Uma das teses amorosas mais fantasiosas que
existem é a dos opostos que dão certo. Não
existe uma maneira mais eficaz de conseguir
uma relação frustrante do que dar seu braço
a uma pessoa diferente, na essência de você.
Os dois devem amar básicamente as mesmas
coisas. Ter afinados seus sentimentos e
pensamentos. Pensar que quando duas pessoas
diferentes se juntam, uma vai acabar mudando
a outra, é de uma ingenuidade comovente. Isto
está muito longe de vir a acontecer. E toda a
expectativa criada neste sentido só gera
infelicidade para ambos.
(YEDRA)
EVELYN DE MORGAN
segunda-feira, 27 de agosto de 2007
AS 4 CONDIÇÕES
De todas as condições que vivemos, quatro delas
são as mais essenciais: amor, aventura, segurança
e reconhecimento. Sendo assim, no ato de viver
temos que acumular experiências que preencham
convenientemente nosso lado mental, pessoal e
social. O amor aplaca a nossa solidão, as buscas
ou a aventura satisfaz a nossa curiosidade e nós
dá objetivos e sonhos. A segurança nos situa na
realidade, nos proporcionando bem-estar. E o
reconhecimento alimenta a nossa auto-estima e
identifica o nosso valor. Por isso, sempre que nos
sentimos incompletos, deve estar havendo
deficiência ou insatisfação em uma destas quatro
condições.
(YEDRA)
são as mais essenciais: amor, aventura, segurança
e reconhecimento. Sendo assim, no ato de viver
temos que acumular experiências que preencham
convenientemente nosso lado mental, pessoal e
social. O amor aplaca a nossa solidão, as buscas
ou a aventura satisfaz a nossa curiosidade e nós
dá objetivos e sonhos. A segurança nos situa na
realidade, nos proporcionando bem-estar. E o
reconhecimento alimenta a nossa auto-estima e
identifica o nosso valor. Por isso, sempre que nos
sentimos incompletos, deve estar havendo
deficiência ou insatisfação em uma destas quatro
condições.
(YEDRA)
A ASA DO OUTRO
Todos parecem considerar sua vida afetiva
como inteiramente pessoal. Mas a sociologia
afirma que não é bem assim. O meio em que
se vive exerce grande influência em nossas
emoções. Bergson observou que não teríamos
o sentido do cômico, se nos sentíssemos
isolados. Porque o riso tem necessidade de um
eco. E isso se aplica às outras emoções: estados
afetivos fortes raramente são encontrados em
pessoas que se isolam. A solidão empobrece a
expressão dos nossos sentimentos. E essa
participação dos outros em nossas emoções é
uma necessidade nossa: nossos sentimentos
precisam ser compartilhados e aprovados.
Mesmo os sentimentos de aversão e hostilidade
seguem a mesma regra. Nossos rancores e ódios
têm necessidade de serem confirmados pelo
julgamento alheio. Expomos nossos ódios e
mágoas a ouvintes próximos e criamos um
elo ideal com eles, onde reina o consenso
de afetividades. Precisamos de aliados até
para odiar.
(YEDRA)
como inteiramente pessoal. Mas a sociologia
afirma que não é bem assim. O meio em que
se vive exerce grande influência em nossas
emoções. Bergson observou que não teríamos
o sentido do cômico, se nos sentíssemos
isolados. Porque o riso tem necessidade de um
eco. E isso se aplica às outras emoções: estados
afetivos fortes raramente são encontrados em
pessoas que se isolam. A solidão empobrece a
expressão dos nossos sentimentos. E essa
participação dos outros em nossas emoções é
uma necessidade nossa: nossos sentimentos
precisam ser compartilhados e aprovados.
Mesmo os sentimentos de aversão e hostilidade
seguem a mesma regra. Nossos rancores e ódios
têm necessidade de serem confirmados pelo
julgamento alheio. Expomos nossos ódios e
mágoas a ouvintes próximos e criamos um
elo ideal com eles, onde reina o consenso
de afetividades. Precisamos de aliados até
para odiar.
(YEDRA)
segunda-feira, 20 de agosto de 2007
NIETZSCHE
Não quero ver em minhas montanhas
acres verdades impacientes.
Dourada de sorrisos, de mim se acerca
hoje a vedade, adoçada de sol,
bronzeada de amor.
Hoje estendo as mãos
às seduções do acaso,
bastante esperto para guiar, tapear
o acaso.
