EVELYN DE MORGAN

EVELYN DE MORGAN

segunda-feira, 31 de março de 2008

DOMENICO DE MASI

Se nossos avós padeciam do tédio de dias sempre

iguais, nós vivemos a vertigem de instantes sempre

diversos, dilatados, acelerados, nos quais se orientam

somente aqueles que, dotados de sabedoria, sabem

viver com estilo, submetendo e sincronizando os

ritmos frenéticos do mundo aos próprios biorritmos.

Quem não possui essa sabedoria, quem não sabe criar

momentos de pausa é obrigado a longas fugas ilusórias,

em busca de alegrias passageiras.

Mas a felicidade consiste em buscá-la, e quem quer que

a busque, já está de alguma forma a caminho da sabedoria.



( Do Livro O Ócio Criativo - Domenico De Masi)

FILOSOFAR

A palavra filosofia nos remete a alguns preconceitos inevitáveis.

Sugere algo ultrapassado e de natureza enfadonha. Talvez isto

derive do fato de alguns filósofos serem incompreensíveis para

a maioria das pessoas. Mas filosofar é simplesmente fazer os

pensamentos se curvarem em torno de si mesmos, formando

círculos de associações que nos levam a meditar, refletir. Filosofar não

significa encontrar as respostas certas e contentar-se com elas.

Significa fazer sempre de novo as mesmas perguntas e buscar ouutras

respostas, aquelas que venham a nos satisfazer no contexto de vida

que vivemos. As perguntas sim, devem ser essenciais, mas as

respostas devem abranger inovações de idéias, mudança. Eu definiria

filosofia como a evolução constante das idéias, de modo que elas

acompanhassem a vida, que também abarca mudança contínua.


YEDRA

A VONTADE

Somos condicionados por nossa vontade. Schopenhauer

afirmava que a vontade já é a própria ação. É que sempre

estamos desejando coisas. O desejo não realizado gera

insatisfação. Enquanto o desejo satisfeito provoca indiferença.

Assim somos duplamente mobilizados, a ter desejos e a

buscar sua satisfação. Os mais ingênuos ou superficiais,

envolvidos por seus parcos sonhos imediatistas, passam a

vida neste movimento circular: busca - satisfação - insatisfação -

indiferença. Para efetuar escolhas dentro deste ciclo restrito

de visão, é suficiente o simples entendimento do processo

raso da vida. No entanto, se o nível de insatisfação é mais

profundo e os desejos ultrapassam os limites da mobilidade

trivial, é preciso buscar nossas forças latentes e adormecidas

para encontrar os caminhos que dêem maior sentido á vida.



YEDRA

MODERNISMO

Uma das características específicas do modernismo é a de

deixar as indagações humanas soltas e ecoando no nada.

Para Nietzsche e Marx, visionários do que seria os tempos

atuais, as forças da história moderna eram dialéticas e

irônicas: a começar pelo cristianismo que foi desestruturado

em seus dogmas, jogando o ser humano num caos de

ausência de valores, e diante de uma desconcertante

abundância de possibilidades, com as quais ele não

aprendeu a lidar. Mesmo para se tornar singular e dono

de uma identidade sólida, precisamos de leis próprias,

habilidades psicológicas, astúcia intelectual, e uma boa

dose de temeridade. Ninguém consegue andar em terreno

firme, confiando apenas nos próprios passos; sem um

"mapa" que delineie a orientação das intenções. Não

conseguimos dar um passo sozinhos; nossa auto-

suficiência é uma ilusão. Por isso que precisamos sempre

ser escoltados por idéias que expliquem o mundo e que

justifiquem a nossa realidade.

YEDRA

OS INIMIGOS

Quem tem inimigos sabe que eles não representam

apenas um abismo de idéias e sentimentos, que

anula qualquer possibilidade de afinidade. Um

inimigo inteligente nos provoca, nos desafia a

ponto de nos fazer "afiar" todo o nosso arsenal

de recursos mentais e psicológicos para tentar

consolidar nossa posição. Mas há um inimigo

quase invisível e que se esconde dentro de nós

mesmos; este inimigo instala o paradoxo de que

só podemos ser vencidos por nós mesmos -

"o EGO grita, a alma sussurra" - é essencial

portanto, para nossa sanidade e busca de

plenitude, que façamos a alma gritar em certas

batalhas para encobrir a voz exigente do EGO.

