Se nossos avós padeciam do tédio de dias sempre
iguais, nós vivemos a vertigem de instantes sempre
diversos, dilatados, acelerados, nos quais se orientam
somente aqueles que, dotados de sabedoria, sabem
viver com estilo, submetendo e sincronizando os
ritmos frenéticos do mundo aos próprios biorritmos.
Quem não possui essa sabedoria, quem não sabe criar
momentos de pausa é obrigado a longas fugas ilusórias,
em busca de alegrias passageiras.
Mas a felicidade consiste em buscá-la, e quem quer que
a busque, já está de alguma forma a caminho da sabedoria.
( Do Livro O Ócio Criativo - Domenico De Masi)
EVELYN DE MORGAN
segunda-feira, 31 de março de 2008
FILOSOFAR
A palavra filosofia nos remete a alguns preconceitos inevitáveis.
Sugere algo ultrapassado e de natureza enfadonha. Talvez isto
derive do fato de alguns filósofos serem incompreensíveis para
a maioria das pessoas. Mas filosofar é simplesmente fazer os
pensamentos se curvarem em torno de si mesmos, formando
círculos de associações que nos levam a meditar, refletir. Filosofar não
significa encontrar as respostas certas e contentar-se com elas.
Significa fazer sempre de novo as mesmas perguntas e buscar ouutras
respostas, aquelas que venham a nos satisfazer no contexto de vida
que vivemos. As perguntas sim, devem ser essenciais, mas as
respostas devem abranger inovações de idéias, mudança. Eu definiria
filosofia como a evolução constante das idéias, de modo que elas
acompanhassem a vida, que também abarca mudança contínua.
YEDRA
Sugere algo ultrapassado e de natureza enfadonha. Talvez isto
derive do fato de alguns filósofos serem incompreensíveis para
a maioria das pessoas. Mas filosofar é simplesmente fazer os
pensamentos se curvarem em torno de si mesmos, formando
círculos de associações que nos levam a meditar, refletir. Filosofar não
significa encontrar as respostas certas e contentar-se com elas.
Significa fazer sempre de novo as mesmas perguntas e buscar ouutras
respostas, aquelas que venham a nos satisfazer no contexto de vida
que vivemos. As perguntas sim, devem ser essenciais, mas as
respostas devem abranger inovações de idéias, mudança. Eu definiria
filosofia como a evolução constante das idéias, de modo que elas
acompanhassem a vida, que também abarca mudança contínua.
YEDRA
A VONTADE
Somos condicionados por nossa vontade. Schopenhauer
afirmava que a vontade já é a própria ação. É que sempre
estamos desejando coisas. O desejo não realizado gera
insatisfação. Enquanto o desejo satisfeito provoca indiferença.
Assim somos duplamente mobilizados, a ter desejos e a
buscar sua satisfação. Os mais ingênuos ou superficiais,
envolvidos por seus parcos sonhos imediatistas, passam a
vida neste movimento circular: busca - satisfação - insatisfação -
indiferença. Para efetuar escolhas dentro deste ciclo restrito
de visão, é suficiente o simples entendimento do processo
raso da vida. No entanto, se o nível de insatisfação é mais
profundo e os desejos ultrapassam os limites da mobilidade
trivial, é preciso buscar nossas forças latentes e adormecidas
para encontrar os caminhos que dêem maior sentido á vida.
YEDRA
afirmava que a vontade já é a própria ação. É que sempre
estamos desejando coisas. O desejo não realizado gera
insatisfação. Enquanto o desejo satisfeito provoca indiferença.
Assim somos duplamente mobilizados, a ter desejos e a
buscar sua satisfação. Os mais ingênuos ou superficiais,
envolvidos por seus parcos sonhos imediatistas, passam a
vida neste movimento circular: busca - satisfação - insatisfação -
indiferença. Para efetuar escolhas dentro deste ciclo restrito
de visão, é suficiente o simples entendimento do processo
raso da vida. No entanto, se o nível de insatisfação é mais
profundo e os desejos ultrapassam os limites da mobilidade
trivial, é preciso buscar nossas forças latentes e adormecidas
para encontrar os caminhos que dêem maior sentido á vida.
