EVELYN DE MORGAN

EVELYN DE MORGAN

sexta-feira, 20 de junho de 2008

BALZAC

Que batalha horrível e incessante que a mediocridade trava

contra o homem superior. Se é um homem inovador,

passará por louco. Se tem entusiasmo, será insociável.

Se para resistir a esse batalhão de pigmeus, buscar nele

mesmo forças superiores, os seus melhores amigos

exclamarão que ele quer dominar. Enfim, em tudo que

ele for diferente, original e criativo, haverá crítica.

Suas qualidades tornar-se-ão defeitos, os defeitos

tornar-se-ão vícios e as virtudes serão crimes.


BALZAC

VINCENT VAN GOGH

... quero já dizer-te de antemão que todo mundo vai achar

que trabalho demasiado depressa. Não acredites em nada

disso. É antes a emoção, a sinceridade do sentir a natureza

que nos conduz a mão. E quando esta emoção é por vezes

tão forte que se trabalha sem se dar por isso - e quando

as pinceladas por vezes se seguem rápidas e se ligam

umas às outras como as palavras numa conversa ou

numa carta, - então não se deve esquecer que nem sempre

foi assim e que também no futuro muitos dias virão

deprimentes e sem qualquer inspiração...

Experimento uma terrível clareza em momentos em que a

natureza é tão linda. Perco a consciência de mim mesmo

e os quadros vêm como um sonho...


(Carta de Van Gogh a seu irmão Theo)

FERNANDO PESSOA

Minha Imaginação é uma cidade do Oriente.
Toda a sua composição de realidade no espaço tem a voluptuosidade
de superfície de um tapete rico e mole.
Toda a história pregressa dessa cidade voa em torno à lâmpada do
meu sonho como
uma borboleta apenas ouvida na penumbra do quarto.
Minha fantasia habita entre pompas outrora e recebeu da mão de
rainhas jóias veladas de antiguidade.
Atapetaram molezas íntimas os areais da minha inexistência, e
hábitos de penumbra,
as algas boiaram à ostensiva dos meus rios.
Fui por isso pórticos em civilizações perdidas, febres de arabescos
em frisos mortos,
enegrecidos de eternidade nos coleios das colunas partidas...
mastros apenas nos naufrágios remotos, degraus só de tronos
abatidos, véus nada velando
e como velndo sombras, fantasias erguidas do chão como
fumos de turíbulos
arremessados.
Funesto foi o meu reinado e cheia de guerras nas fronteiras
longínquas
a minha paz imperial no meu palácio.


FERNANDO PESSOA

SOBRE NIETZSCHE

Nietzsche, tão controvertido por suas idéias, talvez ainda

hoje não tenha sido devidamente compreendido. Mas

esse fato também foi previsto por ele, que nos achava tão

mal preparados, e que por isso proclamou veementemente o

surgimento do super-homem; um conceito que orientações

políticas nacionalistas ultrajaram descaradamente. Para

Nietzsche o super-homem é o homem liberto da prisão

das "verdades absolutas", defendidas por um pragmatismo

tendencioso. Aquele homem capaz de enxergar por trás

desas "verdades" a manifestação de poder e interesse de

quem as afirma. Nos deixou escritos cheios de humanismo.

Embora com críticas decisivas e às vezes impiedosas em

relação ao homem, também o defende apaixonadamente.

Se ele fosse colocado dentro da caverna de Sócrates, com

certeza seria aquele que determinadamente expulsaria

todos os seus habitantes da escuridão para à luz.


YEDRA

A POESIA

Poesia é a forma especial de linguagem, mais dirigida à

imaginação e à sensibilidade do que ao raciocínio.

Em vez de comunicar principalmente informações, a poesia

transmite sobretudo emoções. Ao longo do tempo, os poetas

e filósofos tentaram definir a poesia. Para o poeta espanhol

García Lorca, "Todas as coisas têm seu mistério, e a poesia

é o mistério que todas as coisas têm". O poeta francês Mallarmé,

defendendo uma outra concepção, afirmou que "a poesia se faz

com palavras, e não com idéias". E, segundo T. S. Eliot,

"aprendemos o que é poesia lendo poesia".

Para transmitir idéias e sensações, o poeta não se apóia unicamente

no significado exato das palavras e em suas relações dentro

da frase. Ele utiliza sobre tudo os valores sonoros e o poder

sugestivo dessas mesmas palavras combinadas entre si.

Mas a melodia de um poema não reside propriamente em sua

métrica. Ela resulta do uso que o poeta faz do esquema escolhido,

e da liberdade que ele se permitir. O poeta encontra sua forma

própria, mas não se torna escravo dela.

Além disso, o poeta faz uso daquilo que as palavras podem

sugerir ao leitor. Esse efeito sugestivo das palavras é obtido

através dos sons que elas têm e, sobretudo, das diversas

imagens, ou figuras de linguagem, que o autor for capaz de

criar. Em suma, a poesia resulta da combinação sensível e

inteligente de todos esses aspectos da linguagem.



YEDRA

ANDRÉ GIDE

Camarada, não aceites a vida tal qual a propõem os homens.