Minha alma insaciável com sua língua,
já lambeu em todas as coisas,
boas e ruins, em cada profundeza
já mergulhou.
(NIETZSCHE)
acres verdades impacientes.
Dourada de sorrisos, de mim se acerca
hoje a vedade, adoçada de sol,
bronzeada de amor.
Hoje estendo as mãos
às seduções do acaso,
bastante esperto para guiar, tapear
o acaso.
Minha alma insaciável com sua língua,
já lambeu em todas as coisas,
boas e ruins, em cada profundeza
já mergulhou.
(NIETZSCHE)
VIRGÍNIA WOOLF
"Descobri que precisava travar uma batalha com um
determinado fantasma. E o fantasma era uma mulher...
Ela era intensamente simpática. Maravilhosamente encantadora.
Totalmente abnegada. Ela se distinguia nas difíceis tarefas
da vida em família.
sua constituição era tal, que ela nunca tinha um pensamento
ou desejos próprios, preferindo antes apoiar os pensamentos
e desejos dos outros. Acima de tudo, ela era, é desnecessário
dizer, pura...
E agia como se estivesse guiando a minha caneta.
Relato agora a única ação que me levou ter um apreço por mim mesma ...
Voltei-me para ela e a agarrei pela garganta. Apertei com toda minha força,
até matá-la. Minha defesa, caso fosse levada a um tribunal, seria a de que
agi em defesa própria. Se eu não a matasse, ela me mataria.”
(VIRGINIA WOOLF)
determinado fantasma. E o fantasma era uma mulher...
Ela era intensamente simpática. Maravilhosamente encantadora.
Totalmente abnegada. Ela se distinguia nas difíceis tarefas
da vida em família.
sua constituição era tal, que ela nunca tinha um pensamento
ou desejos próprios, preferindo antes apoiar os pensamentos
e desejos dos outros. Acima de tudo, ela era, é desnecessário
dizer, pura...
E agia como se estivesse guiando a minha caneta.
Relato agora a única ação que me levou ter um apreço por mim mesma ...
Voltei-me para ela e a agarrei pela garganta. Apertei com toda minha força,
até matá-la. Minha defesa, caso fosse levada a um tribunal, seria a de que
agi em defesa própria. Se eu não a matasse, ela me mataria.”
(VIRGINIA WOOLF)
AMIZADE
A amizade
é o mais belo afluente do amor,
ela ajuda a resolver,
com paciência,
as complicadas equações
da convivência humana.
A amizade
é tão forte quanto o amor,
ela educa o amor,
sinalizando o caminho da coerência,
apontando as veredas da justiça,
controlando os excessos da paixão.
A amizade
é um forte elo que une pessoas
na corrente do querer.
Amizade
é cola divina,
cola demais,
pode doer.
A amizade
tem muito mais juízo que o amor,
quando ele se esgota
e cisma de ir embora,
ela se propõe a ficar,
vigiando o sentimento que sobrou.
IVONE BOECHAT
é o mais belo afluente do amor,
ela ajuda a resolver,
com paciência,
as complicadas equações
da convivência humana.
A amizade
é tão forte quanto o amor,
ela educa o amor,
sinalizando o caminho da coerência,
apontando as veredas da justiça,
controlando os excessos da paixão.
A amizade
é um forte elo que une pessoas
na corrente do querer.
Amizade
é cola divina,
cola demais,
pode doer.
A amizade
tem muito mais juízo que o amor,
quando ele se esgota
e cisma de ir embora,
ela se propõe a ficar,
vigiando o sentimento que sobrou.
IVONE BOECHAT
OTÁVIO PAZ
A vida é um contínuo risco, viver é se expor.
A abstinência do ermitão se resolve no delírio
solitário; a fuga dos amantes, em morte cruel.
Outras paixões podem nos seduzir e arrebatar.
Umas superiores, como o amor a Deus, ao saber
e a uma causa; outras inferiores, como o amor ao
dinheiro ou ao poder. Em nenhum desses casos
desaparece o risco inerente à vida: o místico pode
descobrir que corria atrás de uma quimera, o saber
não nos defende contra a decepção do conhecimento,
o poder não salva da traição. A glória é um emblema
equivocado e o esquecimento é mais forte do que
todas as reputações. E as desgraças do amor são as
desgraças da vida. Mas apesar de todos os males e
desgraças, sempre buscamos querer e ser queridos.