YEDRA

OBJETIVIDADE

Se vivemos com objetivos precisos a serem incansavelmente

perseguidos, acabamos por embotar as emoções. Os

estados de espírito constituem o que há me melhor na

vida. Quando não somos escoltados pela emoção, a

beleza da vida se perde. As coisas existem para nós

apenas quando nosso olhar paira sobre elas. E para

ver realmente uma coisa em sua essência é preciso

antes de mais nada destacar-lhe a beleza. Só os

sentidos podem despertar a alma e dar-lhe sua real

dimensão. E a alma retribui, curando os sentidos de

sua disposição superficial e prosaica. Como disse

Oscar Wilde: " nos arruinamos quando investimos de

maneira excessiva na prosa da vida, mas acabar

arruinado pela poesia da vida, é uma honra."

As pessoas presas à sua objetividade dominante

não conseguem expressar-se com desembaraçada

sensibilidade e com isso apenas assistem à vida,

como espectros superficiais e exteriores à sua

essência, carregando um lado semi-morto de si

mesmo, em lamentável estado de adormecimento.

YEDRA

OPINIÕES ALHEIAS

As opiniões que acolhemos a nosso respeito são

importantes. Para os inteligentes servem como meio

de reflexão e auto-conhecimento. Para os mais

intransigentes servem como crítica infundada e

oca. Portanto, o essencial é o que faremos com as

opiniões que ouvimos sobre nós.

Viktor Frankl criador da logoterapia - terapia baseada

na busca de sentido - propôs como caminho de

crescimento pessoal a quebra da visão pendular entre

auto-aceitação e a aceitação alheia; porque se

dependermos da aceitação alheia iremos sempre colher

frustrações e nossa personalidade será portanto

instável. Por outro lado, se ignorarmos a opinião alheia,

nos isolamos e criamos um tipo de comportamento à

beira da psicose, em que o "outro" não tem valor nem

vez. Diante disso, Frankl sugere a saída para este

dualismo: criar um movimento de ascensão, que

busca uma razão maior que justifique nossa vida e

que nos proporcione felicidade.

YEDRA

OLHAR O MUNDO

A característica essencial de uma pessoa amadurecida

e que construiu uma base sólida de idéias sábias e

pertinentes é a sua jovialidade: um traço marcante de

atualidade que consegue mantê-la à vontade num

mundo em constante mudança. Mesmo que se

recuse a ostentar o sorriso complacente e permanente

dos tolos, a pessoa madura atingiu o seu "tamanho" e

sabe o que é possível e o que não é. Yeats a definiria num

simples verso : "... seus velhos olhos brilhantes são

joviais..." - não existe imagem mais perfeita para

traduzir o modo conciliado da maturidade com a

juventude numa mesma pessoa.

YEDRA

ELOGIO DA SOMBRA

A velhice (tal é o nome que os outros lhe dão)
pode ser o tempo de nossa felicidade.
O animal morreu ou quase morreu.
Restam o homem e sua alma.
Vivo entre formas luminosas e vagas
que não são ainda a escuridão.
Buenos Aires,
que antes se espalhava em subúrbios
em direção à planície incessante,
voltou a ser La Recoleta, o Retiro,
as imprecisas ruas do Once
e as precárias casas velhas
que ainda chamamos o Sul.
Sempre em minha vida foram demasiadas as coisas;
Demócrito de Abdera arrancou os próprios olhos para pensar;
o tempo foi meu Demócrito.
Esta penumbra é lenta e não dói;
flui por um manso declive
e se parece à eternidade.
Meus amigos não têm rosto,
as mulheres são aquilo que foram há tantos anos,
as esquinas podem ser outras,
não há letras nas páginas dos livros.
Tudo isso deveria atemorizar-me,
mas é um deleite, um retorno.
Das gerações dos textos que há na terra
só terei lido uns poucos,
os que continuo lendo na memória,
lendo e transformando.
Do Sul, do Leste, do Oeste, do Norte
convergem os caminhos que me trouxeram
a meu secreto centro.
Esses caminhos foram ecos e passos,
mulheres, homens, agonias, ressurreições,
dias e noites,
entressonhos e sonhos,
cada ínfimo instante do ontem
e dos ontens do mundo,
a firme espada do dinamarquês e a lua do persa,
os atos dos mortos,
o compartilhado amor, as palavras,
Emerson e a neve e tantas coisas.
Agora posso esquecê-las. Chego a meu centro,
a minha álgebra e minha chave,
a meu espelho.
Breve saberei quem sou.