YEDRA
MODERNISMO
Uma das características específicas do modernismo é a de
deixar as indagações humanas soltas e ecoando no nada.
Para Nietzsche e Marx, visionários do que seria os tempos
atuais, as forças da história moderna eram dialéticas e
irônicas: a começar pelo cristianismo que foi desestruturado
em seus dogmas, jogando o ser humano num caos de
ausência de valores, e diante de uma desconcertante
abundância de possibilidades, com as quais ele não
aprendeu a lidar. Mesmo para se tornar singular e dono
de uma identidade sólida, precisamos de leis próprias,
habilidades psicológicas, astúcia intelectual, e uma boa
dose de temeridade. Ninguém consegue andar em terreno
firme, confiando apenas nos próprios passos; sem um
"mapa" que delineie a orientação das intenções. Não
conseguimos dar um passo sozinhos; nossa auto-
suficiência é uma ilusão. Por isso que precisamos sempre
ser escoltados por idéias que expliquem o mundo e que
justifiquem a nossa realidade.
YEDRA
deixar as indagações humanas soltas e ecoando no nada.
Para Nietzsche e Marx, visionários do que seria os tempos
atuais, as forças da história moderna eram dialéticas e
irônicas: a começar pelo cristianismo que foi desestruturado
em seus dogmas, jogando o ser humano num caos de
ausência de valores, e diante de uma desconcertante
abundância de possibilidades, com as quais ele não
aprendeu a lidar. Mesmo para se tornar singular e dono
de uma identidade sólida, precisamos de leis próprias,
habilidades psicológicas, astúcia intelectual, e uma boa
dose de temeridade. Ninguém consegue andar em terreno
firme, confiando apenas nos próprios passos; sem um
"mapa" que delineie a orientação das intenções. Não
conseguimos dar um passo sozinhos; nossa auto-
suficiência é uma ilusão. Por isso que precisamos sempre
ser escoltados por idéias que expliquem o mundo e que
justifiquem a nossa realidade.
YEDRA
OS INIMIGOS
Quem tem inimigos sabe que eles não representam
apenas um abismo de idéias e sentimentos, que
anula qualquer possibilidade de afinidade. Um
inimigo inteligente nos provoca, nos desafia a
ponto de nos fazer "afiar" todo o nosso arsenal
de recursos mentais e psicológicos para tentar
consolidar nossa posição. Mas há um inimigo
quase invisível e que se esconde dentro de nós
mesmos; este inimigo instala o paradoxo de que
só podemos ser vencidos por nós mesmos -
"o EGO grita, a alma sussurra" - é essencial
portanto, para nossa sanidade e busca de
plenitude, que façamos a alma gritar em certas
batalhas para encobrir a voz exigente do EGO.
YEDRA
apenas um abismo de idéias e sentimentos, que
anula qualquer possibilidade de afinidade. Um
inimigo inteligente nos provoca, nos desafia a
ponto de nos fazer "afiar" todo o nosso arsenal
de recursos mentais e psicológicos para tentar
consolidar nossa posição. Mas há um inimigo
quase invisível e que se esconde dentro de nós
mesmos; este inimigo instala o paradoxo de que
só podemos ser vencidos por nós mesmos -
"o EGO grita, a alma sussurra" - é essencial
portanto, para nossa sanidade e busca de
plenitude, que façamos a alma gritar em certas
batalhas para encobrir a voz exigente do EGO.
YEDRA
OBJETIVIDADE
Se vivemos com objetivos precisos a serem incansavelmente
perseguidos, acabamos por embotar as emoções. Os
estados de espírito constituem o que há me melhor na
vida. Quando não somos escoltados pela emoção, a
beleza da vida se perde. As coisas existem para nós
apenas quando nosso olhar paira sobre elas. E para
ver realmente uma coisa em sua essência é preciso
antes de mais nada destacar-lhe a beleza. Só os
sentidos podem despertar a alma e dar-lhe sua real
dimensão. E a alma retribui, curando os sentidos de
sua disposição superficial e prosaica. Como disse
Oscar Wilde: " nos arruinamos quando investimos de
maneira excessiva na prosa da vida, mas acabar
arruinado pela poesia da vida, é uma honra."