Porque o amor é o mais próximo, nesta terra, à
beatitude dos bem-aventurados.
(OTAVIO PAZ)
A abstinência do ermitão se resolve no delírio
solitário; a fuga dos amantes, em morte cruel.
Outras paixões podem nos seduzir e arrebatar.
Umas superiores, como o amor a Deus, ao saber
e a uma causa; outras inferiores, como o amor ao
dinheiro ou ao poder. Em nenhum desses casos
desaparece o risco inerente à vida: o místico pode
descobrir que corria atrás de uma quimera, o saber
não nos defende contra a decepção do conhecimento,
o poder não salva da traição. A glória é um emblema
equivocado e o esquecimento é mais forte do que
todas as reputações. E as desgraças do amor são as
desgraças da vida. Mas apesar de todos os males e
desgraças, sempre buscamos querer e ser queridos.
Porque o amor é o mais próximo, nesta terra, à
beatitude dos bem-aventurados.
(OTAVIO PAZ)
CORA CORALINA
A vida tem duas faces:
Positiva e nagativa
O passado foi duro
Mas deixou o seu legado
Saber viver é a grande sabedoria
Que eu possa dignificar
Minha condição de mulher,
Aceitar sua limitações
E me fazer pedra de segurança
Dos valores que vão desmoronando.
Nasci em tempos rudes
Aceitei contradições
Lutas e perdas como condição de vida
E delas me sirvo
Aprendi a viver.
(CORA CORALINA)
Positiva e nagativa
O passado foi duro
Mas deixou o seu legado
Saber viver é a grande sabedoria
Que eu possa dignificar
Minha condição de mulher,
Aceitar sua limitações
E me fazer pedra de segurança
Dos valores que vão desmoronando.
Nasci em tempos rudes
Aceitei contradições
Lutas e perdas como condição de vida
E delas me sirvo
Aprendi a viver.
(CORA CORALINA)
CECÍLIA MEIRELES
Gatos que abrem e fecham os olhos, sonhando com pardais.
Borboletas brancas, duas a duas, como refletidas no espelho do ar.
Marimbondos que sempre me parecem personagens de Lope de Vega.
Ás vezes, um galo canta. Às vezes, um avião passa.
Tudo está certo, no seu lugar, cumprindo o seu destino.
E eu me sinto completamente feliz.
Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas,
que estão diante de cada janela, uns dizem
que essas coisas não existem,
outros que só existem diante das minhas janelas,
e outros, finalmente, que é preciso aprender a olhar,
para poder vê-las assim.
(CECILIA MEIRELES)
Borboletas brancas, duas a duas, como refletidas no espelho do ar.
Marimbondos que sempre me parecem personagens de Lope de Vega.
Ás vezes, um galo canta. Às vezes, um avião passa.
Tudo está certo, no seu lugar, cumprindo o seu destino.
E eu me sinto completamente feliz.
Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas,
que estão diante de cada janela, uns dizem
que essas coisas não existem,
outros que só existem diante das minhas janelas,
e outros, finalmente, que é preciso aprender a olhar,
para poder vê-las assim.
(CECILIA MEIRELES)
A VIDA - FERNANDO PESSOA
A vida que se vive é um desentendimento fluido, uma média alegre
entre a grandeza que não há e a felicidade que não pode haver.
No baile de máscaras, basta-nos o agrado do traje, que no baile é tudo.
Assim, vestidos de corpo e alma, com os nossos múltiplos trajes tão
pegados a nós como as penas de aves, vivemos felizes ou infelizes,
ou nem até sabendo o que somos, o breve espaço que nos dão os
deuses para os divertirmos, como crianças que brincam com jogos
sérios.
Um ou outro de nós, liberto ou maldito, vê de repente, que tudo quanto
somos é o que não somos, que nos enganamos no que está certo
ou não temos razão no que concluímos justo.
E sempre, desconhecendo-nos a nós mesmos e aos outros, e por isso
entendendo-nos alegremente, passamos nas volutas da dança ou nas
conversas do descanso, humanos, fúteis, a sério, ao som da grande
orquestra dos astros, sob os olhares desdenhosos e alheios dos
organizadores do espetáculo.
Só eles sabem que nós somos presas da ilusão que nos criaram....
(FERNANDO PESSOA)
entre a grandeza que não há e a felicidade que não pode haver.