Não cesses de te persuadir que ela poderia ser mais bela,

a vida; a tua e a dos outros homens; não uma outra, futura,

que nos consolasse desta e nos ajudasse a aceitar sua

miséria. Não aceites. Quando começares a compreender que o

responsável por todos os males da vida não é Deus, que os

responsáveis são os homens, não te conformarás

mais com esses males.



André Gide

MILAN KUNDERA

Suponhamos que existisse no universo um planeta no qual

fosse possível nascer uma segunda vez. Ao mesmo tempo, nos

lembraríamos perfeitamente da vida que tínhamos na Terra; de

toda experiência que teríamos aqui adquirido.

Talvez existisse um planeta em que se nascesse uma terceira vez,

com a experiência de duas vidas já vividas.

E, talvez, um outro planeta e outros mais, em que a espécie humana

renasceria, subindo cada vez um degrau a mais (uma vida) na

escala do amadurecimento.

Nós, aqui na Terra (no planeta número um, no planeta da

inexperiência), podemos ter apenas uma idéia muito vaga daquilo

que acontece com o homem nos outros planetas. Teria ele mais

sabedoria? Estaria a maturidade a seu alcance? poderia atingí-la

através da repetição?

É só na perspectiva dessa utopia que as noções de otimismo e

pessimismo fazem sentido. O otimista acredita que a história humana

será menos sangrenta no planeta número cinco. O pessimista

é aquele que não acredita nisso.

A Insustentável leveza do ser - Milan Kundera

A CRÍTICA

Segundo Foucault, uma crítica não consiste em dizer

que as coisas não estão bem como estão. A crítica

consiste em ver sobre que tipos de evidências, de

familiaridades, de modos de pensamento adquiridos

e não refletidos, repousam as práticas que se aceitam.

Para ele, o essencial da vida humana e das relações é

o pensamento. E o pensamento é algo que pode se

ocultar, mas está lá. A crítica tem a função de detectar

o pensamento oculto nos comportamentos mais tolos

e nos hábitos mais imperceptíveis, e ensaiar a mudança.

Fazer a crítica é "desvendar portanto, o pensamento

atrás da ação e tornar difícil os gestos fáceis demais".

Nestas condições, a crítica é absolutamente indispensável

para toda transformação; pois uma transformação que

permaneça no mesmo modo de pensamento, que seria

apenas uma certa maneira melhor de ajustar o pensamento

à realidade das coisas, não passaria de uma transformação

superficial.

YEDRA

CLARICE LISPECTOR

Há um tipo de choro bom e há outro ruim.

O ruim é aquele em que as lágrimas correm sem parar e,

no entanto, não dão alívio. Só esgotam e exaurem.

Uma amiga perguntou-me, então, se não seria esse choro

como o de uma criança com a angústia da fome. Era. Quando

se está perto desse tipo de choro, é melhor procurar conter-se:

não vai adiantar. É melhor tentar fazer-se de forte, e enfrentar.

É difícil, mas ainda menos do que ir-se tornando exangue

a ponto de empalidecer.

Mas nem sempre é necessário tornar-se forte. Temos que

respeitar a nossa fraqueza. Então, são lágrimas suaves, de

uma tristeza legítima à qual temos direito. Elas correm devagar

e quando passam pelos lábios sente-se aquele gosto salgado,

límpido, produto de nossa dor mais profunda.

Homem chorar comove. Ele, o lutador, reconheceu sua luta

às vezes inútil. Respeito muito o homem que chora.

Eu já vi homem chorar.





Clarice Lispector

GUY DE MAUPASSANT

Existem duas raças na terra. Aqueles que necessitam

dos outros, a quem os outros distraem, entretêm,

repousam, a quem a solidão fadiga, esgota, aniquila,

tal como a ascensão ou a travessia do deserto, e

aqueles a quem os outros, ao contrário, cansam,

aborrecem, incomodam, estenuam, ao passo que

o isolamento os acalma, mergulhando-os no repouso,

na liberdade e na fantasia do seu próprio pensamento.

Trata-se apenas de um fenômeno psíquico normal.

Os primeiros são feitos para viver exteriormente, os

segundos para viver interiormente.



GUY DE MAUPASSANT

FERNANDO PESSOA

(...) Sim, escrevo versos, e a pedra não escreve versos.

Sim, faço idéias sobre o mundo, e a planta nenhumas.

Mas é que as pedras não são poetas, são pedras;

E as plantas são plantas só, e não pensadores.

Tanto posso dizer que sou superior a elas por isso,

Como que sou inferior.

Mas não digo isso: digo da pedra, " é uma pedra",

Digo da planta, " é uma planta",

Digo de mim, " sou eu".

E não digo mais nada.

Que mais há a dizer?


(FERNANDO PESSOA)

ERICH FROMM

A história da Humanidade até o presente é primordialmente

a história do culto de ídolos, desde os primitivos, de barro

e madeira, até os modernos, representados pelo Estado,

o líder, a produção e o consumo.

O homem transfere para o ídolo suas paixões e qualidades.

Quanto mais empobrece, tanto maior e mais forte se torna

o ídolo. Este é a forma alienada da experiência que o homem

tem de si mesmo. Ao cultuar o ídolo, o homem cultua a si

mesmo. Identifcando-se com um aspecto parcial de si

mesmo, o homem limita-se a tal aspecto; perde sua

totalidade de ser humano e deixa de crescer.


ERICH FROMM