As pessoas presas à sua objetividade dominante
não conseguem expressar-se com desembaraçada
sensibilidade e com isso apenas assistem à vida,
como espectros superficiais e exteriores à sua
essência, carregando um lado semi-morto de si
mesmo, em lamentável estado de adormecimento.
YEDRA
perseguidos, acabamos por embotar as emoções. Os
estados de espírito constituem o que há me melhor na
vida. Quando não somos escoltados pela emoção, a
beleza da vida se perde. As coisas existem para nós
apenas quando nosso olhar paira sobre elas. E para
ver realmente uma coisa em sua essência é preciso
antes de mais nada destacar-lhe a beleza. Só os
sentidos podem despertar a alma e dar-lhe sua real
dimensão. E a alma retribui, curando os sentidos de
sua disposição superficial e prosaica. Como disse
Oscar Wilde: " nos arruinamos quando investimos de
maneira excessiva na prosa da vida, mas acabar
arruinado pela poesia da vida, é uma honra."
As pessoas presas à sua objetividade dominante
não conseguem expressar-se com desembaraçada
sensibilidade e com isso apenas assistem à vida,
como espectros superficiais e exteriores à sua
essência, carregando um lado semi-morto de si
mesmo, em lamentável estado de adormecimento.
YEDRA
OPINIÕES ALHEIAS
As opiniões que acolhemos a nosso respeito são
importantes. Para os inteligentes servem como meio
de reflexão e auto-conhecimento. Para os mais
intransigentes servem como crítica infundada e
oca. Portanto, o essencial é o que faremos com as
opiniões que ouvimos sobre nós.
Viktor Frankl criador da logoterapia - terapia baseada
na busca de sentido - propôs como caminho de
crescimento pessoal a quebra da visão pendular entre
auto-aceitação e a aceitação alheia; porque se
dependermos da aceitação alheia iremos sempre colher
frustrações e nossa personalidade será portanto
instável. Por outro lado, se ignorarmos a opinião alheia,
nos isolamos e criamos um tipo de comportamento à
beira da psicose, em que o "outro" não tem valor nem
vez. Diante disso, Frankl sugere a saída para este
dualismo: criar um movimento de ascensão, que
busca uma razão maior que justifique nossa vida e
que nos proporcione felicidade.
YEDRA
importantes. Para os inteligentes servem como meio
de reflexão e auto-conhecimento. Para os mais
intransigentes servem como crítica infundada e
oca. Portanto, o essencial é o que faremos com as
opiniões que ouvimos sobre nós.
Viktor Frankl criador da logoterapia - terapia baseada
na busca de sentido - propôs como caminho de
crescimento pessoal a quebra da visão pendular entre
auto-aceitação e a aceitação alheia; porque se
dependermos da aceitação alheia iremos sempre colher
frustrações e nossa personalidade será portanto
instável. Por outro lado, se ignorarmos a opinião alheia,
nos isolamos e criamos um tipo de comportamento à
beira da psicose, em que o "outro" não tem valor nem
vez. Diante disso, Frankl sugere a saída para este
dualismo: criar um movimento de ascensão, que
busca uma razão maior que justifique nossa vida e
que nos proporcione felicidade.
YEDRA
OLHAR O MUNDO
A característica essencial de uma pessoa amadurecida
e que construiu uma base sólida de idéias sábias e
pertinentes é a sua jovialidade: um traço marcante de
atualidade que consegue mantê-la à vontade num
mundo em constante mudança. Mesmo que se
recuse a ostentar o sorriso complacente e permanente
dos tolos, a pessoa madura atingiu o seu "tamanho" e
sabe o que é possível e o que não é. Yeats a definiria num
simples verso : "... seus velhos olhos brilhantes são
joviais..." - não existe imagem mais perfeita para
traduzir o modo conciliado da maturidade com a
juventude numa mesma pessoa.