No baile de máscaras, basta-nos o agrado do traje, que no baile é tudo.
Assim, vestidos de corpo e alma, com os nossos múltiplos trajes tão
pegados a nós como as penas de aves, vivemos felizes ou infelizes,
ou nem até sabendo o que somos, o breve espaço que nos dão os
deuses para os divertirmos, como crianças que brincam com jogos
sérios.
Um ou outro de nós, liberto ou maldito, vê de repente, que tudo quanto
somos é o que não somos, que nos enganamos no que está certo
ou não temos razão no que concluímos justo.
E sempre, desconhecendo-nos a nós mesmos e aos outros, e por isso
entendendo-nos alegremente, passamos nas volutas da dança ou nas
conversas do descanso, humanos, fúteis, a sério, ao som da grande
orquestra dos astros, sob os olhares desdenhosos e alheios dos
organizadores do espetáculo.
Só eles sabem que nós somos presas da ilusão que nos criaram....
(FERNANDO PESSOA)
O BURGUÊS RIDÍCULO
Quanto mais aulas ele tem para falar bonito menos se
entende o que ele fala. Quando quer um copo d'água, ele pede
" um banho interior", chama as orelhas de "portas do
entendimento", as lágrimas são " o sumo das tristezas", as
bochechas são " o trono do pudor", uma simples cadeira
é o " receptáculo para um entretenimento íntimo". Em vez
de dizer " há um criado lá fora perguntando se o senhor
está em casa " , é preciso que se diga " há um serviçal
na antecâmara inquirindo se V.Exc. está em condições
de ser visível ", e por aí vai...
(O Burguês Ridículo - Molière)
entende o que ele fala. Quando quer um copo d'água, ele pede
" um banho interior", chama as orelhas de "portas do
entendimento", as lágrimas são " o sumo das tristezas", as
bochechas são " o trono do pudor", uma simples cadeira
é o " receptáculo para um entretenimento íntimo". Em vez
de dizer " há um criado lá fora perguntando se o senhor
está em casa " , é preciso que se diga " há um serviçal
na antecâmara inquirindo se V.Exc. está em condições
de ser visível ", e por aí vai...
(O Burguês Ridículo - Molière)
VIVENDO
À certa altura da vida, temos a confortável sensação
de que aprendemos todas as respostas e que
escoltados pela nossa experiência, nada mais
poderá nos surpreender; mas não é bem assim.
O ser humano, mutável e imperfeito, sempre nos
proporcionará eventuais surpresas de decepções.
Nosso olhar ingênuo e crente é às vezes obscurecido
pela boa vontade que impera nos idealistas, e não
é capaz de perceber que nem todos atingiram o
mesmo patamar de crescimento, alguns permaneceram
estáticos em alguns degraus da evolução.
(YEDRA ARDEY)
de que aprendemos todas as respostas e que
escoltados pela nossa experiência, nada mais
poderá nos surpreender; mas não é bem assim.
O ser humano, mutável e imperfeito, sempre nos
proporcionará eventuais surpresas de decepções.
Nosso olhar ingênuo e crente é às vezes obscurecido
pela boa vontade que impera nos idealistas, e não
é capaz de perceber que nem todos atingiram o
mesmo patamar de crescimento, alguns permaneceram
estáticos em alguns degraus da evolução.
(YEDRA ARDEY)
CARPINEJAR
As mulheres não são uma única mulher.
As mulheres amadurecem conforme a intensidade
da descoberta. Cada infância será uma velhice
diferente; cada adolescência, uma revolta diferente.
Cada paixão consuzirá a boca a abrir de um lado.
Cada cheiro mudará a palavra. O homem que fala
para todas as mulheres não fala para nenhuma...
É um erro repetir amores como se não existisse
diferença...
A mulher não suporta a idéia de ser igual a todas.
As mulheres não são unânimes; são discordantes
entre si. Quanto idiomas morreram pela crença de
que as mulheres são uma única mulher?
(FABRÍCIO CARPINEJAR)
As mulheres amadurecem conforme a intensidade
da descoberta. Cada infância será uma velhice
diferente; cada adolescência, uma revolta diferente.
Cada paixão consuzirá a boca a abrir de um lado.
Cada cheiro mudará a palavra. O homem que fala
para todas as mulheres não fala para nenhuma...
É um erro repetir amores como se não existisse
diferença...
A mulher não suporta a idéia de ser igual a todas.
