiores não "desiste" - mas larga
as ambições e os apegos; por conseguinte, ganha liberdade e confiança.
Porque não tem apego a uma certa maneira de ser, mas segue a verdade
dentro do seu coração, nenhum obstáculo ou decepção pode vencê-la.
A pessoa que desiste por que não pode controlar sua vida nem guiar-se
por si mesma não desiste totalmente; mantém certa determinação de
continuar, mas não tem a força ou a coragem de seguir suas inclinações
- limita-se a submeter-se ao que quer que esteja acontecendo.
Como não é capaz de largar suas ambições e emoções negativas,
não está claro para ela qual é o caminho certo e qual o caminho errado
- e portanto ela sofre na indecisão. Embora necessariamente não sinta
dor física, ela passa por um sofrimento psicológico - a dor de não ser capaz
de apreender o que deseja. O desejo por sensação a domina, e ela está
dividida dentro de si mesma.
Tarthang Tulku
PABLO NERUDA
E então as revolvo, agito-as, bebo-as, trago-as, trituro-as, alindo-as,
liberto-as… Deixo-as como estalactites no meu poema, como
pedacinhos de madeira polida, como carvão, como restos de naufrágio, presentes das ondas… Tudo está na palavra… Uma ideia inteira altera-se porque uma palavra mudou de lugar,
ou porque outra se sentou como
um reizinho dentro de uma frase que não a esperava, mas que lhe
obedeceu… Elas têm sombra, transparência, peso, pernas, pêlos,
têm de tudo quanto se lhes foi agregando de tanto rolar pelo rio, de
tanto transmigrar de pátria, de tanto serem raízes… São antiquíssimas
e recentíssimas… Vivem no féretro escondido e na flor que desponta…
Que bom idioma o meu, que boa língua herdámos dos torvos
conquistadores… Andavam a passo largo pelas tremendas cordilheiras,
pelas Américas encrespadas, em busca de batatas, chouriços,
feijões, tabaco negro, ouro, milho, ovos fritos, com aquele voraz
apetite que nunca mais se viu no mundo…
Tudo engoliam, juntamente com as religiões, pirâmides, tribos,
idolatrias iguais às que traziam nas grandes bolsas… Por onde
passavam ficava arrasada a terra… Mas aos bárbaros caíam das
botas, das barbas, dos elmos, das ferraduras, como pedrinhas,
as palavras luminosas que ficaram aqui, resplandecentes… o idioma.
Ficámos a perder… Ficámos a ganhar… Levaram o ouro e deixaram-nos o ouro… Levaram tudo e deixaram-nos tudo…
Deixaram-nos as palavras.
Neruda, Pablo, Confesso Que Vivi
liberto-as… Deixo-as como estalactites no meu poema, como
pedacinhos de madeira polida, como carvão, como restos de naufrágio, presentes das ondas… Tudo está na palavra… Uma ideia inteira altera-se porque uma palavra mudou de lugar,
ou porque outra se sentou como
um reizinho dentro de uma frase que não a esperava, mas que lhe
obedeceu… Elas têm sombra, transparência, peso, pernas, pêlos,
têm de tudo quanto se lhes foi agregando de tanto rolar pelo rio, de
tanto transmigrar de pátria, de tanto serem raízes… São antiquíssimas
e recentíssimas… Vivem no féretro escondido e na flor que desponta…
Que bom idioma o meu, que boa língua herdámos dos torvos
conquistadores… Andavam a passo largo pelas tremendas cordilheiras,
pelas Américas encrespadas, em busca de batatas, chouriços,
feijões, tabaco negro, ouro, milho, ovos fritos, com aquele voraz
apetite que nunca mais se viu no mundo…
Tudo engoliam, juntamente com as religiões, pirâmides, tribos,
idolatrias iguais às que traziam nas grandes bolsas… Por onde
passavam ficava arrasada a terra… Mas aos bárbaros caíam das
botas, das barbas, dos elmos, das ferraduras, como pedrinhas,
as palavras luminosas que ficaram aqui, resplandecentes… o idioma.
Ficámos a perder… Ficámos a ganhar… Levaram o ouro e deixaram-nos o ouro… Levaram tudo e deixaram-nos tudo…
Deixaram-nos as palavras.
Neruda, Pablo, Confesso Que Vivi
MILAN KUNDERA
O mais pesado fardo nos esmaga, nos faz dobrar sob ele,
nos esmaga contra o chão. Na poesia amorosa de todos os
séculos, porém, a mulher deseja receber o peso do corpo
masculino. O fardo mais pesado é, portanto, ao mesmo
tempo a imagem da mais intensa realização vital.
Quanto mais pesado o fardo, mais próxima da terra está
nossa vida, e mais ela é real e verdadeira.