YEDRA
e que construiu uma base sólida de idéias sábias e
pertinentes é a sua jovialidade: um traço marcante de
atualidade que consegue mantê-la à vontade num
mundo em constante mudança. Mesmo que se
recuse a ostentar o sorriso complacente e permanente
dos tolos, a pessoa madura atingiu o seu "tamanho" e
sabe o que é possível e o que não é. Yeats a definiria num
simples verso : "... seus velhos olhos brilhantes são
joviais..." - não existe imagem mais perfeita para
traduzir o modo conciliado da maturidade com a
juventude numa mesma pessoa.
YEDRA
ELOGIO DA SOMBRA
A velhice (tal é o nome que os outros lhe dão)
pode ser o tempo de nossa felicidade.
O animal morreu ou quase morreu.
Restam o homem e sua alma.
Vivo entre formas luminosas e vagas
que não são ainda a escuridão.
Buenos Aires,
que antes se espalhava em subúrbios
em direção à planície incessante,
voltou a ser La Recoleta, o Retiro,
as imprecisas ruas do Once
e as precárias casas velhas
que ainda chamamos o Sul.
Sempre em minha vida foram demasiadas as coisas;
Demócrito de Abdera arrancou os próprios olhos para pensar;
o tempo foi meu Demócrito.
Esta penumbra é lenta e não dói;
flui por um manso declive
e se parece à eternidade.
Meus amigos não têm rosto,
as mulheres são aquilo que foram há tantos anos,
as esquinas podem ser outras,
não há letras nas páginas dos livros.
Tudo isso deveria atemorizar-me,
mas é um deleite, um retorno.
Das gerações dos textos que há na terra
só terei lido uns poucos,
os que continuo lendo na memória,
lendo e transformando.
Do Sul, do Leste, do Oeste, do Norte
convergem os caminhos que me trouxeram
a meu secreto centro.
Esses caminhos foram ecos e passos,
mulheres, homens, agonias, ressurreições,
dias e noites,
entressonhos e sonhos,
cada ínfimo instante do ontem
e dos ontens do mundo,
a firme espada do dinamarquês e a lua do persa,
os atos dos mortos,
o compartilhado amor, as palavras,
Emerson e a neve e tantas coisas.
Agora posso esquecê-las. Chego a meu centro,
a minha álgebra e minha chave,
a meu espelho.
Breve saberei quem sou.
JORGE LUIS BORGES
pode ser o tempo de nossa felicidade.
O animal morreu ou quase morreu.
Restam o homem e sua alma.
Vivo entre formas luminosas e vagas
que não são ainda a escuridão.
Buenos Aires,
que antes se espalhava em subúrbios
em direção à planície incessante,
voltou a ser La Recoleta, o Retiro,
as imprecisas ruas do Once
e as precárias casas velhas
que ainda chamamos o Sul.
Sempre em minha vida foram demasiadas as coisas;
Demócrito de Abdera arrancou os próprios olhos para pensar;
o tempo foi meu Demócrito.
Esta penumbra é lenta e não dói;
flui por um manso declive
e se parece à eternidade.
Meus amigos não têm rosto,
as mulheres são aquilo que foram há tantos anos,
as esquinas podem ser outras,
não há letras nas páginas dos livros.
Tudo isso deveria atemorizar-me,
mas é um deleite, um retorno.
Das gerações dos textos que há na terra
só terei lido uns poucos,
os que continuo lendo na memória,
lendo e transformando.
Do Sul, do Leste, do Oeste, do Norte
convergem os caminhos que me trouxeram
a meu secreto centro.
Esses caminhos foram ecos e passos,
mulheres, homens, agonias, ressurreições,
dias e noites,
entressonhos e sonhos,
cada ínfimo instante do ontem
e dos ontens do mundo,
a firme espada do dinamarquês e a lua do persa,
os atos dos mortos,
o compartilhado amor, as palavras,
Emerson e a neve e tantas coisas.