As mulheres não são unânimes; são discordantes
entre si. Quanto idiomas morreram pela crença de
que as mulheres são uma única mulher?
(FABRÍCIO CARPINEJAR)
FERNANDO PESSOA
... sou como um viajante que de repente se encontre
numa vila estranha sem saber como alçi chegou...
Fui outro durante muito tempo - desde a nascença e
a consciência -, e acordo agora no meio da ponte,
debruçado sobre o rio, e sabendo que existo mais
firmemente do que fui até aqui.
Espero, pois, debruçado sobre a ponte, que me passe
a verdade, e eu me restabeleça nulo e fictício,
inteligente e natural.
(FERNANDO PESSOA)
numa vila estranha sem saber como alçi chegou...
Fui outro durante muito tempo - desde a nascença e
a consciência -, e acordo agora no meio da ponte,
debruçado sobre o rio, e sabendo que existo mais
firmemente do que fui até aqui.
Espero, pois, debruçado sobre a ponte, que me passe
a verdade, e eu me restabeleça nulo e fictício,
inteligente e natural.
(FERNANDO PESSOA)
SOLIDÃO
Agora já sei que minha solidão era um horrível
fantasma... que foi espantado,
mas que não morreu... que deve estar
juntando forças em algum porão imundo,
em algum arrabalde da minha rotina.
Por isso, só por isso, abro mão da minha
auto-suficiência e me limito a dizer:
tomara.
(MARIO BENEDETTI)
fantasma... que foi espantado,
mas que não morreu... que deve estar
juntando forças em algum porão imundo,
em algum arrabalde da minha rotina.
Por isso, só por isso, abro mão da minha
auto-suficiência e me limito a dizer:
tomara.
(MARIO BENEDETTI)
MARINA COLASANTI
Eu sei que a gente se acostuma.
Mas não devia.
(...)
A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer.
Em doses pequenas, tentando não perceber, vai
afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma
revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta
na primeira fila e torce um pouco o pescoço.
Se a praia está contaminada, a gente só molha os pés
e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro,
a gente se consola pensando no fim de semana.
E se no fim de semana não há muito o que fazer,
a gente vai dormir cedo e ainda satisfeito porque
tem sono atrasado. A gente se acostuma para não se
ralar na aspereza, para preservar a pele.
Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para
esquivar-se da faca e da baioneta, para poupar o peito.
A gente se acostuma para poupar a vida.
Que aos poucos se gasta, e que, de tanto
acostumar, se perde de si mesma.
(MARINA COLASANTI)
Mas não devia.
(...)
A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer.
Em doses pequenas, tentando não perceber, vai
afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma
revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta
na primeira fila e torce um pouco o pescoço.
Se a praia está contaminada, a gente só molha os pés
e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro,
a gente se consola pensando no fim de semana.
E se no fim de semana não há muito o que fazer,
a gente vai dormir cedo e ainda satisfeito porque
tem sono atrasado. A gente se acostuma para não se
ralar na aspereza, para preservar a pele.
Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para
esquivar-se da faca e da baioneta, para poupar o peito.
A gente se acostuma para poupar a vida.
Que aos poucos se gasta, e que, de tanto
acostumar, se perde de si mesma.
(MARINA COLASANTI)
PREVISIBILIDADE
Se fosse possível que todos se comunicassem de
forma inequívoca e completa com todos, teríamos
a uniformidade total do caos humano.
Seria o adeus à diversidade, o cessar das
diferenças, a anulação dos contrastes.
Tudo perderia o mistério, o dom de intrigar.
Viveríamos anestesiados e semi-mortos num
império de previsibilidade.
Com o desaparecimento das diferenças e a
ausência da originalidade desbancando a
mesmice do "pensar" igual, a vida certamente
pararia. A própria racionalidade perderia sua
função.
(YEDRA ARDEY)
forma inequívoca e completa com todos, teríamos
a uniformidade total do caos humano.
Seria o adeus à diversidade, o cessar das
diferenças, a anulação dos contrastes.
Tudo perderia o mistério, o dom de intrigar.
Viveríamos anestesiados e semi-mortos num
império de previsibilidade.
Com o desaparecimento das diferenças e a
ausência da originalidade desbancando a
mesmice do "pensar" igual, a vida certamente
pararia. A própria racionalidade perderia sua
função.
