EVELYN DE MORGAN

EVELYN DE MORGAN

sexta-feira, 20 de junho de 2008

CLARICE LISPECTOR

Há um tipo de choro bom e há outro ruim.

O ruim é aquele em que as lágrimas correm sem parar e,

no entanto, não dão alívio. Só esgotam e exaurem.

Uma amiga perguntou-me, então, se não seria esse choro

como o de uma criança com a angústia da fome. Era. Quando

se está perto desse tipo de choro, é melhor procurar conter-se:

não vai adiantar. É melhor tentar fazer-se de forte, e enfrentar.

É difícil, mas ainda menos do que ir-se tornando exangue

a ponto de empalidecer.

Mas nem sempre é necessário tornar-se forte. Temos que

respeitar a nossa fraqueza. Então, são lágrimas suaves, de

uma tristeza legítima à qual temos direito. Elas correm devagar

e quando passam pelos lábios sente-se aquele gosto salgado,

límpido, produto de nossa dor mais profunda.

Homem chorar comove. Ele, o lutador, reconheceu sua luta

às vezes inútil. Respeito muito o homem que chora.

Eu já vi homem chorar.





Clarice Lispector

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