Agora posso esquecê-las. Chego a meu centro,
a minha álgebra e minha chave,
a meu espelho.
Breve saberei quem sou.
JORGE LUIS BORGES
MARCEL PROUST
O amor não pára de preparar seu próprio desaparecimento,
de figurar sua ruptura. Assim é no amor como na morte.
Do mesmo modo que imaginamos estar ainda vivos para ver
cara que farão aqueles que nos perderam, também imaginamos
estar ainda suficientemente apaixonados para gozar a tristeza
daquele que mais amamos. É bem verdade que repetimos nossos
amores passados, mas é verdade que nosso amor atual, em toda
a sua vivacidade, "ensaia" o momento da ruptura ou antecipa
seu próprio fim. Nesse ensaio de um desfecho sofremos de
antemão, sem esquecer uma só, todas as dores de uma ruptura
que em outros momentos julgamos poder evitar.
MARCEL PROUST
de figurar sua ruptura. Assim é no amor como na morte.
Do mesmo modo que imaginamos estar ainda vivos para ver
cara que farão aqueles que nos perderam, também imaginamos
estar ainda suficientemente apaixonados para gozar a tristeza
daquele que mais amamos. É bem verdade que repetimos nossos
amores passados, mas é verdade que nosso amor atual, em toda
a sua vivacidade, "ensaia" o momento da ruptura ou antecipa
seu próprio fim. Nesse ensaio de um desfecho sofremos de
antemão, sem esquecer uma só, todas as dores de uma ruptura
que em outros momentos julgamos poder evitar.
MARCEL PROUST
VIVER O PARADOXO
Vivemos um paradoxo. A vida abre caminhos que levam
a lugar nenhum... o que alcança algum significado é
apenas o caminhar. A possibilidade de escolha se abre,
mas independente de qual seja, o fim da estrada é sempre
o mesmo. Mesmo que sigamos por caminhos alienantes,
distraídos de tudo, perdidos na superficialidade das
coisas, ou se por outro lado, optemos para obter um
esclarecimento contínuo, o fim do caminho é exatamente
o mesmo para todos: a mortalidade a esperar no horizonte.
Embora a alienação seja indissociada da estrutura
ideológica, ela não deve conduzir necessariamente à
descrença acentuada nos significados. Por isso a
escolha em direção à trilha do discernimento
expandido, nos faz ver que mesmo sendo o fim
inevitável, podemos chegar à linha do horizonte
final de forma produtiva: empenhados em refletir
e estar em estado de atenção para tudo aquilo
que se vive.
YEDRA
a lugar nenhum... o que alcança algum significado é
apenas o caminhar. A possibilidade de escolha se abre,
mas independente de qual seja, o fim da estrada é sempre
o mesmo. Mesmo que sigamos por caminhos alienantes,
distraídos de tudo, perdidos na superficialidade das
coisas, ou se por outro lado, optemos para obter um
esclarecimento contínuo, o fim do caminho é exatamente
o mesmo para todos: a mortalidade a esperar no horizonte.
Embora a alienação seja indissociada da estrutura
ideológica, ela não deve conduzir necessariamente à
descrença acentuada nos significados. Por isso a
escolha em direção à trilha do discernimento
expandido, nos faz ver que mesmo sendo o fim
inevitável, podemos chegar à linha do horizonte
final de forma produtiva: empenhados em refletir
e estar em estado de atenção para tudo aquilo
que se vive.
YEDRA
segunda-feira, 17 de março de 2008
A FILOSOFIA
A Filosofia, como qualquer outro produto da inteligência,
não pode nos mostrar idéias de modo direto, que se
traduzam numa compreensão imediata. Os filósofos, em
sua maioria, escreveram seus textos de forma rebuscada
e às vezes hermética, acompanhando o estilo de sua
época, e tinham necessidade de serem dogmáticos em
defesa de suas teorias. Por isso todo o contexto de
idéias filosóficas adquire um tom sério, e muitas vezes,
enigmático. Mas a Filosofia "não deve ser amarga", nem
merecedora de aversão como retórica inútil e ultrapassada.