JORGE LUIS BORGES

MARCEL PROUST

O amor não pára de preparar seu próprio desaparecimento,

de figurar sua ruptura. Assim é no amor como na morte.

Do mesmo modo que imaginamos estar ainda vivos para ver

cara que farão aqueles que nos perderam, também imaginamos

estar ainda suficientemente apaixonados para gozar a tristeza

daquele que mais amamos. É bem verdade que repetimos nossos

amores passados, mas é verdade que nosso amor atual, em toda

a sua vivacidade, "ensaia" o momento da ruptura ou antecipa

seu próprio fim. Nesse ensaio de um desfecho sofremos de

antemão, sem esquecer uma só, todas as dores de uma ruptura

que em outros momentos julgamos poder evitar.




MARCEL PROUST

VIVER O PARADOXO

Vivemos um paradoxo. A vida abre caminhos que levam

a lugar nenhum... o que alcança algum significado é

apenas o caminhar. A possibilidade de escolha se abre,

mas independente de qual seja, o fim da estrada é sempre

o mesmo. Mesmo que sigamos por caminhos alienantes,

distraídos de tudo, perdidos na superficialidade das

coisas, ou se por outro lado, optemos para obter um

esclarecimento contínuo, o fim do caminho é exatamente

o mesmo para todos: a mortalidade a esperar no horizonte.

Embora a alienação seja indissociada da estrutura

ideológica, ela não deve conduzir necessariamente à

descrença acentuada nos significados. Por isso a

escolha em direção à trilha do discernimento

expandido, nos faz ver que mesmo sendo o fim

inevitável, podemos chegar à linha do horizonte

final de forma produtiva: empenhados em refletir

e estar em estado de atenção para tudo aquilo

que se vive.

YEDRA

segunda-feira, 17 de março de 2008

A FILOSOFIA

A Filosofia, como qualquer outro produto da inteligência,

não pode nos mostrar idéias de modo direto, que se

traduzam numa compreensão imediata. Os filósofos, em

sua maioria, escreveram seus textos de forma rebuscada

e às vezes hermética, acompanhando o estilo de sua

época, e tinham necessidade de serem dogmáticos em

defesa de suas teorias. Por isso todo o contexto de

idéias filosóficas adquire um tom sério, e muitas vezes,

enigmático. Mas a Filosofia "não deve ser amarga", nem

merecedora de aversão como retórica inútil e ultrapassada.

Os pensadores quiseram organizar os conceitos que

explicassem o mundo, e através deles extraírem uma ética.

Porque precisamos entender o mundo primeiramente, para

aprendermos a viver nele. Mesmo os que nunca entraram

em contato com a Filosofia, deveriam estar conscientes de

que usam muitos conceitos filosóficos em sua vida cotidiana.

A Filosofia nasceu com a vida e nela permanece, como ação

reflexiva da realidade.

YEDRA

HANNAH ARENDT

A suposição de que a identidade de uma pessoa

transcende, em grandeza e importância, tudo o

que ela possa fazer ou produzir é um elemento

indispensável da dignidade humana. Só os

vulgares consentirão em atribuir a sua dignidade

ao que fizeram, em virtude dessa condescendência

serão escravos e prisioneiros das sua próprias

capacidades e descobrirão caso lhes reste algo

mais que mera vaidade, que ser escravo e

prisioneiro de si mesmo é tão ou mais amargo e

humilhante que ser escravo de outrem.


(HANNAH ARENDT)

SOBRE NIETZSCHE

" A grandeza de um artista não se mede pelos "bons

sentimentos" que ele suscita, mas reside no "grande

estilo", quer dizer, na capacidade de "se tornar" senhor

do caos interior; em forçar seu próprio caos a assumir

forma; agir de modo lógico, simples, categórico, tornar-se

lei, eis a grande ambição."

(NIETZSCHE)



Neste texto de Nietzsche pode sutilmente

ser extraído um esboço ético, embora seja difícil encontrar

uma moral, no sentido ético, em Nietzsche. Este conceito

de "grande estilo" se aproxima de um contexto ético, no

sentido de sugerir uma forma de conduta eficiente. Virtude

ou grandeza seria essa capacidade de conciliar as forças

dentro de nosso interior, de modo a ser uma pessoa que age

racionalmente, mas que também sabe usar a sensibilidade.