(YEDRA ARDEY)
HERBERTO HELDER
Então acordo de dentro e, lembrando, fico
de lado. E ouço correr, levando
grandiosos lenços contra a noite com estrelas
batendo nas patas
como magnólias pensando, abertas, correndo.
Ouço de lado: é o som. São elas, lembrando
de lado, com as patas
no meio das letras, o rosto sufocado
correndo pelas portas grandiosas, as crinas
brancas batendo.
E eu ouço: é o som delas
com as patas negras, com as magnólias negras
contra a noite.
Correndo, lembrando, batendo.
( HERBERTO HELDER )
de lado. E ouço correr, levando
grandiosos lenços contra a noite com estrelas
batendo nas patas
como magnólias pensando, abertas, correndo.
Ouço de lado: é o som. São elas, lembrando
de lado, com as patas
no meio das letras, o rosto sufocado
correndo pelas portas grandiosas, as crinas
brancas batendo.
E eu ouço: é o som delas
com as patas negras, com as magnólias negras
contra a noite.
Correndo, lembrando, batendo.
( HERBERTO HELDER )
SAINT-EXUPÈRY
A raposa explicando ao Pequeno Príncipe o que
era ficar cativado:
É assim. A princípio você senta lá e eu aqui. Depois
a gente vai ficando cada vez mais perto. Os passos
de todas as outras pessoas me fazem entrar dentro
da minha toca. Mas os seus passos me fazem sair.
E, depois, é a alegria. Começo a ficar alegre e a me
preparar na segunda-feira, sabendo que você só
virá na sexta...
(Antoine Saint-Exupéry)
era ficar cativado:
É assim. A princípio você senta lá e eu aqui. Depois
a gente vai ficando cada vez mais perto. Os passos
de todas as outras pessoas me fazem entrar dentro
da minha toca. Mas os seus passos me fazem sair.
E, depois, é a alegria. Começo a ficar alegre e a me
preparar na segunda-feira, sabendo que você só
virá na sexta...
(Antoine Saint-Exupéry)
VIRGÍNIA WOOLF
... como somos uma espécie condenada,
prisioneira num barco que naufraga,
... como tudo é uma farsa de mau gosto,
desempenhemos, afinal de contas, nosso
papel; mitiguemos as penas dos nossos
companheiros de prisão... decoremos o
calabouço com flores e almofadas;
sejamos o mais corretos possível.
(VIRGÍNIA WOOLF)
prisioneira num barco que naufraga,
... como tudo é uma farsa de mau gosto,
desempenhemos, afinal de contas, nosso
papel; mitiguemos as penas dos nossos
companheiros de prisão... decoremos o
calabouço com flores e almofadas;
sejamos o mais corretos possível.
(VIRGÍNIA WOOLF)
NELSON RODRIGUES
O ser humano é o único que se falsifica.
Um tigre há de ser tigre eternamente.
Um leão há de preservar, até morrer,
o seu nobilíssimo rugido.
E assim o sapo nasce sapo e como tal
envelhece e fenece.
Nunca vi um marreco que virasse outra coisa.
Mas o ser humano pode, sim, desumanizar-se.
(Nelson Rodrigues)
Um tigre há de ser tigre eternamente.
Um leão há de preservar, até morrer,
o seu nobilíssimo rugido.
E assim o sapo nasce sapo e como tal
envelhece e fenece.
Nunca vi um marreco que virasse outra coisa.
Mas o ser humano pode, sim, desumanizar-se.
(Nelson Rodrigues)
CONHECIMENTO
Não há fim para as coisas que podem ser conhecidas
e sabidas. O mundo dos saberes é um mundo de
somas sem fim. É um caminho sem descanso para
a alma. Não há saber diante do qual o coração possa
dizer: " Cheguei, finalmente, ao lar." Saberes não são
lar. São, na melhor das hipóteses, tijolos para se
construir uma casa. Mas os tijolos, não sabem nada
sobre a casa. Diz o Tao-Te-Ching : " Na busca do
conhecimento a cada dia soma uma coisa. Na busca
da sabedoria, a cada dia se diminui uma coisa. "
(RUBEM ALVES)
e sabidas. O mundo dos saberes é um mundo de
somas sem fim. É um caminho sem descanso para
a alma. Não há saber diante do qual o coração possa
dizer: " Cheguei, finalmente, ao lar." Saberes não são
lar. São, na melhor das hipóteses, tijolos para se
construir uma casa. Mas os tijolos, não sabem nada
sobre a casa. Diz o Tao-Te-Ching : " Na busca do
conhecimento a cada dia soma uma coisa. Na busca
da sabedoria, a cada dia se diminui uma coisa. "
(RUBEM ALVES)
ERASMO DE ROTTERDAN
Loucos somos todos nós
debaixo dos véus que escondem
nossa saudável alegria.