Os pensadores quiseram organizar os conceitos que
explicassem o mundo, e através deles extraírem uma ética.
Porque precisamos entender o mundo primeiramente, para
aprendermos a viver nele. Mesmo os que nunca entraram
em contato com a Filosofia, deveriam estar conscientes de
que usam muitos conceitos filosóficos em sua vida cotidiana.
A Filosofia nasceu com a vida e nela permanece, como ação
reflexiva da realidade.
YEDRA
não pode nos mostrar idéias de modo direto, que se
traduzam numa compreensão imediata. Os filósofos, em
sua maioria, escreveram seus textos de forma rebuscada
e às vezes hermética, acompanhando o estilo de sua
época, e tinham necessidade de serem dogmáticos em
defesa de suas teorias. Por isso todo o contexto de
idéias filosóficas adquire um tom sério, e muitas vezes,
enigmático. Mas a Filosofia "não deve ser amarga", nem
merecedora de aversão como retórica inútil e ultrapassada.
Os pensadores quiseram organizar os conceitos que
explicassem o mundo, e através deles extraírem uma ética.
Porque precisamos entender o mundo primeiramente, para
aprendermos a viver nele. Mesmo os que nunca entraram
em contato com a Filosofia, deveriam estar conscientes de
que usam muitos conceitos filosóficos em sua vida cotidiana.
A Filosofia nasceu com a vida e nela permanece, como ação
reflexiva da realidade.
YEDRA
HANNAH ARENDT
A suposição de que a identidade de uma pessoa
transcende, em grandeza e importância, tudo o
que ela possa fazer ou produzir é um elemento
indispensável da dignidade humana. Só os
vulgares consentirão em atribuir a sua dignidade
ao que fizeram, em virtude dessa condescendência
serão escravos e prisioneiros das sua próprias
capacidades e descobrirão caso lhes reste algo
mais que mera vaidade, que ser escravo e
prisioneiro de si mesmo é tão ou mais amargo e
humilhante que ser escravo de outrem.
(HANNAH ARENDT)
transcende, em grandeza e importância, tudo o
que ela possa fazer ou produzir é um elemento
indispensável da dignidade humana. Só os
vulgares consentirão em atribuir a sua dignidade
ao que fizeram, em virtude dessa condescendência
serão escravos e prisioneiros das sua próprias
capacidades e descobrirão caso lhes reste algo
mais que mera vaidade, que ser escravo e
prisioneiro de si mesmo é tão ou mais amargo e
humilhante que ser escravo de outrem.
(HANNAH ARENDT)
SOBRE NIETZSCHE
" A grandeza de um artista não se mede pelos "bons
sentimentos" que ele suscita, mas reside no "grande
estilo", quer dizer, na capacidade de "se tornar" senhor
do caos interior; em forçar seu próprio caos a assumir
forma; agir de modo lógico, simples, categórico, tornar-se
lei, eis a grande ambição."
(NIETZSCHE)
Neste texto de Nietzsche pode sutilmente
ser extraído um esboço ético, embora seja difícil encontrar
uma moral, no sentido ético, em Nietzsche. Este conceito
de "grande estilo" se aproxima de um contexto ético, no
sentido de sugerir uma forma de conduta eficiente. Virtude
ou grandeza seria essa capacidade de conciliar as forças
dentro de nosso interior, de modo a ser uma pessoa que age
racionalmente, mas que também sabe usar a sensibilidade.
O ser completo ideal. Isso seria aos olhos de Nietzsche, um
ideal aceitável ( embora ele odeie esta palavra), porque
não é como todos os demais ideais exteriores à vida, imposto
por autoridades seculares.
Quem comete o erro de ver em Nietzsche um anarquista
insano, é incapaz de enxergar o grau de seu humanismo,
capaz de elevar o homem na altura de suas capacidades.
Cabe ao homem fazer de si mesmo um todo tão harmonioso,
que embora em extremos opostos, a razão e a sensibilidade
possam estar em harmonia dentro dele.
