Há um tipo de choro bom e há outro ruim.
O ruim é aquele em que as lágrimas correm sem parar e,
no entanto, não dão alívio. Só esgotam e exaurem.
Uma amiga perguntou-me, então, se não seria esse choro
como o de uma criança com a angústia da fome. Era. Quando
se está perto desse tipo de choro, é melhor procurar conter-se:
não vai adiantar. É melhor tentar fazer-se de forte, e enfrentar.
É difícil, mas ainda menos do que ir-se tornando exangue
a ponto de empalidecer.
Mas nem sempre é necessário tornar-se forte. Temos que
respeitar a nossa fraqueza. Então, são lágrimas suaves, de
uma tristeza legítima à qual temos direito. Elas correm devagar
e quando passam pelos lábios sente-se aquele gosto salgado,
límpido, produto de nossa dor mais profunda.
Homem chorar comove. Ele, o lutador, reconheceu sua luta
às vezes inútil. Respeito muito o homem que chora.
Eu já vi homem chorar.
Clarice Lispector
EVELYN DE MORGAN
sexta-feira, 20 de junho de 2008
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