O ser completo ideal. Isso seria aos olhos de Nietzsche, um

ideal aceitável ( embora ele odeie esta palavra), porque

não é como todos os demais ideais exteriores à vida, imposto

por autoridades seculares.

Quem comete o erro de ver em Nietzsche um anarquista

insano, é incapaz de enxergar o grau de seu humanismo,

capaz de elevar o homem na altura de suas capacidades.

Cabe ao homem fazer de si mesmo um todo tão harmonioso,

que embora em extremos opostos, a razão e a sensibilidade

possam estar em harmonia dentro dele.

YEDRA

E.M.CIORAN

Todos os dias necessito minha ração de dúvida. Me alimenta, literalmente.

Nunca houve um ceticismo mais orgânico. E, sem dúvida, todas as minhas

reações são as de um histérico. Dá-me dúvidas e mais dúvidas.

São - mais que meu alimento - minha droga. Não posso prescindir delas.

Estou intoxicado com elas para toda a vida. De modo que quando encontro

uma, a que seja, me precipito sobre ela, a devoro, a incorporo na minha

substância. Pois minha capacidade para assimilá-las - as dúvidas -

é ilimitada; as digiro todas, são minha substância e minha razão de ser.

Não posso imaginar-me sem elas. Dá-me dúvidas, mais e mais dúvidas.



E. M. Cioran

SIMPLICIDADE

Simplicidade é a vida sem frases e sem mentiras, sem exagero

e sem ênfases. É viver a vida como se respira, sem esforços

desmedidos, sem perseguir glórias. Simples é a vida sem

grandes efeitos e sem grandes amarguras. Ser simples é

se aceitar e se recusar, sem louvor e sem desprezo.

Simplicidade é despojamento: colher o que acontece, sem

nada guardar de seu. Ser dono de tudo e de nada.

Simplicidade é estar de posse da liberdade de mudar

juntamente com a implacável decisão dos fatos. É ter

leveza e transparência para se mover dentro da complexa

realidade como quem dança uma melodia carregada de

harmonia.

YEDRA

HENRY MILLER

Em um sentido profundo adiamos a ação para sempre.

Paqueramos o destino e arrulhamo-nos com mitos para

nos adormecer. Morremos com os sofrimentos de nossas

próprias lendas trágicas como aranhas presas em suas teias.

Se há algo que merece ser chamado "obsceno" é esse

confronto fugaz e de relance com os mistérios, esse andar

até a borda do abismo, gozando de todos os êxtases da

vertigem, mas relutando em ceder ao feitiço do desconhecido.

O obsceno possui todas as propriedades da zona oculta.

É tão vasto quanto o próprio inconsciente, e tão amorfo e

fluído como a substância mesma do inconsciente. É o que

vem à tona como algo estranho, embriagado e proibido e que,

portanto, paralisa e seduz quando, tal como Narciso, observa

a nossa imagem diante do espelho da nossa própria

iniqüidade. É bem conhecido por todos e ao mesmo tempo

menosprezadoe rejeitado, razão pela qual aflora sem cessar

com máscaras proteiformes, nos momentos menos esperados.

Quando é reconhecido e aceito, quer como produto da

imaginação, quer como parte integrante da realidade humana,

inspira o mesmo horror e aversão que poderia produzir o

lótus florido que submerge suas raízes no rio que lhe

deu origem.



HENRY MILLER

O PENSAR

Pensamos subjetivamente quando nosso ponto de

referência está dentro de nós mesmos; quando nosso

pensamento é dirigido para a expressão de sentimentos,

sensações, desejos e necessidades. Para pensar

objetivamente, o ponto de referência deve deslocar-se

para fora de nós e a compreensão das conexões de

causa e efeito, assim como as relações entre os fatos

não devem ser influenciadas por nossos sentimentos

e desejos pessoais. Os atos são visíveis, enquanto

sentimentos são eventos internos e particulares.

Sentimentos não se comprovam objetivamente e, sendo

assim, não ocupam lugar no pensamento objetivo. Por

isso as palavras nunca conseguirão descrever todos

os graus de emoção que um ser humano é capaz

de experimentar.

YEDRA