YEDRA
sentimentos" que ele suscita, mas reside no "grande
estilo", quer dizer, na capacidade de "se tornar" senhor
do caos interior; em forçar seu próprio caos a assumir
forma; agir de modo lógico, simples, categórico, tornar-se
lei, eis a grande ambição."
(NIETZSCHE)
Neste texto de Nietzsche pode sutilmente
ser extraído um esboço ético, embora seja difícil encontrar
uma moral, no sentido ético, em Nietzsche. Este conceito
de "grande estilo" se aproxima de um contexto ético, no
sentido de sugerir uma forma de conduta eficiente. Virtude
ou grandeza seria essa capacidade de conciliar as forças
dentro de nosso interior, de modo a ser uma pessoa que age
racionalmente, mas que também sabe usar a sensibilidade.
O ser completo ideal. Isso seria aos olhos de Nietzsche, um
ideal aceitável ( embora ele odeie esta palavra), porque
não é como todos os demais ideais exteriores à vida, imposto
por autoridades seculares.
Quem comete o erro de ver em Nietzsche um anarquista
insano, é incapaz de enxergar o grau de seu humanismo,
capaz de elevar o homem na altura de suas capacidades.
Cabe ao homem fazer de si mesmo um todo tão harmonioso,
que embora em extremos opostos, a razão e a sensibilidade
possam estar em harmonia dentro dele.
YEDRA
E.M.CIORAN
Todos os dias necessito minha ração de dúvida. Me alimenta, literalmente.
Nunca houve um ceticismo mais orgânico. E, sem dúvida, todas as minhas
reações são as de um histérico. Dá-me dúvidas e mais dúvidas.
São - mais que meu alimento - minha droga. Não posso prescindir delas.
Estou intoxicado com elas para toda a vida. De modo que quando encontro
uma, a que seja, me precipito sobre ela, a devoro, a incorporo na minha
substância. Pois minha capacidade para assimilá-las - as dúvidas -
é ilimitada; as digiro todas, são minha substância e minha razão de ser.
Não posso imaginar-me sem elas. Dá-me dúvidas, mais e mais dúvidas.
E. M. Cioran
Nunca houve um ceticismo mais orgânico. E, sem dúvida, todas as minhas
reações são as de um histérico. Dá-me dúvidas e mais dúvidas.
São - mais que meu alimento - minha droga. Não posso prescindir delas.
Estou intoxicado com elas para toda a vida. De modo que quando encontro
uma, a que seja, me precipito sobre ela, a devoro, a incorporo na minha
substância. Pois minha capacidade para assimilá-las - as dúvidas -
é ilimitada; as digiro todas, são minha substância e minha razão de ser.
Não posso imaginar-me sem elas. Dá-me dúvidas, mais e mais dúvidas.
E. M. Cioran
SIMPLICIDADE
Simplicidade é a vida sem frases e sem mentiras, sem exagero
e sem ênfases. É viver a vida como se respira, sem esforços
desmedidos, sem perseguir glórias. Simples é a vida sem
grandes efeitos e sem grandes amarguras. Ser simples é
se aceitar e se recusar, sem louvor e sem desprezo.
Simplicidade é despojamento: colher o que acontece, sem
nada guardar de seu. Ser dono de tudo e de nada.
Simplicidade é estar de posse da liberdade de mudar
juntamente com a implacável decisão dos fatos. É ter
leveza e transparência para se mover dentro da complexa
realidade como quem dança uma melodia carregada de
harmonia.
YEDRA
e sem ênfases. É viver a vida como se respira, sem esforços
desmedidos, sem perseguir glórias. Simples é a vida sem
grandes efeitos e sem grandes amarguras. Ser simples é
se aceitar e se recusar, sem louvor e sem desprezo.
Simplicidade é despojamento: colher o que acontece, sem
nada guardar de seu. Ser dono de tudo e de nada.
Simplicidade é estar de posse da liberdade de mudar
juntamente com a implacável decisão dos fatos. É ter
leveza e transparência para se mover dentro da complexa
realidade como quem dança uma melodia carregada de
harmonia.