Um pouco de Erasmo
de Rotterdam :
"Todas as coisas são de tal natureza que, quanto
mais abundante é a dose de loucura que encerram,
tanto maior é o bem que proporcionam aos mortais.
Sem alegria, a vida humana nem sequer merece o
nome de vida. Mergulharíamos na tristeza todos os
dias, se com essa espécie de prazeres não dissipássemos
o tédio que parece ter nascido conosco."
debaixo dos véus que escondem
nossa saudável alegria.
Um pouco de Erasmo
de Rotterdam :
"Todas as coisas são de tal natureza que, quanto
mais abundante é a dose de loucura que encerram,
tanto maior é o bem que proporcionam aos mortais.
Sem alegria, a vida humana nem sequer merece o
nome de vida. Mergulharíamos na tristeza todos os
dias, se com essa espécie de prazeres não dissipássemos
o tédio que parece ter nascido conosco."
PROSA E POESIA
Na poesia, a semelhança dos sons nos atrai e nos embala, através
do ritmo criado pelas palavras. Essa atração não acontece na prosa,
onde o ritmo é submetido à lógica das frases. Por isso costuma-se
dizer que na poesia predomina as relações de forma, enquanto que
na prosa há um encadeamento de conceitos que se relacionam
para dar um sentido seguro ao texto. O que a prosa descreve
pode ser pensado, imaginado, e sofrer analogias. Mas o que a
poesia diz só pode ser sentido. A prosa mesmo resumida conserva
sua essência, mas resumir um poema significa abrir mão de sua
essência. Uma forma não pode ser resumida. A prosa promove a
dança dos conceitos, enquanto que a poesia se contenta em
apenas fazer as palavras dançarem.
( Yedra Ardey )
do ritmo criado pelas palavras. Essa atração não acontece na prosa,
onde o ritmo é submetido à lógica das frases. Por isso costuma-se
dizer que na poesia predomina as relações de forma, enquanto que
na prosa há um encadeamento de conceitos que se relacionam
para dar um sentido seguro ao texto. O que a prosa descreve
pode ser pensado, imaginado, e sofrer analogias. Mas o que a
poesia diz só pode ser sentido. A prosa mesmo resumida conserva
sua essência, mas resumir um poema significa abrir mão de sua
essência. Uma forma não pode ser resumida. A prosa promove a
dança dos conceitos, enquanto que a poesia se contenta em
apenas fazer as palavras dançarem.
( Yedra Ardey )
A BOA FÉ
Boa fé é a combinação perfeita entre atos e
palavras. É dizer o que acreditamos, não mentir
nem ao outro, nem a si mesmo. Claro que não
convém dizer tudo sempre, isso seria uma tolice.
Mas o que se diz tem que refletir o que pensamos.
Por que afinal de que vale um pensamento a não
ser pelo grau de verdade que contém? Mesmo
assim, a verdade não deve ser dita a quem não
tem poder para suportá-la. Isso não é boa fé,
é insensibilidade. É preciso amar a verdade sem
adoração, o que seria fanatismo. E nenhum
fanatismo é bom, pois nos impede de pensar.
A boa fé leva ao humor, enquanto a má fé leva
à ironia. Agir com boa fé é acima de tudo ter
grandeza.
( YEDRA ARDEY )
palavras. É dizer o que acreditamos, não mentir
nem ao outro, nem a si mesmo. Claro que não
convém dizer tudo sempre, isso seria uma tolice.
Mas o que se diz tem que refletir o que pensamos.
Por que afinal de que vale um pensamento a não
ser pelo grau de verdade que contém? Mesmo
assim, a verdade não deve ser dita a quem não
tem poder para suportá-la. Isso não é boa fé,
é insensibilidade. É preciso amar a verdade sem
adoração, o que seria fanatismo. E nenhum
fanatismo é bom, pois nos impede de pensar.
A boa fé leva ao humor, enquanto a má fé leva
à ironia. Agir com boa fé é acima de tudo ter
grandeza.
( YEDRA ARDEY )
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