EVELYN DE MORGAN

EVELYN DE MORGAN

sexta-feira, 20 de junho de 2008

FERNANDO PESSOA

Minha Imaginação é uma cidade do Oriente.
Toda a sua composição de realidade no espaço tem a voluptuosidade
de superfície de um tapete rico e mole.
Toda a história pregressa dessa cidade voa em torno à lâmpada do
meu sonho como
uma borboleta apenas ouvida na penumbra do quarto.
Minha fantasia habita entre pompas outrora e recebeu da mão de
rainhas jóias veladas de antiguidade.
Atapetaram molezas íntimas os areais da minha inexistência, e
hábitos de penumbra,
as algas boiaram à ostensiva dos meus rios.
Fui por isso pórticos em civilizações perdidas, febres de arabescos
em frisos mortos,
enegrecidos de eternidade nos coleios das colunas partidas...
mastros apenas nos naufrágios remotos, degraus só de tronos
abatidos, véus nada velando
e como velndo sombras, fantasias erguidas do chão como
fumos de turíbulos
arremessados.
Funesto foi o meu reinado e cheia de guerras nas fronteiras
longínquas
a minha paz imperial no meu palácio.


FERNANDO PESSOA

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