YEDRA
HENRY MILLER
Em um sentido profundo adiamos a ação para sempre.
Paqueramos o destino e arrulhamo-nos com mitos para
nos adormecer. Morremos com os sofrimentos de nossas
próprias lendas trágicas como aranhas presas em suas teias.
Se há algo que merece ser chamado "obsceno" é esse
confronto fugaz e de relance com os mistérios, esse andar
até a borda do abismo, gozando de todos os êxtases da
vertigem, mas relutando em ceder ao feitiço do desconhecido.
O obsceno possui todas as propriedades da zona oculta.
É tão vasto quanto o próprio inconsciente, e tão amorfo e
fluído como a substância mesma do inconsciente. É o que
vem à tona como algo estranho, embriagado e proibido e que,
portanto, paralisa e seduz quando, tal como Narciso, observa
a nossa imagem diante do espelho da nossa própria
iniqüidade. É bem conhecido por todos e ao mesmo tempo
menosprezadoe rejeitado, razão pela qual aflora sem cessar
com máscaras proteiformes, nos momentos menos esperados.
Quando é reconhecido e aceito, quer como produto da
imaginação, quer como parte integrante da realidade humana,
inspira o mesmo horror e aversão que poderia produzir o
lótus florido que submerge suas raízes no rio que lhe
deu origem.
HENRY MILLER
Paqueramos o destino e arrulhamo-nos com mitos para
nos adormecer. Morremos com os sofrimentos de nossas
próprias lendas trágicas como aranhas presas em suas teias.
Se há algo que merece ser chamado "obsceno" é esse
confronto fugaz e de relance com os mistérios, esse andar
até a borda do abismo, gozando de todos os êxtases da
vertigem, mas relutando em ceder ao feitiço do desconhecido.
O obsceno possui todas as propriedades da zona oculta.
É tão vasto quanto o próprio inconsciente, e tão amorfo e
fluído como a substância mesma do inconsciente. É o que
vem à tona como algo estranho, embriagado e proibido e que,
portanto, paralisa e seduz quando, tal como Narciso, observa
a nossa imagem diante do espelho da nossa própria
iniqüidade. É bem conhecido por todos e ao mesmo tempo
menosprezadoe rejeitado, razão pela qual aflora sem cessar
com máscaras proteiformes, nos momentos menos esperados.
Quando é reconhecido e aceito, quer como produto da
imaginação, quer como parte integrante da realidade humana,
inspira o mesmo horror e aversão que poderia produzir o
lótus florido que submerge suas raízes no rio que lhe
deu origem.
HENRY MILLER
O PENSAR
Pensamos subjetivamente quando nosso ponto de
referência está dentro de nós mesmos; quando nosso
pensamento é dirigido para a expressão de sentimentos,
sensações, desejos e necessidades. Para pensar
objetivamente, o ponto de referência deve deslocar-se
para fora de nós e a compreensão das conexões de
causa e efeito, assim como as relações entre os fatos
não devem ser influenciadas por nossos sentimentos
e desejos pessoais. Os atos são visíveis, enquanto
sentimentos são eventos internos e particulares.
Sentimentos não se comprovam objetivamente e, sendo
assim, não ocupam lugar no pensamento objetivo. Por
isso as palavras nunca conseguirão descrever todos
os graus de emoção que um ser humano é capaz
de experimentar.
YEDRA
referência está dentro de nós mesmos; quando nosso
pensamento é dirigido para a expressão de sentimentos,
sensações, desejos e necessidades. Para pensar
objetivamente, o ponto de referência deve deslocar-se
para fora de nós e a compreensão das conexões de
causa e efeito, assim como as relações entre os fatos
não devem ser influenciadas por nossos sentimentos
e desejos pessoais. Os atos são visíveis, enquanto
sentimentos são eventos internos e particulares.
Sentimentos não se comprovam objetivamente e, sendo
assim, não ocupam lugar no pensamento objetivo. Por
isso as palavras nunca conseguirão descrever todos
os graus de emoção que um ser humano é capaz
de experimentar.
YEDRA
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