Por outro lado, a ausência total de fardo faz com que o ser
humano se torne mais leve do que o ar, com que ele voe,
se distancie da terra, do ser terrestre, faz com que ele se
torne semi-real, que seus movimentos sejam tão livres
quanto insignificantes.
Então, o que escolher? O peso ou a leveza?
( Milan Kundera, A insustentável leveza do ser )
nos esmaga contra o chão. Na poesia amorosa de todos os
séculos, porém, a mulher deseja receber o peso do corpo
masculino. O fardo mais pesado é, portanto, ao mesmo
tempo a imagem da mais intensa realização vital.
Quanto mais pesado o fardo, mais próxima da terra está
nossa vida, e mais ela é real e verdadeira.
Por outro lado, a ausência total de fardo faz com que o ser
humano se torne mais leve do que o ar, com que ele voe,
se distancie da terra, do ser terrestre, faz com que ele se
torne semi-real, que seus movimentos sejam tão livres
quanto insignificantes.
Então, o que escolher? O peso ou a leveza?
( Milan Kundera, A insustentável leveza do ser )
ORIENTAÇÕES
Não importa a filosofia que se adote, ou a
religião que nos ampara. O que importa é
que haja uma orientação eficiente, que nos
transmita coragem e segurança. Não importa
que nos resignemos a muitas coisas que se
chocam como nossas expectativas. Nem
importa que a gente se esconda vez ou outra
de nós mesmos. O que importa é tentar ser
feliz sempre, e nunca fugir da vida. É preciso
olhar a vida de frente e com atenção, para
que tudo seja significativo.
YEDRA
religião que nos ampara. O que importa é
que haja uma orientação eficiente, que nos
transmita coragem e segurança. Não importa
que nos resignemos a muitas coisas que se
chocam como nossas expectativas. Nem
importa que a gente se esconda vez ou outra
de nós mesmos. O que importa é tentar ser
feliz sempre, e nunca fugir da vida. É preciso
olhar a vida de frente e com atenção, para
que tudo seja significativo.
YEDRA
CARLOS NEJAR
Tudo está acontecendo, mesmo quando nada
acontece. Assim, o que vai acontecer já está
no acontecido. E medra devagar...
O grito já vem vindo antes da dor. E o vento
vem vindo antes do vento, com um rumor que
a noite sequer percebe. A queda de uma árvore
pode ser o começo da queda de uma floresta.
E o fim das florestas pode ser o fim das estações.
E tudo está acontecendo, mesmo quando deixou
de acontecer. A imobilidade é quando até o
tempo é um paquiderme que não tem mais
força para se erguer.
Carlos Nejar
acontece. Assim, o que vai acontecer já está
no acontecido. E medra devagar...
O grito já vem vindo antes da dor. E o vento
vem vindo antes do vento, com um rumor que
a noite sequer percebe. A queda de uma árvore
pode ser o começo da queda de uma floresta.
E o fim das florestas pode ser o fim das estações.
E tudo está acontecendo, mesmo quando deixou
de acontecer. A imobilidade é quando até o
tempo é um paquiderme que não tem mais
força para se erguer.
Carlos Nejar
ATITUDES
Se por um lado, as atitudes extremas provocam entusiasmo,
são indícios de vigor e coragem, por outro, as atitudes
equilibradas são em geral incômodas e quase nunca
parecem heróicas. Frequentemente é preciso bastante
coragem e esforço para manter-se em equilíbrio, mas
não se pode evitar que aos outros isso pareça uma
demonstração de covardia. O equilíbrio é tedioso, ainda
por cima. E o tédio, hoje em dia, é uma grande desvantagem
que a maioria das pessoas não perdoa.
YEDRA
são indícios de vigor e coragem, por outro, as atitudes
equilibradas são em geral incômodas e quase nunca
parecem heróicas. Frequentemente é preciso bastante
coragem e esforço para manter-se em equilíbrio, mas
não se pode evitar que aos outros isso pareça uma
demonstração de covardia. O equilíbrio é tedioso, ainda
por cima. E o tédio, hoje em dia, é uma grande desvantagem
que a maioria das pessoas não perdoa.
YEDRA
GOETHE
Todas as relações entre as coisas são verdadeiras.
O erro está apenas em nós. Não há nada verdadeiro
no homem senão o fato de ele errar e não conseguir
encontrar sua relação consigo mesmo, com os
outros e com as coisas.
Se não nos sentíssemos comprometidos na repetição
do que é falso só porque nos habituamos a
afirmá-lo, seríamos capazes de ser outra pessoa
totalmente diferente.
GOETHE
O erro está apenas em nós. Não há nada verdadeiro
no homem senão o fato de ele errar e não conseguir
encontrar sua relação consigo mesmo, com os
outros e com as coisas.
Se não nos sentíssemos comprometidos na repetição
do que é falso só porque nos habituamos a
afirmá-lo, seríamos capazes de ser outra pessoa
totalmente diferente.
GOETHE
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